Tem artistas que se especializam em um tipo de filme, e talvez seja isso que os faz serem tão “cativantes” – Arnold Schwarzenegger e os brucutus do cinema de ação dos 80/90, Jim Carrey e suas comédias escrachadas recheadas de caras e bocas e Jackie Chan e seus filmes repletos de cenas mirabolantes de porradaria e ação, sempre muito bem pontuadas com bom humor, são exemplos disso. Mas, mais do que isso, também mostram atores que souberam trilhar outros caminhos no cinema – o fisiculturista austríaco sempre se deu bem na comédia e tem tentado enveredar por caminhos mais sérios; Carrey já teve atuações dignas de premiação, quando deixou de falar com animais e com as próprias nádegas. E agora parece que é a vez do nosso querido astro marcial chinês.
O Estrangeiro, que estreia no Brasil nessa quinta-feira, mostra uma faceta mais séria, mais realista do velho Jackie – faceta essa já explorada em filmes orientais como o mais recente capítulo da franquia Police Story, que catapultou o ator para o estrelato mundial. Mas aqui no ocidente ainda não é comum lidar com um Jackie Chan que não estampa em seu rosto um dos mais carismáticos sorrisos de Hollywood, e isso pode causar estranheza nos mais desavisados.
Com a direção de Martin Campbell (responsável por 007 – Cassino Royale e Lanterna Verde), O Estrangeiro opta por trabalhar mais a tensão do que a ação em si, como o trailer deixa a entender. Jackie Chan vive o comerciante chinês Quan, que vê sua filha ser morta em um ataque terrorista, cuja autoria é assumida por um grupo intitulado IRA Autêntico, uma dissidência do Exército Revolucionário Irlandês. Sem qualquer apoio das autoridades locais para encontrar informações sobre os autores, Quan decide buscá-los por conta própria – ainda que tenha que passar por cima do vice Vice Primeiro-Ministro Liam Henessey, vivido por Pierce Brosnan.
Dividido nesses dois núcleos, por momentos o filme parece não saber muito bem qual caminho trilhar – há momentos de tensão, com cenas de ação que com um corte de edição se tornam reuniões entre políticos, que momentos depois passam para alguma cena envolvendo a família de Henessey. Essa troca repentina de clima acaba por “quebrar” a ambientação do filme, atrapalhando alguns bons momentos. Mas conforme o filme vai se aproximando de seu terceiro ato, as coisas se equilibram mais, e o fato dos dois personagens principais serem bem desenvolvidos, além de entregues em atuações bem críveis (especialmente a de Chan, que demonstra um olhar vazio e desolado que nos faz crer que ele realmente sente a dor de quem perdeu a família), faz com que esse ponto não chegue a ser irritante.
É claro que há de se relevar o fato de que um homem sexagenário tem uma facilidade incrível para se aproximar e aterrorizar uma autoridade britânica, seus guardas e tudo mais – com direito a explosão de bomba caseira, armadilhas na floresta e tudo mais. Se as cenas não fossem tão bem coreografadas, e o clima mais “realista” não funcionasse, isso poderia incomodar – mas estamos falando de Jackie Chan, não é mesmo?
Portanto, vá preparado para ser entretido por 1h40 com boas doses de tensão, acrobacias que só o nosso velhinho chinês poderia nos entregar, uma boa direção e uma história que, se não é intrincada e “cabeça”, ao menos é algo mais do que a simples historieta de vingança, tão trivial em tempos de Liam Neeson e congêneres.
Ah, nem adianta ficar para ver os créditos: não tem as famosas e divertidíssimas cenas de making off que os filmes do Jackie Chan sempre trazem. Que mancada, hein?
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