Review | Vingança & Castigo (Netflix)

Vingança & Castigo chegou recentemente à Netflix cercado de expectativas graças a seu elenco, formado por Idris Elba (o Heimdall de Thor), Regina King (Oscar de Atriz Coadjuvante por Se a Rua Beale Falasse), Jonathan Majors (protagonista de Lovecraft Country), Zazie Beetz (a Domino de Deadpool 2), Lakieth Stanfield (Judas e o Messias Negro) e o veterano Delroy Lindo (que merecia pelo menos uma indicação da Academia por Destacamento Blood), entre outros.

O diretor inglês Jeymes Samuel resolveu reunir personalidades afrodescendentes que fizeram história no Velho Oeste e reuni-las em um filme cheio de estilo (às vezes, até demais).

Assim, o ex-escravizado, cowboy e escritor Nat Love (Majors) vira um pistoleiro em busca de vingança contra o líder de quadrilha (como foi o verdadeiro) Rufus Buck (Elba, sempre impressionante), que tem entre seus integrantes Cherokee Bill (Stanfield), que na verdade era parte nativo americano.

A pioneira do serviço postal a cavalo (daí o apelido Stagecoach, ou diligência), Mary Fields (Beetz), se torna uma espevitada dona de saloon. E o mais conhecido de todos, Bass Reeves (Lindo), único delegado federal negro a oeste do Mississioi, que alguns dizem ser a inspiração para o Lone Ranger (no Brasil, o Zorro do Tonto).

Regina King, Idris Elba e Lakeith Stanfield em cena do western

O diretor Samuel é fã de western spaghetti e também de Quentin Tarantino, e essa é uma qualidade e também um problema do filme, sublinhada pela sequência do trem, em que a preocupação com o estilo se torna mais importante que a história em si. Além disso, marca a insistência em retratar todos os brancos como idiotas e covardes, numa óbvia inversão do cinema americano tradicional. Não é empoderador: é tolo.

Apesar de seguir a cartilha moderna, suas mulheres acabam caindo nos clichês: a independente Mary de Zazie Beetz vira a donzela em perigo e a ótima Regina King passa o tempo fazendo caras e bocas de má, à exceção da cena em que conta uma historinha pessoal (mas é pouco para uma atriz tão boa).

A exceção é Cuffeee, da menos conhecida Danielle Deadwyler (que fez um pequeno papel na minissérie Watchmen, justamente como avó da personagem de Regina King), um personagem não-binário inspirado em Cathay Williams, uma mulher que se disfarçou de homem para entrar para o Exército Americano sob o nome de William Cathay.

Jonathan Majors e Delroy Lindo integram elenco do faroeste

Se você superar todos esses problemas será recompensado por uma câmera criativa, enquadramentos à la Sergio Leone, fotografia deslumbrante e um dos finais mais sensacionais e surpreendentes dos últimos tempos, sustentado com louvor por Elba e Majors.

A trilha musical é outro destaque positivo. Mais conhecido no Reino Unido como The Bullits, compositor e produtor musical, que foi parceiro de Jay-Z na trilha de O Grande Gatsby e irmão do cantor Seal, Samuel compôs a música de seu filme, com muito reggae, dub e rap.

Ao homenagear esses heróis e heroínas afro-americanos, o cineasta/músico quer criar uma alternativa à mitologia consagrada do Velho Oeste, que durante décadas foi exclusividade de homens e mulheres brancos, com eventuais peles vermelhas.

Tanto é que fica aberta a continuidade desse universo, como é insinuada no último frame.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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