Dias Perfeitos, que entrou recentemente no catálogo da Netflix, foi o filme indicado pelo Japão para concorrer ao Oscar de Filme Internacional no ano passado, mas que foi dirigido pelo alemão Wim Wenders. Para quem não sabe, o diretor é um dos três ´pilares do Novo Cinema Alemão, junto com Rainer Werner Fassbinder e Werner Herzog. Entre suas obras mais conhecidas estão Paris, Texas (1984) – que está retornando aos cinemas e restauração 4K – , Asas do Desejo (1987) e O Amigo Americano (1977). Em Tokyo-Ga (1965), já havia homenageado seu ídolo Yasujiro Ozu, o mestre japonês do cinema do cotidiano e das sutilezas, mas era um documentário. Aqui, ele filma a metrópole japonesa no século XXI com um olhar de quem cresceu assistindo Era Uma Vez em Tóquio e Também Fomos Felizes.
O roteiro escrito por Wenders e Takuma Takasaki, conta a vida de Hirayama, um faxineiro de banheiros públicos de Tóquio, que vive sozinho com suas plantas, fazendo seu trabalho metodicamente, tendo como hobby fotografar árvores com filmes analógicos, colecionar fitas cassetes com músicas americanas antigas e ler antes de dormir. Ele é interpretado por Kôji Yakusho, que ganhou o prêmio e Melhor Ator no Festival de Cannes pelo papel.
Sua rotina só é atrapalhada quando seu subordinado Takashi (Tokyo Emoto) quer vender suas fitas cassetes para poder ter dinheiro para namorar; com a visita da sobrinha adolescente Niko (Arisa Nakano), por meio da qual ficamos sabendo que ele tem uma família burguesa que não vê há anos; e quando flagra a dona do bar que frequenta abraçada com o ex-marido.
Apesar de viver sozinho e sem perspectivas de futuro, Hirayama é feliz em seu cotidiano minimalista, desfrutando dos pequenos prazeres da vida que ´podem ser um banho quente, um lamen, ou uma música que escolhe enquanto dirige seu furgão de trabalho. A certa altura, quando Niko pergunta quando poderão ir à praia, ele responde “depois”. A garota iniste, “mas quando?”, ele responde da mesma forma, e acabam fazendo um haikai “ima, ima” (agora é agora), “kondo wa kondo” (depois é depois), resumindo sua filosofia de vida: viver o momento, sem esperar nada do depois.
A fotografia de Franz Lustig explora a locações de Tóquio, como os banheiros públicos de paredes transparentes, que ficam opacos quando alguém entra; o corre-corre da cidade grande em contraste com o modo zen do protagonista. O filme termina com Hirayama dirigindo e escutando Feeling Good, de Nina Simone, música muito usada em trilhas de cinema, mas que aqui se torna um fechamento perfeito.

