O escritor Felipe Folgosi lançou oficialmente na última sexta-feira, 28, sua segunda HQ, intitulada Comunhão – uma mistura de suspense e thriller psicológico, cuja história se passa no Brasil. No enredo, um time de corrida de aventura que, após uma prova, decide fazer uma trilha longe dos olhares da mídia e da organização. Eles acabam se deparando com uma tribo perdida, dominada por um reverendo misterioso com um passado suspeito. A história é contada pela perspectiva de Amy, uma das melhores corredoras do mundo, que depois de um grave acidente fica traumatizada e para de correr, passando a coordenar a equipe do irmão, Mark.
Nessa entrevista gentilmente concedida por Felipe ao Nerd Interior, buscamos saber um pouco mais da carreira do roteirista de Aurora, sua obra anterior, sobre o lançamento de Comunhão, planos para o futuro e um pequeno apanhado do que é trabalhar com HQ no Brasil.
(Nerd Interior) Você poderia fazer um pequeno apanhado do que se trata a sua nova HQ ‘Comunhão’? Qual o significado do nome?
(Felipe Folgosi) É difícil sem dar spoiler! Está totalmente ligado ao enredo da HQ, mas para o leitor fica bem claro o sentido.
Logo de cara podemos notar que o projeto e a proposta gráfica em si é bem diferente de ‘Aurora’, além do formato da revista. Essa mudança está relacionada ao tema da história?
Depois do Aurora, quis que meu próximo projeto fosse bem diferente, tanto no tema como no projeto visual, exatamente para mostrar uma diversidade. A razão de ser preto e branco é pelo que acabei de descrever, mas também para fazer uma homenagem aos quadrinhos de terror dos anos 70, que em sua grande maioria não eram coloridos.
Como você chegou no J. B. Bastos pra trabalhar com a arte dele?
Vi o portfólio e fiz testes com vários desenhistas e o Bastos foi que mais me agradou, além do fato de ele já ter desenhado títulos de terror para o mercado americano.
‘Comunhão’ teve um pequeno atraso em seu lançamento, certo? Ocorreu algum imprevisto?
Sim, o Bastos teve problemas de ordem pessoal, mas procurei sempre estar em contato com o colaboradores do Catarse, para deixá-los cientes do que estava acontecendo.
‘Comunhão’ surgiu como um roteiro para cinema, mas você decidiu transformá-lo em HQ. Por que uma HQ e não um livro, uma série, etc?
Acho a linguagem do cinema e dos quadrinhos muito próximas, mais do que, por exemplo, entre cinema e literatura. Se adaptasse de cinema para série, continuaria tendo o alto custo de produção audiovisual, então o quadrinho é a melhor opção de produzir o conteúdo de forma independente.
‘Comunhão’ foi lançada com a ajuda do Catarse, cuja meta foi atingida com sucesso. Você pensa em lançar mão desse tipo de apoio para buscar “entrar no mercado mais tradicional”, em editoras? Já houve alguma proposta ou sondagem?
Sim, vou fazer uma primeira experiência com uma editora em breve.
Atualmente, como os interessados podem adquirir ‘Comunhão’?
Nas bancas, livrarias, lojas Studio Geek ou quem preferir autografado pode comprar diretamente comigo que envio pelos Correios. É só mandar um inbox nas páginas Comunhão HQ ou Aurora HQ no Facebook e explico os detalhes.
Falando ainda em Catarse, sabemos que essa ferramenta apoia o mercado independente, além de, em tese, permitir uma liberdade maior para os autores. Você pensa que o futuro para as HQs (e outros tipos de produções artísticas) se encontra aí? Acredita que esse tipo de ferramenta fará os meios tradicionais se mudarem e se adequarem para as novas necessidades?
Acredito que sim, até determinado ponto. Filmes de baixo orçamento já foram financiados por crowdfundings, mas chega um momento que o valor de produção é muito alto e acaba sendo necessário a participação de um canal ou estúdio. Não que teoricamente seja impossível um blockbuster ser totalmente subsidiado por apoiadores, afinal de contas são eles que acabam pagando pelo custo de produção e até gerando lucro, mas seria necessário que um grande número de pessoas fizesse isso pelo menos uma vez, para que todos soubessem que é possível. Isso realmente seria uma quebra de paradigma.
