Review | Artista do Desastre

Em 2003 era lançado aquele que viria ser reconhecido como o “melhor pior filme de todos os tempos”: The Room. Produzido, dirigido, escrito e protagonizado por Tommy Wiseau, em parceria com seu amigo Greg Sestero, o filme logo ganhou a fama de cult, não por seu estilo diferenciado, mas sim por toda sua produção comprometida, graças à falta de talento de Wiseau tanto ao escrever diálogos quanto em atuar.

Na história de The Room, Wiseau é Johnny, um banqueiro que vive em São Francisco e está prestes a se casar com a jovem Lisa (Juliette Danielle). Porém, uma sucessão de traições faz Johnny abrir os olhos e tomar medidas drásticas que mudarão as vidas de todos.

A história até parece uma tragédia grega digna de Shakespeare, porém isso não passa de ilusão. Wiseau consegue deixar tudo ruim. As cenas de sexo são bregas, com uma música de fundo que mais lembram as sessões eróticas de qualquer canal na madrugada. Os textos são péssimos e todo e qualquer personagem que entra em cena começa com um “oi” e termina com um “tchau”, não há fluidez. Com isso, diversas situações trágicas tornam-se involuntariamente engraçadas, fazendo do filme uma comédia e é por isso que ele se tornou tão popular e fez de Wiseau um Ed Wood dos nossos tempos.

Se Wiseau não tinha aptidão e lhe faltava a malícia necessária para crescer em Hollywood, pode-se dizer que James Franco sabe muito bem como lidar com a indústria cinematográfica. O astro de 127 Horas, sua melhor atuação até então, resolveu adaptar o livro The Disaster Artist: My Life Inside The Room, the Greatest Bad Movie Ever Made, escrito por Greg Sestero e Tom Bissell – que conta os bastidores de The Room – e produz, dirige e protagoniza Artista do Desastre.

O longa conta como o misterioso Tommy Wiseau tentou entrar no mundo do cinema, e a atuação de James Franco é o grande acerto do filme. Por mais que a atuação seja uma imitação, Franco está muito bem e entrega um Wiseau de fazer gargalhar, com sotaque, trejeitos, gestos, forma de andar, tudo perfeito. Não à toa ele foi premiado com o Globo de Ouro de Melhor Ator em Comédia ou Musical e é forte candidato a uma indicação ao Oscar.

É interessante notar como, diferentemente de outras biografias, Franco não tem como mostrar diversos passos da vida de Wiseau, pois até hoje não se sabe de onde ele veio, sua idade, nem de onde tirou mais de 5 milhões de dólares para a produção de The Room. Com isso, o filme foca na amizade entre Tommy e Greg (Dave Franco de Nerve: Um Jogo Sem Regras) e, claro, nos bastidores e filmagens daquele filme.

É imprescindível que assistam The Room antes para que Artista do Desastre seja melhor compreendido. Claro, é possível assistir ao filme sem ficar boiando, mas a caricatura que Franco cria de Tommy Wiseau será muito mais bem apreciada se já tiverem visto o verdadeiro Tommy “atuando”. Existe ainda uma cena pós-créditos que deve ser vista, pois conta com uma participação especial.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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