Rian Johnson (Rogue One: Uma História Star Wars) conseguiu emplacar uma franquia de whodonit, nome em inglês para histórias policiais no estilo Arthur Conan Doyle e Agatha Christie. No caso, seu Benoit Blanc – personagem que Daniel Craig pegou para se distanciar de Bond, James Bond – é uma versão do Hercule Poirot de Christie, com suas idiossincrasias e falta de modéstia próprias do detetive belga criado logo após a I Guerra Mundial. Kenneth Branagh não conseguiu se sair bem em sua trilogia de Poirot, com filmes bem mais ou menos, enquanto os três Knives Out são bem melhores e mais divertidos.
Neste terceiro filme, Morto ou Vivo: Um Mistério Knives Out, o jovem padre Duplencity (Josh O’Connor, de Rivais), após agredir um superior é destacado pelo bispo Langstrom (Jeffrey Right, de Ficção Americna) para uma pequena paróquia do interior, onde vai auxiliar o monsenhor Wicks (Josh Brolin, o Thanos do MCU), um sacerdote que, aqui no Brasil, seria adepto do Movimento Carismático. Com visões diametralmente opostas sobre o papel da Igreja Católica no mundo atual, eles logo viram inimigos. Wicks, conta com a fidelidade do casal formado pela administradora Martha Delacroix (Gleen Close, apenas OITO vezes indicada ao Oscar) e pelo caseiro Samson Holt (Thomas Hayden Church, o Homem de Areia de Homem-Aranha 3). Tem ainda um círculo estreito de paroquianos formado pela advogada Vera Draven (Kerry Washington, de Scandal!) seu irmão adotivo Cy (Daryl McCormack, de Twisters), um político fracassado; o médico Nat Sharp (Jeremy Renner, o Gavião Arqueiro do MCU), devastado após ser abandonado pela esposa; a concertista internacional Simone Vivane (Caillee Spaeny, de Alien: Romulus), acometida de uma doença que causa dores lancinantes; e o escritor em decadência Lee Ross (Andrew Scott, o Hot Priest de Fleabag).
Logo após a missa de Sexta-Feira Santa, Wicks é morto misteriosamente no cubículo ao lado do altar. A chefe de polícia Geraldine Scott (Mila Kunis, de Cisne Negro) entra em ação, e diante de um crime impossível, recorre a Benoit Blanc.
Como deu para perceber, o elenco é fabuloso, com atores famosos até para papéis muito coadjuvantes, como o bispo e a chefe de polícia. No entanto, o cast se mostra fundamental quando se trata dos suspeitos: todos tem que ser interpretados por nomes importantes, para que todos dividam as suspeitas, regra que remete ao primeiro Assassinato no Expresso do Oriente, de 1974, o primeiro whodunit com elenco estelar.
Além do roteiro cheio de reviravoltas típicas do gênero e de momentos de atuação aima da média, o subtexto ainda discute patriarcado e machismo estruturais, e, principalmente, o que a igreja, particularmente a católica, representa nos dias atuais. Não que um filme de entretenimento vá fornecer repostas, mas abre uma interessante discussão na figura do jovem sacerdote interpretado pelo cada vez melhor Josh O’Conneor (se você ainda não o vou em Rivais, aproveite que está no Prime Video). Os dois Knives Out anteriores renderam indicações para o Oscar aos roteiros de Rian Johnson. Eu acho que Morto ou Vivo – prefiro o original Levante, Homem Morto – está no páreo do próximo.