O final da década de 90 e o início dos anos 2000, foi um período em que a tecnologia, e a informática em especial, efervesceram no Brasil. Digo isso pois eu vivi a época em que os cursos de datilografia se multiplicavam aos montes por aí, e todos poderiam se matricular na People ou na Microlins para serem Operadores de Microcomputadores.
Foi em meio a esse período especial que eu, lá pelos meus 11 ou 12 anos de idade, fui ter contato com esse mundo maravilhoso. Numa promoção safada qualquer da escola, eu ganhei um curso para o maravilhoso Windows 95. Já havia o Windows 98, mas quem se preocupava com atualização em uma época em que se acreditava que o bug do milênio iria nos obliterar?
Um cursinho numa sala alugada qualquer, onde vários moleques irritantes se juntavam em alguns poucos computadores amarelados para se revezarem enquanto desenhavam bonecos de neve no MSPaint, para posteriormente eternizarem aquele Salvador Dali juvenil num wallpaper em formato “.bmp”, numa tela de tubo qualquer. Uma descrição um tanto quanto bucólica, não? Nada que faça jus à triste realidade que aquele tempo nos entregava… Era isso, ou jogar campo minado ad infinitum, na esperança de um dia descobrir qual o objetivo daquela porcaria – coisa que até hoje eu não tenho ideia.
Aquilo me fascinou de uma maneira única – imagino que só fiquei tão apaixonado por algo assim quando descobri o prazer de dormir até mais tarde nos fins de semana.
Eu estava apaixonado pelo meu cursinho de informática que tinha uma aula às quintas-feiras, de 50 minutos, onde eu me digladiava com outros garotos para poder repousar minha mãozinha desprovida de habilidades motoras sobre aquele mouse tão grande que eu chamava de ratazana de esgoto. Houve uma vez, nunca me esquecerei, em que ganhei um desafio de quem conseguia um duplo clique mais rápido da sala – havia uma opção de configuração da velocidade do clique no Windows em que ficava se abrindo e fechando uma caixinha. Eu ganhei uma barra de chocolate que a professora nos prometeu. Não sem ter que cobrá-la por cerca de dois meses ininterruptos. Era como se eu nunca houvesse ganho uma barra de chocolate. E acho que não havia ganho mesmo, mas enfim…
Daí em diante descambei no mundo tecnológico. Me sentia um hacker. Falava até com voz de pato e me escondida nas sombras pra me comunicar com as pessoas. Só faltava desviar de balas pra ser o Neo.
E logo eu fui matriculado pelos meus pais em uma outra escola de informática – e meu deus, qualquer ser humano com dois computadores e uma sala poderia abrir uma escola de informática naquele tempo. Fui fazer meu cursinho de Lotus 123 num local que parecia um abatedouro perfeito para venda internacional de órgãos internos de crianças. mas quem disse que eu ligava? Nem mesmo aquela apostila safada impressa numa matricial me assustava. Nem o fato de eu ser o único aluno daquela escola cujo nome eu não tenho ideia, mas ainda que fosse Jason Vorhees Informática não me assustaria. Nem aquelas planilhas sem sentido no DOS me assustavam. Não, pois sempre no fim da aula, o “professor” me permitia jogar um joguinho bem safado de esqui na neve por 15 minutos, e aquilo era o auge da minha felicidade.
PS: tempos depois, descobri que o nome do jogo era SkiFree, e vocês podem dar uma olhada no que me fazia feliz naquela época clicando aqui. Sim, eu me contentava com bem pouco.
Foi nesse meio tempo entre fugir das surras na escola, fazer aulas frustradíssimas de futebol e cursar informática na casa da Família Adams que meu pai nos deu nosso primeiro computador: um mais do que glorioso K6 II 300, com 64Mb de Memória Ram e um maravilhoso kit multimídia Sound Blaster 16. Se você não entendeu nada do que eu disse depois dos dois pontos, você não viveu a época em que colocávamos uma capinha de plástico sobre a CPU e o monitor de tubo (tubo!) pra não sujarem… o que não adiantava muito, visto que tudo aquilo ficava mais amarelo do que dente de criança preguiçosa.
Ah, como eu amei meu K6 II… ele tinha Windows 98! Era um mundo novo pra mim – embora fosse basicamente um Windows 95 mais polido. Havia tanta coisa pra fazer ao mesmo tempo que eu me sentia perdido… Freecell, Copas, Spider, trocar o Wallpaper, Campo Minado, Calculadora, Paint, Bloco de Notas, trocar Wallpaper… As opções eram bem limitadas, mas pra quem se divertia imaginando jogos na calculadora, era como se você desse um oceano de água doce para alguém que estava caminhando com sede no deserto.
É claro que as opções eram estritamente offline, pois internet já era algo raro, e conectar meu modem de 28kbps na linha telefônica de casa sem que meu pai me fizesse trabalhar em uma lavoura por três anos seguidos para poder pagar os pulsos não era fácil. Não haviam muitas opções de jogos que rodassem na época, além dos pré-instalados no Windows – dentre os quais, o meu favorito era o Pinball. Eram inúmeros campeonatos, onde a cada nova jogatina, eu me imaginava um competidor diferente. Hoje se chama distúrbio de personalidade e apontam isso como indício de genialidade. Na minha época era apenas babaquice e me rendia umas boas surras por parte de quem quer que descobrisse isso.
Foram uns bons três ou quatro anos usando aquela máquina multimídia – que vez ou outra me serviu para criar alguns e-mails no iG e lia alguns filmes em formato VCD. Quando pude ver um CD pira… digo, original do Homem Aranha do Sam Raimi em casa, depois de ter visto o filme umas seis vezes no cinema… ah cara, que experiência! Tudo bem que rodava em slow motion e a versão que deveria ter duas horas me tomava no mínimo o dobro pra ver, mas ainda assim era uma experiência fantástica. Eu fazia parte do século XXI. Só me faltava um carro voador.
Mas as coisas ainda iriam evoluir… e vocês vão saber como na próxima coluna. Ou não, caso eu finalmente me toque do quão vergonhoso tem sido tudo isso pra mim e minha falecida reputação.
uahuahauha
adoro seus textos, Xande