Primeiramente, quero deixar claro: sou um defensor do cinema nacional. Tento consumir o máximo de filmes, elogio quando se tem que elogiar, mas também falo “mal” quando é preciso falar. É incrível como nosso cinema, ao mesmo tempo em que evolui com filmes com identidade e conteúdo – como os recentes Tungstênio, de Heitor Dhalia, e Arábia, da dupla João Dumans e Affonso Uchoa – retroceda com filmes como Não Se Aceitam Devoluções.
Definitivamente, não há razão para a existência desta versão brasileira do original mexicano de 2013. Resta apenas uma tentativa vaga de ‘abrasileirar’ uma produção que não justifica sua própria existência. Não bastasse o esforço pífio na caracterização, com algumas bandeiras do Brasil na casa do personagem de Leandro Hassum, ainda temos o inglês e o portunhol utilizados por diversos personagens, resultando em um uso excessivo de legendas. Pode funcionar no México, aqui não.
Na história, Juca Valente (Hassum, de Até que a Sorte nos Separe) é um sedutor descompromissado que foge de casamentos, mas adora mulheres. Um dia, Brenda (a atriz cubana Laura Ramos, de Sangue Azul), sua ex-namorada, abandona a pequena Emma, ainda bebê, com ele. Desesperado, Juca viaja para os Estados Unidos atrás de Brenda com a esperança de lhe devolver a criança. Seu plano não dá certo e ele fica por lá, trabalhando como dublê. Quando a menina faz seis anos, a mãe reaparece para pedir a guarda da criança.
Se a intenção da produtora e do diretor André Moraes era passar a mensagem do filme mexicano à frente – como eles próprios disseram na coletiva da imprensa após a exibição do filme – que pelo menos houvesse certa originalidade na abordagem ou desenvolvimento da história, já que o filme se resume a ser uma cópia de diversas cenas e não me serve a desculpa de pendurar bandeiras do Brasil aqui e acolá no estúdio para tentar gerar certa identificação com o público brasileiro.
Tropicalizar
Ora, se o filme mexicano já possui a tal mensagem universal, qual a razão de se fazer um remake com a tentativa de “tropicalizar” (palavra que eles mesmos usaram) a história? É a banalização que Hollywood tanto faz e nosso cinema não precisa. Fora isso, decidi assistir ao original para criticar com mais veemência o humor e algumas escolhas deste aqui, e vejo que o problema já vem daquele filme. E como este remake se presta apenas a copiar praticamente tudo, sem originalidade alguma, as coisas ruins continuam.
Hassum está mal, não cola como ator dramático, e quando tenta aparecer com seu humor passa do ponto. Aliás, essa é a grande diferença entre o filme brasileiro e o mexicano: enquanto o ator e diretor Eugenio Derbez não tenta sobressair ao personagem, Hassum, com seus trejeitos de comediante, se utiliza de piadas fora de hora e caras e bocas que talvez funcionassem com o público do antigo Zorra Total.
Ao final, fica a nítida impressão de que Não Se Aceitam Devoluções é desnecessário e um atraso para o cinema nacional. Desperdício de tempo e dinheiro. Se ainda assim lhe interessar, assista o original produzido no México, Não Aceitamos Devoluções (2014), que bateu recordes de bilheteria por lá e se tornou o longa de língua espanhola que mais vendeu ingressos nos Estados Unidos.
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