Aos 5 anos, Saroo Brierley vivia no pequeno povoado de Ganesh Talai, na Índia. Brierley ainda não era seu sobrenome, e ele dividia uma casa de apenas um cômodo com a mãe e os três irmãos. Um dia, ao sair com o irmão, de 14 anos, Saroo se perdeu. Acabou entrando num trem por engano, atravessou o país e foi parar em Calcutá, uma das maiores cidades da Índia. Depois de sobreviver sozinho nas ruas, foi levado para uma agência e adotado por um casal australiano. Apenas 26 anos depois, já adulto, é que ele conseguiu reencontrar sua cidade e sua família perdida.
É o próprio Saroo quem narra sua história em Uma Longa Jornada para Casa, que chega às livrarias pela Record. O relato também deu origem a Lion – Uma Jornada para Casa, filme que estreia nos cinemas brasileiros em 16 de fevereiro e foi indicado ao Oscar nas categorias Melhor Filme, Ator Coadjuvante (Dev Patel), Atriz Coadjuvante (Nicole Kidman), Roteiro Adaptado, Direção de Arte e Trilha Sonora Original.
No livro, Saroo evoca suas lembranças da infância na Índia. Conta que dormia em lençóis sobre o chão formado por lama, esterco de vaca e palha. Às vezes, não tinham comida em casa e era preciso pedir aos vizinhos. Os irmãos mais velhos passavam o dia nas ruas, tentando arranjar dinheiro e alimento. E foi numa dessas incursões que o menino se perdeu. O autor lembra ainda dos dias que passou sozinho pelas ruas de Calcutá, das dificuldades e das pessoas que o ajudaram; fala sobre a família e a vida na Austrália; do tempo que passou tentando descobrir suas origens; e, enfim, da viagem de reencontro.
Por causa da pouca idade, Saroo não sabia nem o nome do local onde morava, nem mesmo seu próprio sobrenome. Foi apenas 26 anos depois de sua adoção, com a ajuda do Google Earth, que ele conseguiu buscar sua velha casa. E a jornada para rever – e se reintegrar com – sua família biológica foi ainda mais intensa do que ele imaginava. O livro traz também um encarte com fotos do autor ao lado de suas duas famílias e ao longo de sua viagem de redescoberta pela Índia.
Saroo Brierley nasceu em Khandwa, na Índia, e hoje vive em Hobart, na Tasmânia, onde gerencia com o pai a empresa da família, a Brierley Marine. A história de sua vida já foi publicada em diversos países.
CONFIRA UM TRECHO DO LIVRO:
Uma hora, acordei e percebi que tínhamos parado – havíamos chegado a uma estação. Fiquei em êxtase, pois pensei que poderia chamar a atenção de alguém na plataforma. Mas não se via vivalma na estação sombria. As portas continuavam trancadas. Esmurrei-as e gritei e gritei até não poder mais, enquanto o trem, num arranco, voltava a se mover.
Acabei me cansando. Não se pode permanecer para sempre em um estado de completo pânico e terror, e eu já havia passado por ambos. Desde então, passei a acreditar que talvez seja por isso que choramos: nosso corpo tem de lidar com algo que a mente e o coração não conseguem absorver sozinhos. Todo aquele pranto tinha cumprido sua finalidade – eu havia deixado meu corpo processar meus sentimentos e agora, surpreendentemente, começava a me sentir um pouco melhor. A experiência tinha me esgotado, e eu dormia e acordava.
Hoje, quando penso em retrospectiva e revivo mentalmente o completo pavor de ficar preso sozinho, sem nenhuma ideia de onde estava e para onde ia, é como um pesadelo. Guardo tudo aquilo em flashes: eu acordado olhando pela janela, horrorizado; ou encolhido, dormindo e acordando. Acho que o trem parou em algumas estações, mas as portas nunca se abriam e, de alguma forma, ninguém me via
Uma Longa Jornada para Casa
(A Long Way Home)
Autor: Saroo Brierley
Páginas: 224
Preço: R$ 34,90
Tradução: Evandro Ferreira
Editora: Record
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