4 out 2025, sáb

O novo filme de Paul Thomas Anderson, de Sangue Negro e Magnólia, estreou no Brasil esta semana e já está considerado por grande parte da crítica como sério candidato ao Oscar. Uma Batalha após a Outra se passa numa alegoria dos Estados Unidos, em que pelo menos um grupo armado combate o governo americano com luta armada – como chegou a acontecer nos anos 1960, com os Panteras Negras e The Weathermen – e o estado prende imigrantes em campos de concentração – como acontece hoje, na América de Donald Trump.

O French 75 é liderado por Perfídia Beverlly Hills, cujo prenome já é um spoiler, vivida de forma sexualmente agressiva por Teyana Taylor (Mil e Um). Ela sente prazer em subjugar homens brancos, como seu parceiro Bob Foster/Ghetto Pat (Leonardo Di Caprio) e o militar linha-dura capitão Steven J. Lockjaw, um Sean Penn candidatíssimo ao Oscar e Coadjuvante. Pouco depois do nascimento de sua filha Willa, um assalto a banco dá errado. Perfídia é presa, o French 75 é desmantelado e Bob vai para a clandestinidade com a fila Willa.

Dezesseis anos depois, Lockjaw, agora coronel, torna-se estrela ascendente das forças de repressão e recebe um convite de um clube exclusivo de homens brancos e poderosos dedicados a manter seu status quo. Ele percebe que existe um detalhe em seu currículo que pode comprometer essa honraria, e usa os recursos a seu dispor para corrigí-lo.

Nesse ínterim, Bob se afunda na autocomiseração por causa de Perfidia e passa os dias consumindo quantidades indecentes de drogas, Willa – a novata Chase Infiniti, que já fez Acima de Qualquer Suspeita – se torna uma adolescente forte, confiante, popular e prestes a descobrir o peso de sua herança.

Quando as tropas de Lockjaw avançam para matar Bob e capturar Willa, quem salva a menina é Deandra (Regina Hall, de Nove Desconhecidos), uma antiga militante do French 75. Bob tem que se virar quando sua casa é invadida, e pede ajuda ao sensei de caratê da filha, Sergio St, Carlos (Benicio Del Toro), que na verdade é líder de uma organização que protege imigrantes latinos.

Em sua primeira incursão ao cinema de ação, Anderson se sai extraordinariamente bem, com cenas de perseguição – a última, numa estrada cheia de aclives e declives, vai virar referência cinematográfica – cenas de embates muito boas – especialmente a que acontece entre as tropas de Lockjaw e a comunidade da cidade-santuário de Baktan Cross, que parece saída do noticiário. Isso, de fato, torna o filme alinhado com o zeitgeist do momento, um roteiro que parece ter sido feito agora, quando sabemos que esse tipo de projeto leva anos até chegar à telona.

Di Caprio está ótimo como o ex-guerrilheiro desiludido que as circunstâncias forçam a retomar os antigos contatos, mesmo que as drogas tenham fritado seu cérebro. Mas numa eventual corrida ao Oscar, quem deve ser indicado é Sean Penn como coronel Lockjaw, com suas contradições em ser cão de guarda do establishment e seu fetiche por mulheres negras – e dominadoras. Del Toro faz uma versão divertida de um mestre zen em contraste com o desespero de Bob/Di Caprio, e parece ter tudo sob controle mesmo diante de aparentes becos sem saída

Teyona Taylor domina a cena enquanto está presente, e faz falta no restante do filme. Chase Infiniti faz uma ótima Willa, e deve consolidar seu nome da indústria como jovem promessa. Outras escolhas interessantes para o elenco é Tony Goldwin, o presidente sacana de Scandal e amigo da onça em Ghost, que é o protótipo do macho alfa branco MAGA; e Alana Haim, a estrela de Licorice Pizza, a quem o diretor deve ter escalado como um easter egge e um favor para sua protegée.

Há referências a A Batalha de Argel, de Gillo Pontecorvo, sobre a luta entre guerrilheiros argelinos e paraquedistas franceses; a perseguição de carro em primeira pessoa cheia de altos e baixos de Bullit (só que no filme com Steve McQueen eram as ruas de São Francisco) e o final que ecoa Os Bons Companheiros, de Martin Scorcese, mas só entendedores entenderão.

Apesar de também achar Uma Batalha Após a Outra um candidato ao Oscar, para mim, ele está distante do melhor de Paul Thomas Anderson, como Magnólia, Sangue Negro, ou mesmo o subertimado Trama Fantasma. Mas é um obra que deve ser vista e debatida pelos amantes do cinema por sua atualidade e subentendidos.

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