Algumas ideiais são difíceis de se esquecer e permanecem em nosso subconsciente, buscando o tempo todo uma brecha para retornar à pauta. Em Hollywood, estas ‘ideias’ podem ser roteiros elogiados que aguardam seu momento ou mesmo franquias que, por mais que pareçam esquecidas, acabam ganhando novas chances.
Em cartaz no Topázio Cinemas e em todo Brasil, Tron: Ares é o terceiro capítulo da franquia do qual a Disney não quer se despedir. Ainda bem.
Se em 1982 Tron: Uma Odisseia Eletrônica ultrapassou as fronteiras da imaginação – e dos efeitos especiais para a época – colocando o programador de games Kevin Flynn (Jeff Bridges) nos holofotes, em Tron: O Legado (2010), o ainda novato diretor Joseph Kosinski (Top Gun: Maverick e Fórmula 1) tentou recolocá-lo nas manchetes com uma história emocional, que envolvia seu filho Sam (Garrett Hedlund).
Apesar de bem feito e com efeitos de qualidade, o público não se reconectou com a história da família Flynn, colocando a franquia em um novo hiato. Até agora.
IA versus mundo real
O debate sobre a importância e os limites da Inteligência Artificial tem aumentado cada vez mais. Até onde podemos ir para não perdermos nossa própria autonomia? Tron: O Legado vai além e pergunta: até onde devemos ir para que não sejamos subjulgados?
Tudo começa quando Julian Dillinger (Evan Peters) quebra a barreira entre real e virtual e consegue ‘imprimir’ elementos da Grade, o mundo virtual de Tron, colocando-os a seu dispor. Porém, estes guerreiros e máquinas sobrevivem apenas por um breve período de tempo em nosso mundo.
É quando ficamos sabendo que existe uma disputa pelo ‘código de permanência’, criado por Kevin Flynn nos anos 80, mas ainda não encontrado. Até que Eve Kim (Greta Lee) finalmente resolve o mistério.
Para colocar as mãos no código, Julian traz seu Master Control ao mundo, o programa Ares (Jared Leto), guerreiro e líder da Dillinger na Grade.
Porém, o que ele não imagina é o improvável: Ares está questionando a própria programação e deseja libertar-se das amarras da Grade. Para tanto, precisa se unir a Eve e confrontar Athena (Jodie Turner-Smith), sua imediato, que leva sua programação – e as ordens que recebe – ao extremo.
Efeitos, 3D e trilha sonora
A direção de Joachim Rønning (Malévola: Dona do Mal e Piratas do Caribes: A Vingança de Salazar) é segura e eficiente, e aposta nos efeitos especiais de ponta e na trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, do Nine Inch Nails, vencedores do Oscar por A Rede Social (2011) e Soul (2021), da Pixar.
Sua mistura de rock industrial e eletrônico cai como uma luva nos alto-falantes da Grade. O mesmo não se pode dizer do roteiro de Jesse Wigutow (Acontece nas Melhores Famílias), com história de David DiGilio, baseada nos personagens criados por Steven Lisberger e Bonnie MacBird.
A história do guerreiro que quer ser um homem de verdade pode não convencer muita gente, mesmo com Jared Leto se esforçando para provar sua vontade de ser alguém ‘real’. Some a isso algumas decisões fáceis, como o antagonismo de Athena e a herança de Eve Kim e temos um roteiro raso, amparado por tecnologia de ponta.
E é aqui que Tron: Ares avança. Observar o mundo da Grade e sua incursão ao mundo real é impressionante. Assisti ao filme em uma sala 3D e o resultado é ainda melhor, principalmente nas cenas envolvendo a realidade virtual.
Se você é fã de ficção científica, de um bom filme de ação, ou de ambos, Tron: Ares é para você. Se você é fã da franquia, então receberá uns easter eggs ainda mais legais, como a participação de Jeff Bridges e o retorno ao mundo original de Uma Odisseia Eletrônica.
Por tudo isso, Tron: Ares deve ser visto na tela grande e com som no volume máximo. Esqueça os furos no roteiro e embarque nesta viagem rumo ao mundo virtual da Grade.
#SPOILERS#
Comentários pós-crédito: seguindo os passos de outras franquias, Tron: Ares possui duas cenas importantes ao final, uma delas em meio aos créditos. Na primeira, vemos Ares investigando o paradeiro de Quorra (Olivia Wilde), a ISO que sobreviveu aos eventos de Tron: O Legado.
Na segunda, após transferir-se para a Rede, Julian Dillinger se apossa de seu disco de identidade e um nome é sussurado: Sark. Para quem não se lembra, este é o vilão de Uma Odisseia Eletrônica, contraparte digital de Ed Dillinger, avô de Julian.
Ou seja, os três filmes, enfim, devem se encontrar. Resta saber quanto tempo vai demorar para acontecer.