O Telecine Cult vai abrir o mês de setembro em grande estilo com a saga de uma das famílias mais tradicionais dos cinemas, a Corleone. Com 46 anos de sucesso na bagagem, a trilogia premiada de O Poderoso Chefão invade o sábado, 1º de setembro, a partir das 15h20, reunindo estrelas desde a direção, de Francis Ford Coppola, ao elenco, com Marlon Brando, Al Pacino, Robert De Niro, Diane Keaton, Robert Duvall e Andy Garcia.
Para brindar essa maratona, recrutamos nosso especialista em clássicos, o jornalista Marcos Kimura, fundador do Cineclube Indaiatuba ao lado de Antonio da Cunha Penna, para analisar a importância da trilogia para a história do cinema mundial.
O Poderoso Chefão – A Trilogia
O Telecine Cult promove uma maratona de O Poderoso Chefão neste sábado, 1º de setembro. Trata-se, de longe, da melhor e mais importante trilogia do cinema – sorry, fanáticos por Star Wars e O Senhor os Anéis –, que construiu a carreira do diretor Francis Ford Coppola, de Al Pacino, Robert de Niro e Andy Garcia, além de consagrar Marlon Brando como o maior ator americano.
E tudo poderia ter sido muito diferente. A trama poderia ter sido atualizada para o tempo presente ao invés da virada entre os anos 40 e 50; don Vito Corleone poderia ter sido interpretado por Laurence Olivier; Michael seria Robert Redford e o filme correu o risco de ser mais curto, eliminando grande parte do que hoje é considerado icônico.
Como foi então que uma produção tão improvisada e cheia de percalços se tornou o melhor filme já feito, na opinião de Stanley Kubrick? É um daqueles casos em que a associação entre diretor e produtor (Robert Evans), mesmo com discordâncias, geram uma sinergia inesperada. A história de uma família da Máfia, que era o romance de Mario Puzzo, se converteu numa fábula sobre o capitalismo americano. Frases como “vou fazer uma oferta que ele não poderá recusar” e “deixe a arma, pegue o cannoli” entraram para a cultura pop do século XX.
A sequência era tão natural que seu planejamento começou antes mesmo do lançamento de O Poderoso Chefão. Só não imaginavam que seria a continuação de um sucesso de bilheteria vencedor do Oscar.
Além disso, Coppola não poderia contar com Brando, que brigou com a produção por causa de dinheiro. Mas, ao fazer o casting para interpretar o jovem Vito Corleone, se deparou com um desconhecido Robert De Niro, que uma vez escolhido, se dedicou a aprender siciliano com a mesma dedicação que o tornaria um dos maiores atores de Hollywood.
Além de prosseguir com a trajetória de Michael Corleone, Coppola também contaria como Vito se tornou o Poderoso Chefão, em duas narrativas que se alternam durante as mais de três horas de projeção. Na época do VHS, houve o lançamento de um box com os filmes I e II editados pelo próprio Coppola na orem cronológica dos acontecimentos. Pena que era dublado…
Por isso, há quem considere a continuação melhor que o original. Eu discordo, mas o certo é que ambos são geniais, e sozinhos bastariam para consagrar Coppola como gênio (e o homem ainda faria Apocalipse Now…).
Nunca odeie seus inimigos
Vinte e seis anos se passam até O Poderoso Chefão III, sem dúvida, o “menos bom” da trilogia, mas ainda assim, um filmaço (o único que vi no cinema). Com todas as reservas em relação a este desfecho, algumas das mais famosas frases da saga de Michael Corleone saíram daqui, tal como “quando achei que tinha caído fora, eles me puxam de volta!” ou “nunca odeie seus inimigos; afeta o julgamento”.
Se os filmes anteriores havia consagrado a santíssima trindade dos atores ítalo-americanos (Brando-Pacino-De Niro), desta vez seria a vez de um cubano se tornar famoso como um Corleone. Andy Garcia esbanjou seu charme mortífero como Vincent, filho bastardo de Sonny, que se torna o herdeiro ungido do tio, e aí entra em cena um dos aspectos mais polêmicos da produção, que foi a escalação de Sophia Coppola como Mary.
O papel seria de Winona Ryder, que preferiu fazer Edward Mãos de Tesoura. A troca deu uma dimensão diferente à trama: com a bela Winona, o romance com o primo tinha ecos de Romeu e Julieta; mas com a sem graça Sophia, a suspeita de que Vincent a seduziu apenas para se aproximar do tio e subir na hierarquia da família faz mais sentido. No entanto, Francis Ford Coppola foi acusado de nepotismo e de estragar o filme.
Se Al Pacino havia sido injustiçado no Oscar pelas atuações nas partes I e II (foram quatro indicações seguidas, incluindo por Serpico e Um Dia de Cão), desta vez ele foi tungado na cara dura: nem foi lembrado pela Academia. Ele teve duas décadas para maturar o personagem, surgindo em cena como o retrato de um homem poderoso mas infeliz, assombrado pelos crimes que cometeu em nome da família. O clímax nas escadarias da ópera, com seu grito parado no ar, é arrepiante. Eu quase aplaudi sozinho no cinema quase vazio.
Se você ainda não viu, é uma oportunidade e tanto, especialmente se não tiver programa melhor no sábado.
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