Antes de lançar ‘Aurora’, como você encarava o mercado editorial de quadrinhos no Brasil? E hoje, com duas obras já lançadas, que visão você tem?
Já acompanhava o mercado fazia algum tempo, e via que o número de publicações de qualidade estava aumentando, mas agora, como autor, vejo que ainda temos que dar vários passos para realmente ter um cenário nacional abrangente como em outros países, começando pela distribuição, que no momento ainda é bastante limitada.
‘Aurora’ foi um projeto lançado com sucesso, bem recebido pelo público e pela crítica, recebeu quatro indicações no HQMix. Isso era esperado por você? E esse sucesso acabou gerando alguma expectativa ou mesmo cobrança com relação a ‘Comunhão’?
Esperava que o público gostasse, mas não que fosse ser indicado a premiação. Realmente fiquei surpreso com a forma com que Aurora foi bem recebido pela crítica e principalmente pelos leitores. Penso que cada obra tem que se sustentar por si só, então estive focado em procurar fazer o Comunhão da melhor forma possível, sabendo que talvez os leitores que gostaram do Aurora estivessem curiosos para ler o novo trabalho. Mas como são projetos bem diferentes, não há nenhuma garantia que irão gostar. Sempre tem um risco envolvido em lançar qualquer obra nova.
Você acha que houve, ou há algum tipo de resistência ou desconfiança ao seu trabalho por conta de ser também um ator conhecido nacionalmente?
Acho que houve uma desconfiança normal, afinal de contas nós temos uma dificuldade de mudar algo que já categorizamos de uma forma em nossa mente. O grande teste seria se Aurora teria alguma qualidade e independente de gostar do enredo ou não, as pessoas chegaram à conclusão de que procurei fazer o material com a melhor qualidade possível. Pode ser que ainda haja pessoas que não conseguem conciliar o fato de eu trabalhar como ator e gostar de quadrinhos, mas isso penso ser um preconceito que cada vez vai sendo mais diluído com cada trabalho.
Que tipo de inspiração você tem para escrever HQs? Quem são seus autores favoritos, e quem você indicaria para quem também se interessa em, um dia, se tornar um roteirista?
A inspiração vem de vários lugares, de observação, uma conversa, uma piada ou até sonhos. Cresci lendo muita coisa diferente, de Frank Miller até Angeli, passando por Moebius e Bill Watterson. Minha dica é que criem o hábito de escrever primeiro, depois que estudem as técnicas, comprem livros, façam seminários, vejam tutoriais e depois que sentirem que já dominam o formato, comecem a colocar as ideias no papel.
Além de HQs e da carreira de ator, você trabalha escrevendo para TV, teatro e cinema. Existe alguma área em que ainda não conseguiu trabalhar, mas que está em seus planos?
Sim, ainda tenho vontade de dirigir um filme, mas tem coisas que quero fazer antes disso.
Qual das mídias para a qual você escreveu foi a mais trabalhosa? E em qual encontrou mais dificuldades para vender seu material?
Trabalhosa, todas são. É necessário tempo e dedicação para fazer um material dentro dos patrões profissionais, quem dirá inovador. Talvez o formato que tem sido mais desafiador no momento, até por ser o que menos tenho familiaridade, é a prosa. Há alguns anos tenho trabalhado em um romance, e pelo menos a meu ver, é o que exige maturidade como escritor.
Atualmente, além da divulgação de ‘Comunhão’, você tem trabalhado em quê? Já há mais alguma HQ em vista?
Já escrevi a continuação do Aurora, que espero fazer o Catarse e começar a produzir ainda esse ano, além o roteiro chamado Um Outro Dia, que como já mencionei, será minha primeira experiência tradicional com uma editora.
Quais são os próximos passos e projetos em sua(s) carreira(s)?
Vou coproduzir um longa-metragem esse ano e estou trabalhando para rodar outro ano que vem.
Pensa em, algum dia, transpor suas HQs para as telonas, ou mesmo para a TV?
Claro que sim, seria o fechamento do ciclo!
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