Quando as primeiras informações sobre Fallout 76 surgiram na internet, mesmo ainda sendo boatos, nada cheirava bem. Conhecida por sua narrativa densa, interessante e cativante, os dados vazados diziam que franquia daria lugar a aventuras multiplayer, em um ambiente totalmente online, composto apenas por jogadores e com mecânicas de sobrevivência. Eu mesmo previ a catástrofe lá no meu Twitter. E não deu outra. Após cerca de sete horas de jogo, Fallout 76 estava tão atraente quanto ver a tinta de uma parede secar. Por isso, tudo que você vai ler aqui é com base nesta curta e entediante experiência.
O novo título da franquia conta a história do famoso Refúgio 76 e de seus habitantes, mentes das mais brilhantes dos Estados Unidos, escolhidas a dedo, com a missão de reconstruir o país desolado após uma guerra nuclear devastadora. Você encarna um destes gênios e inicia sua jornada no Dia da Retomada, quando o refúgio é aberto pela primeira vez.
A Bethesda sempre apresentou em Fallout a garantia de histórias interessantes, mundos vivos e personagens cativantes. Foi assim em Fallout 3 e em New Vegas, foi assim em Fallout 4, mesmo com os seus problemas. Foi assim com Skyrim, lembra? E, ao escolher um mundo totalmente online, em que o jogador teria o poder de cursar a sua história, Fallout 76 tinha um potencial que, ao mesmo tempo, poderia ser seu Calcanhar de Aquiles. Afinal, para se ter a experiência online e multplayer que prometiam, algo teria que ser sacrificado e, meu maior medo era que a história fosse a vítima desse ritual de sacrifício. No final, foi isso que acabou acontecendo.
Ler, escutar e não interagir
A narrativa no novo título da franquia é guiada por acessos a terminais e áudios encontrados em corpos e lixos espalhados por toda West Virginia. Dessa forma as missões vão sendo dadas e cumpridas, uma após a outra, sem interação alguma com as pessoas que vivenciaram aquilo que está escrito nos terminais ou que estão dizendo nas fitas. Assim, apesar de algumas histórias e suas nuances ainda trazerem um impacto e detalhes que só um Fallout poderia nos proporcionar, como a missão para ajudar o prefeito de Grafton, o modo como elas surgem é muito impessoal e não transmite a proximidade necessária para que o jogador se importe com tudo aquilo que está acontecendo. Esse é o primeiro ponto para a derrocada de Fallout 76.
O segundo está no fato de que suas mecânicas de sobrevivência como descobrir recursos para melhorar seu C.A.M.P, encontrar água, ferver essa água para saciar sua sede e desenterrar sucatas para produzir novas peças de armas e armaduras tomam um tempo enorme do jogador e está, a todo momento, chamando a atenção dele, atenção essa que poderia estar voltada para os aspectos da história daquele mundo. Não são raras as vezes que você, a caminho de uma missão, ou até mesmo no meio de uma, precise parar para se alimentar, beber algum líquido, tratar alguma doença, diminuir a exposição à radiação… Enfim, a fatia sobrevivência de Fallout 76 canibaliza sua história e acaba requerendo mais atenção do jogador do que o necessário.
Um grande e vazio nada
Se a intenção da Bethesda em colocar Fallout 76 situado logo após a guerra nuclear era oferecer ao jogador um mundo gigantesco mas vazio ela acertou em cheio. A promessa de não povoar excessivamente o servidor com muitos jogadores foi cumprida e isso é bom, porque muitos humanos poderia tornar o mapa uma arena de mata-mata gigante, mas a escassez de coisas acontecendo e a se fazer em West Virgínia é tão grande quanto o seu tamanho. Em um momento do jogo optei por não fazer a viagem rápida e andei a esmo por cerca de 20 minutos, sem encontrar nada, ninguém ou simplesmente algo acontecer. Essa situação só potencializa a monotonia que o jogo entrega.
Monotonia essa que pode ser amenizada jogando entre amigos, cooperativamente, já que jogar sozinho é uma verdadeira auto punição. Com amigos a experiência se torna aceitável, já que as missões podem ser obtidas independentemente e todas ficam disponíveis ao mesmo tempo para o grupo. No entanto, a coletividade só mascara um pouco a morosidade como o desenrolar de Fallout 76 acontece, já que as missões continuam sendo tratadas da mesma forma.
O multiplayer, apesar de ser o alicerce em que foi construído, é pouco convidativo para os jogadores. As únicas missões que incitam uma participação coletiva são os Eventos gerados de tempos em tempos no mapa. No entanto, como estão alheios às missões da história e, para piorar, dão as melhores recompensas, acabam sendo um tiro no pé na evolução da narrativa de Fallout 76. Tornando as missões “solo” ainda menos atrativas.
A tal morosidade que citamos é apresentada logo no início, quando você ainda está no Refúgio 76. No seu caminho para a saída do bunker, robôs parados em uma espécie de estande daquela feira de ciências do seu colégio quando você estudava são os responsáveis pelos tutoriais de como as coisas acontecerão no mundo exterior. É um falatório interminável de bla bla bla que você precisa ouvir até o final para entender o que pode/precisa fazer. Uma opção bem maçante e menos interessante do que criar uma forma de mostrar essas mecânicas enquanto você joga.
Pelo menos a arte é boa
No entanto, Fallout 76 continua sendo Fallout em sua estética. E isso é muito bom. O consagrado visual steampunk é um lado positivo do jogo e beneficia principalmente os menus ativados por meio do tradicional Pip Boy no braço de seu personagem. Porém, apesar de bonitos e atraentes, eles são pouco intuitivos e causam confusão nas primeiras horas de jogo, mas nada que você não se acostume. O contrário acontece com o sistema de distribuição de pontos de experiência por meio de cartas que, além de ter um visual impecável com cartas animadas, também é bastante intuitivo e, principalmente, didático. Desde os primeiros pontos obtidos o jogador já fica familiarizado com o sistema. O grande problema aqui é que esses pontos são pouco sentidos no desenrolar da evolução de seu personagem no jogo.
Enfim, por ser um jogo completamente online, é possível que atualizações venham a transformar Fallout 76 em um título em que a narrativa e o rico e imersivo mundo da franquia se sobressaiam novamente. Por enquanto, é apenas um mapa gigante sem muita coisa interessante para ser feita.
Fallout 76 foi lançado em 14 de novembro de 2018 para PS4, Xbox One e PC.
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Este review foi produzido por meio de uma cópia de Xbox One cedida pela assessoria de imprensa da Bethesda no Brasil.
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