Decididamente, 2017 parece ser um ano em que atores acostumados a comédias se envolveram de vez com dramas e filmes – digamos assim – mais “sérios”. Vince Vaughn está implacável no excelente Brawl in Cell Block 99, ainda não tão comentado por aqui, mas um dos grandes filmes do ano. Adam Sandler está carregado em drama na produção da Netflix, Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe, onde atua ao lado de Ben Stiller, protagonista de O Estado das Coisas (Brad’s Status).
Dirigido por Mike White – roteirista de Escola de Rock e Nacho Libre – O Estado das Coisas é um filme que acompanha o quase cinquentão Brad Sloan (Ben Stiller, de A Vida Secreta de Walter Mitty), que possui uma pequena empresa sem fins lucrativos e está em crise existencial. Sua vida sexual com a esposa (Jenna Fischer, de Passe Livre) é nula, seus antigos amigos de faculdade estão todos bem-sucedidos e ricos e, por fim, seu filho Troy (Austin Abrams, de Cidades de Papel), um talentoso e promissor músico, está prestes a ir para a universidade.
A trama se desenvolve a partir da viagem que pai e filho fazem para que o garoto possa participar de entrevistas nas universidades onde deseja estudar. Este intervalo e isolamento de sua rotina fazem com que Brad comece a se perguntar: onde foi que eu errei? A princípio, parece ser um filme que trata de um tema batido – dramas contemplativos com homens maduros em crise de maturidade existem aos montes por aí –, mas o diretor e roteirista Mike White sabe disso.
A narração em off do personagem de Stiller nos permite entender seus pensamentos, é uma ótima sacada. Ao demonstrar inveja de seus ex-amigos de faculdade, menosprezar a esposa e invejar até mesmo o próprio filho, a narração faz seu trabalho julgador e chega para nos aliviar de um caminho que a trama poderia seguir. A trilha sonora também é um grande acerto e ajuda nesses momentos, sem ser intrusiva, dando o tom exato para o drama de Brad.
É um filme sensível, onde o desenvolvimento do personagem de Ben Stiller é praticamente um estudo que fazemos junto dele, todas as interações com as mais diversas pessoas de seu ciclo ou de fora dele são essenciais para fazê-lo enxergar algo de errado em si mesmo. O diálogo com a bela e jovem Ananya (Shazi Raja, em seu primeiro longa) é um tapa na cara do personagem.
Ben Stiller – que já havia demonstrado talento para o drama em Enquanto Somos Jovens – entrega uma atuação bastante convincente e Mike White nos aproxima de seus personagens com bons diálogos e situações comuns, tornando O Estado das Coisas uma produção que vale a pena ser conferida, embora deva passar despercebida do grande público.
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