O que o título Missa da Meia-Noite lembra? A Missa do Galo, que a Globo transmite ao vivo do Vaticano todos os anos na Noite de Natal? Ou um dos mais célebres contos de Machado de Assis? Nenhum dos dois. Ao observar que se trata da nova produção de Mike Flanagan – dos ótimos A Maldição da Residência Hill e A Maldição da Mansão Bly – é que deduzimos ser uma série de terror. Mas é muito mais. É uma das melhores coisas que entraram na Netflix nos últimos meses.
Numa cena de abertura brilhante entendemos que Riley Flynn (Zach Gilford, de L.A. Finest: Juntas contra o Crime) estava dirigindo bêbado e causou um acidente que matou uma adolescente. Ele é condenado a um mínimo de quatro anos, e ao sair em condicional, volta para a casa dos pais, numa remota ilha de pescadores de origem irlandesa e católicos chamada Crockett.
A mãe, Annie (Kristin Lehman, de Altered Carbon), o recebe calorosamente. O pai, Ed (Henry Thomas, de A Maldição da Residência Hill e A Maldição da Mansão Bly) tem uma relação complicada com o filho, enquanto o irmão Warren (Igby Rigney, de Velozes & Furiosos 9) está mais preocupado em fumar maconha com os amigos e admirar à distância Leeza (Annarah Cymone), colocada numa cadeira de rodas por um tiro disparado pelo bêbado local, Joe (Robert Longstreet, de A Maldição da Residência Hill).
A comunidade espera o regresso de seu velho monsenhor, que foi à Terra Santa numa viagem paga pelos fiéis, mas quem aparece em seu lugar é um padre bem mais jovem, Paul Hill (Hamish Linklater, de Legion).
Crockett é um vilarejo agonizante, com a pesca comprometida pelo vazamento de óleo de um navio, que valeu aos moradores uma indenização que beneficiou mais a administradora da paróquia, Bev Keane (Samantha Sloyan, de A Maldição da Residência Hill), que a população em geral.
Erin Greene (Kate Siegel, de A Maldição da Residência Hill), namorada de adolescência de Riley , voltou grávida para ocupar o posto de professora que foi da mãe, a quem odeia. A médica Sarah Cunning (Anabeth Gish, também da A Maldição da Residência Hill) está presa a Crockett por causa da mãe, Mildred (Alex Essoe, de A Maldição da Mansão Bly), que sofre de demência e se recusa a deixar a cidade.
O xerife Hassan (Rahul Kohli, de A Maldição da Mansão Bly) é um ex-detetive de Nova York viúvo, que aceitou o emprego no vilarejo por não suportar o anti-islamismo nos EUA e para dar estabilidade ao filho Ali (Rahul Abduri).
Aleatórios?
Todos esses personagens serão envolvidos nos estranhos acontecimentos que se seguirão à chegada do padre Paul. Tudo começa com pequenos eventos aparentemente aleatórios, até desaguar no que parece ser um milagre (está no trailer).
Embora a Netflix tenha cancelado as antologias baseadas em filmes clássicos de terror (Residência Hill é inspirada em Desafio do Além e Mansão Bly em Os Inocentes), neste novo projeto Mike Flanagan voltou a utilizar boa parte de seus habituais colaboradores, como anotei acima. O elenco está ótimo, o roteiro é hipnotizante e a direção é excelente.
Esse é o tipo de série em que spoilers realmente estragam a experiência, então só digo que Missa da Meia-Noite pode escandalizar os católicos. Porém, se deixar os preconceitos iniciais de lado, prepare-se para conferir uma construção engenhosa sobre fé, ritos e mitologia.
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