Review | Assassinato no Expresso do Oriente

Agatha Christie, a Rainha do Crime, é uma das maiores escritoras que já existiu, com mais de 80 livros publicados. O detetive belga Hercule Poirot é seu personagem mais conhecido, presente em diversas histórias da romancista, entre elas Assassinato no Expresso do Oriente, que ganhou uma versão para os cinemas em 1974, com direção de Sidney Lumet e um elenco repleto de estrelas como Ingrid Bergman – que venceu o Oscar de atriz coadjuvante por seu papel –, Lauren Bacall, Sean Connery, Anthony Perkins e Albert Finney como Poirot.

Assassinato no Expresso do Oriente é somente uma das histórias de Agatha que foram adaptadas para o cinema, mas com certeza a de maior sucesso. Tal êxito pode justificar este remake de 2017, dirigido por Kenneth Branagh (diretor de algumas adaptações de Shakespeare, entre elas Hamlet, de 1996) e também com um elenco recheado de caras famosas como Johnny Depp (Animais Fantásticos e Onde Habitam), Daisy Ridley (Star Wars: O Despertar da Força), Judi Dench (007 – Operação Skyfall), Willem Dafoe (Platoon), Michelle Pfeiffer (Stardust – O Mistério da Estrela), Penélope Cruz (Vanilla Sky) e o próprio Branagh, que dá vida a Poirot e rouba a cena com seu estiloso bigode.

Na história, o detetive Poirot pega às pressas o Expresso do Oriente e, após um acidente na neve onde o trem fica preso, um dos passageiros é encontrado morto. É então que Poirot se vê escalado para desvendar o crime e descobrir qual dos treze passageiros é o assassino.

A comparação com o filme de Lumet é praticamente inevitável e fica visível o esforço de Branagh em colocar seu estilo e não fazer somente uma cópia do clássico ou uma simples adaptação. O virtuosismo que ele apresenta em algumas cenas é elogiável, principalmente nos longos takes em que passeia por dentro do trem e também quando foca nos rostos dos personagens. Um bom exemplo é quando certos personagens têm seus rostos duplicados ou até mesmo triplicados por vidros, dando a ideia de “duas-caras” e falsidade, uma boa sacada do diretor, que nos oferece pistas que o detetive Poirot não pode ver.

Blockbuster

A reunião de tantos nomes conhecidos em um blockbuster é algo que atualmente só temos visto em filmes de super-heróis, por isso Assassinato no Expresso do Oriente vem a calhar nos tempos atuais. A safra de filmes de heróis, que gera debates calorosos e cansativos entre fãs de Marvel e DC, fez os estúdios apostarem pouco em produções como esta.

Assassinato no Expresso do Oriente traz de volta bons diálogos aos blockbusters, algo comum na Era de Ouro de Hollywood, mas Branagh tem consciência de que poderia ser um tiro no pé focar tanto naquilo que Sidney Lumet já havia feito, os interrogatórios, e se preocupa mais em construir seu personagem e envolve-lo com o público. Ele é a força do filme. Seus valores e seu perfeccionismo ficam evidentes durante todo o longa, algo intencional e que você precisa assistir ao filme para entender o motivo.

Apesar dos bons nomes no elenco, nem todos são tão aproveitados ou vão bem, mas é bom notar que Daisy Ridley e Josh Gad (A Bela e a Fera) são atores que não comprometem quando solicitados e têm carisma. Infelizmente não é o mesmo que pode se dizer de Penélope Cruz e Johnny Depp, em atuações exageradas, cheias de caras e bocas. Para o restante do grande elenco, não há muito a se destacar, Michelle brilha mais ao final e Willem Dafoe e Judi Dench até tentam, mas seus personagens são limitados pelo roteiro.

Pelo lado negativo, fica a tentativa de Branagh de tornar o filme mais dinâmico e imagético para o público. Os interrogatórios são encurtados, mas diversos flashbacks de outro caso são trazidos constantemente, algo desnecessário quando se tem um grande elenco de apoio para ser desenvolvido.

De qualquer forma, Assassinato no Expresso do Oriente é uma experiência agradável, ainda mais por se tratar de um remake de um clássico. Quem já conhece a história ainda pode se divertir – graças a Branagh – mas quem não conhece com certeza terá um gostinho a mais na solução do mistério.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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