Cada vez mais, a representação LGBTQ vem deixando de ser tabu para encontrar espaço nos cinemas e na televisão. Histórias para serem contadas não faltam. Uma grande fatia de temas sobre o assunto pode ser encontrada na atual literatura direcionada para o público infantojuvenil. É dessa safra de novos autores que saiu Com Amor, Simon, adaptação da Fox para os cinemas do livro Simon Vs. A Agenda Homo Sapiens, da escritora Becky Albertalli.
O barulho que o filme vem fazendo se deve pelo fato de se tratar da primeira comédia romântica bancada por um grande estúdio, voltada para o público adolescente com foco em uma história de amor homossexual. Algo inédito e acertadamente atual.
Na trama, Simon tem uma vida normal, exceto por um detalhe: ele é gay e não assumido para a família e amigos. Em busca de alguém para conversar, acaba se apaixonando por um internauta chamado Blue, que recentemente se assumiu gay em anonimato para a escola. E é nessa jornada de descobertas que Simon busca conhecer o menino por quem se apaixonou, tendo que lidar com o medo de ser exposto para todos antes que esteja preparado para se assumir.
A descoberta da homossexualidade na adolescência é tratada neste filme de forma bem leve, mas nem por isso menos importante. Respeitosamente o diretor Greg Berlanti acerta no tom da produção. Responsável por séries de sucesso como a clássica Dawson’s Creek (1998-2003) e a atual Riverdale, o diretor comanda ainda as produções da DC Comics para o canal CW: Arrow, Flash, Supergirl, Legends of Tomorrow e Raio Negro.
A familiaridade com o universo jovem ajuda o diretor a colocar todas as coisas no lugar e entregar um filme divertido, romântico e atual. De forma adequada, a comédia equilibra muito bem o drama com o humor e consegue manter o suspense para prender a atenção na identidade do misterioso personagem que troca e-mails com Simon.
Elenco
Mesmo se tratando de um filme teen, a produção consegue dialogar com todos os públicos. Diferentemente de filmes mais ‘pesados’, onde a questão da orientação sexual deixa pouco espaço para debates, Com Amor, Simon expõe o tema de maneira bem leve e extremamente realista, facilitando a comunicação. Os jovens são bem representados e o roteiro consegue muito bem caracterizá-los de forma real, ou seja, repletos de dúvidas e falhas.
O protagonista Simon é apresentado como um jovem comum, que enfrenta os mesmos dramas, angústias e alegrias que os demais adolescentes da sua idade. O roteiro mostra os acontecimentos de uma forma inteligente, deixando claro que ele não tem vergonha de si, nem medo de ser rejeitado. Existe o respeito com o fato de Simon estar se descobrindo e buscar seu próprio tempo para decidir como e quando revelar ao mundo sua orientação sexual.
Para tratar um assunto tão delicado, a escolha do elenco revela-se um fator importante para que o público se identifique com a naturalidade da trama. Neste time diversificado e divertido, destaque para o jovem Nick Robinson (Jurassic World) na pele do protagonista Simon. O ator entrega uma atuação carregada de emoção e realismo, construindo um personagem carismático e explorando todas as suas nuances.
Ele forma junto com outros atores jovens um time bem escalado de rostos conhecidos do cinema e da televisão. Katherine Langford (13 Reasons Why), Alexandra Shipp (X-Men: Apocalipse), Jorge Lendeborg Jr. (Homem-Aranha: De Volta ao Lar) e Keiynan Lonsdale (The Flash) são os amigos que também passam por dúvidas e inseguranças. O elenco adulto também se destaca. Natasha Rothwell e Tony Hale – ambos hilários – são os professores que servem de alivio cômico, enquanto Jennifer Garner e Josh Duhamel – pais do protagonista – correspondem ao lado emotivo e acolhedor.
Genuíno
Ao apresentar um protagonista gay, a produção correu o risco de ser classificada como uma comédia romântica gay, o que erroneamente pode afastar o público menos tolerante. Portanto, Com Amor, Simon deve ser tratado por aquilo que é: uma ótima comédia romântica, que deve ser explorada por todos os gêneros. A boa recepção da crítica e a acolhida pelo público podem fazer com que Hollywood perceba que outras histórias, além das convencionais, podem ser relevantes e gerar dinheiro.
Com Amor, Simon faz uma breve reflexão sobre tolerância, compaixão e, acima de tudo, sobre como o amor é algo tão puro e genuíno e está disponível para todos. Reflete positivamente na atual sociedade, dando voz para aqueles que lutam contra a opressão. Se fosse realizado anos antes, talvez conseguisse elevar a discussão, dando voz a jovens que não encontraram outra alternativa a não ser tirar a própria vida. A produção destaca: ninguém está sozinho e não precisa se envergonhar.
Sem reforçar estereótipos, Com Amor, Simon marca um importante primeiro passo nos cinemas e pode abrir caminho para várias produções do gênero.
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