Começo esse texto lançando a pergunta: será que ainda há espaço para os filmes brucutus no cinema de hoje? Nos últimos anos, os filmes de super-heróis têm tomado conta da ação e o que mais se aproxima daquelas produções cheias de testosterona dos anos 80 são os Velozes e Furiosos e John Wick, que souberam se adaptar aos dias de hoje com cenas de ação bem coreografadas e direção estilosa. Os filmes de “tiro, porrada e bomba” perderam espaço.
Um dos personagens que ajudou a manter o gênero da ação em alta foi Rambo, que volta aos cinemas 11 anos após o quarto capítulo de uma franquia que começou em 1982 e que mesmo após sucessivos fracassos consegue resistir ao tempo muito graças ao seu intérprete: Sylvester Stallone. E é com um roteiro assinado por ele e por Matthew Cirulnick que finalmente o ícone de uma época parece encontrar seu capítulo final, ou seu Last Blood, neste Rambo: Até o Fim.
Após os eventos de Rambo IV, de 2008, agora o ex-boina verde vive pacificamente no rancho em que nasceu, próximo à fronteira entre Estados Unidos e México, com a companhia caridosa de Maria (Adriana Barraza) e as visitas constantes da jovem Gabrielle (Yvette Monreal), filha de uma pessoa importante em seu passado e que Rambo tem como sobrinha.
Na trama, Gabrielle se envolve com pessoas que não deveria e é sequestrada por um cartel mexicano. Este é o gatilho para que Rambo junte suas armas para se vingar do grupo. Após cruzar a fronteira e servir de isca viva, Rambo retorna ao rancho – não sem antes fazer algumas vítimas – e prepara as armadilhas para recebê-los da maneira que esperamos ver: com muita violência, ossos quebrados, sangue jorrando e muito gore.
O que poderia remeter uma volta às origens como em 007 – Operação Skyfall – só pra citar outra figura masculina icônica – logo se revela um desperdício de ideias numa trama clichê, xenofóbica e de violência gráfica extrema que não o salvam de ser apenas mais um filme brucutu no meio de tantos outros, a diferença agora é a época em que ele é lançado, o que acaba sendo problemático.
É de se espantar que, em pleno 2019, Stallone e o diretor Adrian Grunberg (Plano de Fuga) achem plausível colocar o herói (ou anti-herói) para enfrentar mexicanos de um cartel de drogas, retratando-os como vilões a serem exterminados da face da Terra, assim como era feito com os indígenas ao enfrentarem John Wayne nos faroestes antigos. Claro que não dá pra esperar subtextos complexos em um filme de ação brucutu, logicamente o roteiro é um fiapo, mas há coisas que hoje em dia não funcionam mais, não é a toa que o gênero e esses ícones praticamente entraram em extinção. É preciso se reinventar.
Apesar dos pesares, a história gera alguns momentos nostálgicos, principalmente no violento ato final onde vemos Rambo empunhando seu arco e flecha e eliminando os mexicanos – coitados – um a um. É por esses lampejos que o filme tenta se sustentar – e até pode empolgar os fãs mais saudosistas -, mas, assim como seu protagonista, Rambo: Até o Fim se mostra uma história ultrapassada.
Ao final, de pouco vale a violência gráfica – que soa excessiva e desmedida (assim como já acontecera no capítulo anterior) – se a história é frágil e a vingança é banalizada sem uma carga dramática que a sustente. O final de Rambo é melancólico, talvez fosse melhor deixar o personagem descansando. Existem histórias que não precisam de um final.
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