De cara já aviso: tudo aqui é opinião pessoal, aberta à discussão.
Lembro-me bem, já no fim dos anos 90, quando um hit chiclete daqueles impossíveis de não ouvir, tomou de assalto todas as rádios pelo país. Rádios de rock, pop, todos os estilos, se rendiam a um nome feminino composto: Anna Júlia.
Era impossível evitar. Até arrisco dizer que trata-se de um dos últimos “hits do verão” que não vêm do circuito axé-samba-funk-sertanejo.
De repente aquele quinteto, formado por Marcelo Camelo (vocal e guitarra), Rodrigo Barba (bateria), Bruno Amarante (vocais e guitarra), Bruno Medina (teclado) e Patrick Laplan (baixo) estava em todos lugares possíveis. Programas de auditório, especiais da MTV, rádios, revistas, trilhas de novelas. Fico só imaginando a quantidade de “Annas Julias” que hoje têm em média 20 anos espalhadas pelo Brasil. Aliás, conheci uma recentemente.
Junto com o sucesso da canção, veio o primeiro disco. E que disco. Apenas levando o nome da banda, temos um disco pulsante e cru, com toques carnavalescos, influências de punk, ska e uma “cozinha” frenética formada por Barba e Laplan.
Pra se ter uma idéia, um dos pontos mais “baixos” é a melosa Primavera, outro hit que devastou as rádios naqueles tempos. Com certeza, um dos meus discos de rock nacional favoritos.
Após todo esse sucesso, chegamos àquele momento de pressão para todas as bandas: sobreviver ao segundo disco.
Bloco do Eu Sozinho foi lançado já em 2001, e já traz a banda experimentando novos elementos e estilos.
Coincidentemente (ou não), nesse período a banda sofre sua primeira e única mudança de formação: a saída de Laplan (que, dentre outros muitos projetos, viria a ajudar o Biquini Cavadão a se reinventar em 80 e chegar à sua melhor forma, com um som mais comercial e maduro).
Apesar das mudanças, BDES alcança um sucesso bastante expressivo e começa aí a moldar seu público mais fiel. Em seguida vieram Ventura, em 2003 e 4, em 2005, consolidando seu estilo, público, e definitivamente deixando de lado toda aquela explosividade vista no primeiro disco.
Já em 2007, a banda anunciou seu hiato, e, como é comum aos artistas que tomam tal decisão, a banda alcança outro patamar, com uma legião de fãs já ansiosos por seu retorno. Após reuniões esporádicas, outros projetos e muita expectativa, a banda finalmente resolve voltar em 2019 para comemorar seus 20 anos.
HIATOS E RETORNOS
Já é mais do que notório que hiatos, turnês de despedida e/ou comemorativas são absurdamente rentáveis. Ainda mais em tempos em que as mídias físicas são cada vez mais raras, turnês e mega produções são a principal forma do mercado fonográfico vender seu produto.
Enquanto os hiatos valorizam seus produtos, tornando-os raros, as turnês de retorno são o sonho de todos os fãs.
Estão aí os retornos de Rouge, Jonas Brothers e Sandy & Júnior para não nos deixar mentir.
Até mesmo o Foo Fighters e o Fall Out Boy já tiveram seus períodos sabáticos, e também não podemos esquecer das diversas turnês comemorativas do Iron Maiden e as 10 últimas turnês de despedida do Scorpions.
Enquanto isso os fãs de My Chemical Romance, por exemplo, seguem em sua espera ansiosa pela volta de Gerard Way e cia.
Até mesmo no mercado independente isso existe, como a turnê de 25 anos dos Hanson, e os recém confirmados shows especiais do Anberlin pela Oceania. Recentemente também vi uma divulgação de um show especial de comemoração pelo aniversário de ANThology, primeiro disco dos americanos do Alien Ant Farm.
Mexer com a emoção dos fãs vende, e muito.
Mas se você acha que isso é algo dos tempos modernos, aí que você se engana. Essa tática de “tirar” o produto do mercado, fazendo-o se valorizar e ganhar novos públicos é algo que Walt Disney e sua companhia fazem brilhantemente há décadas. Ou você acha que esse ano teremos Aladdin, O Rei Leão e Dumbo nos cinemas por puro acaso?
Tudo é pensado nos mínimos detalhes, e funciona.
Dito tudo isso, chegamos a “Corre Corre”, novo single do Los Hermanos. Música pop, simples, com todos os elementos necessários para agradar aos fãs. Está tudo ali, fácil, limpo, bem executado. É o famoso “fan service”. Bonito, funciona, agrada, traz uma ou outra referência (só eu senti uma vibe “Lulu Santos” ali?), mas não traz nada de tão novo.
“Mas precisa trazer algo novo?”, você pode me perguntar.
Te respondo: “Não”.
O motivo para isso? Talvez o risco de não agradar. Ou a simples necessidade de vender mesmo. Afinal, pra que mexer no que já funciona?
E assim, como disse no título, vemos mais um “produto” que corre, corre, e não sai do lugar comum.
Mas vende, e como vende!
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