Depois de escrever roteiros elogiadíssimos e premiados como A Rede Social (2010) – com o qual venceu o Oscar de Roteiro Adaptado – O Homem que Mudou o Jogo (2011) e Steve Jobs (2015), Aaron Sorkin faz estreia na direção em A Grande Jogada (Molly’s Game).
Já é sua marca registrada escrever dramas biográficos de maneira pouco convencional, trazendo para próximo da audiência pessoas fortes e nada fáceis de lidar. Basta lembrar como retrata Steve Jobs no filme homônimo – completamente diferente da abordagem de Jobs (2013) – e como revela um Mark Zuckerberg nada simpático em A Rede Social, um estudo sobre o criador do Facebook.
Em A Grande Jogada, acompanhamos a ex-esquiadora Molly Bloom (Jessica Chastain, de A Hora Mais Escura). Após sofrer um acidente que a exclui das prévias para as Olimpíadas, ela decide se afastar dos estudos por um tempo e trabalhar como garçonete. Neste período, conhece e passa a trabalhar como assistente do jovem empresário Dean Keith (Jeremy Strong, de A Grande Aposta), que promove um jogo de pôquer às escondidas com diversas celebridades do cinema, música e televisão. Depois que se vê envolvida nesses jogos, graças à sua flexibilidade, simpatia e rapidez com os números, Molly enxerga a oportunidade perfeita para fazer dinheiro.
Sorkin é um roteirista de mão cheia e constrói linhas de diálogos excelentes, principalmente entre Molly (Chastain) e o advogado Charlie Jaffey (Idris Elba, de Beasts of no Nation). Porém, não consegue evitar certa prolixidade ao utilizar uma narração excessiva que dita os passos dos personagens e que funciona raras vezes, como nos bons momentos durante os jogos de pôquer que Molly conduz, onde Sorkin nos situa do que acontece na mesa de uma maneira didática e eficiente.
Chastain e sua beleza roubam os holofotes. Molly Bloom sempre foi uma mulher linda e Sorkin explora bem os dotes da atriz, com roupas justas e decotadas, mas sem torná-la mero objeto. Se crescemos em uma sociedade machista, onde os olhares masculinos sempre vão brilhar para uma bela mulher, ficamos nos perguntando se Molly não recebia certas propostas, e claro, vemos o desenrolar disso durante o filme.
É interessante notar como Sorkin toma algumas liberdades em seu roteiro, que agregam à trama. O personagem de Idris Elba, por exemplo, é fruto da ficção, mas ele e Chastain dividem ótimos momentos em tela. Os conflitos de Molly são colocados à mesa diversas vezes por Charlie, funcionando para a trama sem outros artifícios.
É pena que o terceiro ato comece com uma cena totalmente desproporcional, em uma tentativa de “suavizar” os atos de Molly e explicar suas raízes. Uma sessão de terapia com seu pai (Kevin Costner, de Estrelas Além do Tempo), que dura apenas três minutos, deve fazer qualquer profissional da área de psicologia surtar.
A Grande Jogada tem diversos acertos, mas precisaria de alguns cortes, que Sorkin provavelmente não fez por também assinar como diretor. A sensação que fica – assim como acontece com Eu, Tonya – é que tais excessos “diminuem” a produção, que parece querer ser mais esperta do que na verdade é.
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