Em meio a muitas franquias, reboots e remakes, é de consenso geral que Hollywood vem sofrendo com a falta de originalidade. De vez em quando, uma determinada produção se destaca por ir contra essa maré de repetições e acaba se destacando pela originalidade ou pelo frescor embutido em cena. Neste caso, Lady Bird – A Hora de Voar surge como um grande representante.
Antes de tudo é bom deixar claro que a boa acolhida do filme entre os críticos tem nome e sobrenome: Greta Gerwig. A atriz, roteirista e diretora – assumindo aqui sozinha pela primeira vez o roteiro e a direção – não poderia apresentar o filme num momento mais acertado que o atual cenário cinematográfico. Não que Lady Bird reinvente o gênero, mas diante de tanta cópia, o texto de Gerwig acaba sendo extremamente delicioso.
Greta Gerwig é um dos nomes mais fortes na renovação de talentos de Hollywood. Com Lady Bird, consegue transformar uma trama simples em algo interessante, genuíno e sincero. A grande familiaridade com a trama deixa o público confortável para acompanhar as histórias dos personagens à procura de si mesmos, sem cair no artificialismo. Toda a sua obra é apresentada com muita paixão e isso fica bem evidente durante toda a projeção.
No filme conhecemos Christine McPherson (Saoirse Ronan) uma típica garota comum de 17 anos rebatizada de Lady Bird. Estudante de uma escola católica na cidade de Sacramento, ela não é exatamente popular, o que a leva a fazer certas concessões em busca de novas amizades e interesses amorosos. Em casa, vive às turras com a mãe (Laurie Metcalf), controladora, que cumpre uma dupla jornada de trabalho para compensar o desemprego do pai (Tracy Letts), a quem a menina idolatra.
Ambientado em 2002, período de dificuldades para a economia do país, Lady Bird apresenta uma série de arcos narrativos bem estruturados que vão levando a protagonista a novos caminhos, fazendo o espectador embarcar em cada situação. Cada personagem tem sua própria história e espaço suficiente para se desenvolver.
Os recortes apresentados contam a relação de Bird com sua melhor amiga (Beanie Feldstein), com a garota mais popular da escola (Odeya Rush) e com seus flertes, um músico (Timothee Chalamet) e um cristão com problemas de identidade (Lucas Hedges).
Inspiração
Greta Gerwig usa sua própria vida como inspiração e se apropria de todos os clichês do gênero para subvertê-los e criar uma peça única, à sua maneira. A cena inicial de mãe e filha é um prólogo genial. Aliás, o grande mérito do filme é a exploração dessa relação. As duas personagens são extremamente irritantes, exageradas, mas totalmente cativantes. É fácil amá-las e odiá-las com a mesma intensidade.
O filme conta com um excelente elenco encabeçado pela jovem Saoirse Ronan, uma atriz extremamente talentosa e cativante que entrega em cena todas as dualidades de sua personagem, construindo-a de maneira bem excêntrica, mas na medida certa. Todo o universo em que a personagem habita é bem particular e acaba sendo um deleite acompanhar sua jornada. Laurie Metcalf é a grande âncora do filme, sua personagem tem a ingrata missão de se manter firme e fazer com que tudo ao seu redor continue dando certo. Os atritos entre mãe e filha são cruéis, mas extremamente divertidos. Percebe-se o tempo todo que existe muito amor entre as personagens.
O que chama a atenção é o domínio cinematográfico e a criatividade de Greta para gerar bons personagens e situações. O fato de toda a história lidar com uma fase tão complexa da vida, faz com que a plateia se reconheça em cena e divida com a personagem as mesmas dúvidas presentes como, por exemplo, quando somos obrigados a tomar decisões que afetam toda a nossa existência sem nem ao menos sabermos quem somos de verdade.
Indicado para cinco Oscars – Melhor Filme, Melhor Diretora, Melhor Atriz, Melhor Roteiro Original e Melhor Atriz Coadjuvante – Lady Bird pode não ser o melhor filme da temporada, mas sem dúvida é o que mais inspira.
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