Review | Sete Homens e um Destino

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Sete Homens e um Destino não salva o faroeste

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Já se disse que as únicas formas de arte originais dos EUA eram o jazz e o western. O primeiro ocupa um nicho de mercado cada vez mais reduzido, enquanto o segundo morreu na primeira metade da década de 90, quando Dança com Lobos e Os Imperdoáveis ganharam o Oscar.

O remake de Sete Homens e um Destino, atualmente em cartaz e dirigido por Antoine Fuqua, é mais uma tentativa de reviver o gênero. Curiosamente, o original de 1960, de John Sturges, já era uma refilmagem de Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa, que por sua vez, se inspirou nos westerns americanos.

Nesta versão, que tem como roteiristas Richard Wenk (que fez O Protetor com Fuqua) e Nic Pizzolatto (criador do ótimo True Detective), uma típica cidadezinha do Velho Oeste é ameaçada pela cobiça de um inescrupuloso empresário de mineração, Bartholomew Bogue (Peter Sasgard, vilão em Lanterna Verde, Encontro Explosivo e Plano de Voo), que contrata mercenários como um exército particular, bem diferente das versões de Sturges e Kurosawa, em que camponeses – mexicanos, no filme americano – que eram saqueados todos os anos por bandidos é que contratavam os sete guerreiros para defendê-los (outro filme inspirado nessa história é Vida de Inseto, da Pixar).

Peter Sasgard vive o inescrupuloso empresário de mineração Bartholomew Bogue

Denzel Washington é o caçador de recompensas Sam Chisolm, que será líder dos sete magníficos, em papel que foi anteriormente de Takashi Shimura e Yul Brynner. Diferente destes, ele tem razões pessoais para aceitar o trabalho oferecido pela viúva Emma Cullen (papel de Haley Bennet, que já havia trabalhado com Denzel e Fuqua em O Protetor), que se torna líder da comunidade oprimida após o assassinato do marido.

De cara, Chisolm recruta o jogador de pôquer Josh Faraday (Chris Pratt, quase repetindo o papel de Steve McQueen em 1960) e o envia para contatar o atirador confederado Goodnight Robicheaux (Ethan Hawke, que trabalhou com Denzel e Fuqua em Dia de Treinamento), que leva consigo o atirador de facas asiático Billy Rocks (Byun-hun Lee, o T-1000 de O Exterminador do Futuro: Gênesis). Chisolm e Emma recrutam o fora da lei mexicano Vasquez (Manuel Garcia Rufo, em papel que seria de Wagner Moura, se ele não tivesse aceitado Narcos). Em seguida, o grupo encontra o rastreador Jack Horne (Vincent D’Onofrio, o Wilson Fisk do Demolidor da Netflix) e o índio Red Harvest – Colheita Vermelha – papel de Martin Sensmeier.

Chegando à cidade de Emma, acontece o primeiro round, e a partir daí começa o trabalho para convencer os moradores a resistir e prepará-los minimamente para a guerra que virá. Em Os Sete Samurais, Shimura sabe exatamente quantos terá que eliminar (cerca de 40). No western de Sturges, a contagem de corpos chega a 55, incluindo três dos sete, camponeses e bandidos. Nesta nova versão, a matança é no nível dos filmes de Schwarzenegger e Stallone nos anos 80/90.

Emma Cullen (Haley Bennet) e Josh Faraday (Chris Pratt) treinando para o confronto

Uma concessão aos tempos atuais, em que estamos anestesiados pela exposição à violência, assim como a diversidade dos protagonistas – que inclui um negro, um mexicano, um índio e um chinês –, a presença da forte figura feminina representada pela jovem viúva Emma (que um crítico achou a cara de Jennifer Lawrence) e o deslocamento do eixo do mal de bandidos comuns para o capitalismo selvagem. Corporações desalmadas capazes de tirar famílias americanas de seus lares é algo com que a América pós-crise de 2008 é capaz de se identificar.

Com um ótimo elenco e um diretor que sabe o que faz, acaba sendo um bom produto de entretenimento, mas fica longe de ressuscitar o gênero western, em bom português, faroeste ou, melhor ainda, bangue-bangue. Os clichês se amontoam, assim como a previsibilidade, e os dramas e motivações pessoais dos pistoleiros são meramente pincelados (menos para Chilsom), resultando num divertido filme-pipoca, mas muito pouco memorável.

Muito diferente de Os Sete Samurais, considerado por muitos o primeiro filme de ação moderno e um dos melhores de todos os tempos; e Sete Homens e um Destino de Sturges, que embora tenha alcançado uma bilheteria fraca em seu lançamento nos EUA, virou um grande hit na Europa, onde certamente contribuiu para a posterior explosão do western-spaghetti. Tudo isso sem falar no tema principal, que imediatamente evoca o Velho Oeste, graças à Marlboro.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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