Casa de Dinamite de Kathryn Bigelow (Guerra contra o Terror), foi lançado nos cinemas, mas logo em seguida entrou para o catálogo da Netflix, aparentemente para credenciá-lo para o Oscar. O filme remete a dois outros lançados em 1964, Doutor Fantástico e Limite de Segurança. As duas produções foram feitas no clima de paranóia nuclear surgida a partir da Crise dos Misseis em Cuba, dois anos antes. Voltamos à Guerra Fria?
Bigelow cria um suspense realista, contada a partir de diversos pontos de vista. Primeiro, na perspectiva da capitã Olivia Walker (Rebecca Ferguson, que curiosamente estrela uma série pós-apocalíptica, Silo, que bem poderia ser o século seguinte deste filme), que trabalha na sala de crises da Casa Branca. Um míssil surge não se sabe de onde, colocando o sistema de defesa americano em alerta. O que parece ser mais um teste da Coreia do Norte ou China, de repente se mostra uma ameaça real ao território dos EUA, mais especificamente à cidade de Chicago, com quase 10 milhões de habitantes.
O drama da trajetória do míssil é retomado pela perspectiva do vice-consultor Nacional de Segurança, Jake Baerington (Gabriel Basso, de O Agente Noturno), que tem que assumir o lugar do chefe e convencer o presidente e demais membros do conselho a não retaliar antes de saber o que está acontecendo; do secretário de Defesa Reid Baker (Jared Harris, de Chernobyl), que além das consequências nacionais do desastre iminente, tem que enfrentar um drama pessoal; e finalmente o presidente dos Estados Unidos (Idris Elba), que diante do dilema do que fazer, se aconselha com todos a quem possa recorrer, da analista Ana Park (Greta Lee,de Vidas Passadas) à sua própria esposa (Renée Elise Goldsberry, de Hamilton), que está na África numa missão. Outros atores conhecidos aparecem, como Jason Clarke (A Hora Mais Escura), como o chefe de Olivia; e Kaitlyn Dever (The Last of Us), como Caroline, a filha do secretário Baker.
Em Limite de Segurança e Doutor Fantástico era os EUA que atacavam inadvertidamente a URSS: o primeiro, por uma falha de computador e, no segundo, por conta de um comandante que enlouquece. Nos dois, o presidente dos EUA tenta desesperadamente evitar uma guerra nuclear contra os russos, mas no segundo, o general interpretado por George C. Scott (que futuramente ganharia o Oscar como Patton), quer aproveitar o incidente para atacar o inimigo antes que eles possam reagir. Praticamente o mesmo argumento é usado pelo general Brady (Tracy Leats, de Lady Bird: A Hora de Voar) em Casa de Dinamite. Quando o presidente reage à proposta dizendo que é loucura, ele responde: não, é a realidade.
O roteiro de Noah Oppenheim (curiosamente, um dos criadores de Dia Zero) é que é realista: como reagir a um ataque quando não se sabe quem é o responsável. Ao contrário da Guerra Fria, não há apenas mais uma superpotência nuclear, hoje há mas pelo menos mais duas, Rússia e China, além do estado cachorro-louco, que é a Coréia do Norte. E a capacidade de derrubar o míssil no ar também é uma incerta: o equivalente a acertar uma bala com outra. Com toda a tecnologia envolvida, o índice de acerto é de 61% (segundo algumas fontes, até menos…). Se os filmes dos anos 80 citados eram distopias mais para o improvável, Casa de Dinamite soa inquietantemente plausível.