Quando criou e dirigiu a primeira temporada de Pacificador, em 2022, James Gunn era um funcionário do DC Estudios. Agora, em 2025, ele é o big boss criativo do universo cinematográfico, e já começa a segunda temporada da série de seu anti-herói favorito mudando o final da anterior, em que apareciam os heróis da Liga da Justiça do Snyderverso. Agora, o recap coloca a Gang da Justiça, que aparece em Supérman, no recap que abre a temporada. Alguma explicação? Não, e bola pra frente.
A segunda temporada começa com o grupo na pior, depois de salvar o planeta de uma invasão alienígena. Adebayo (Danielle Brooks) resolve abrir uma agência de segurança depois de perder o emprego na A.R.G.U.S. por desmascarar a própria mãe, a poderosa Amanda Waller (Viola Davis, que não aparece na série). Hartcourt (Jennifer Holland) desconta a frustração por ter se tornado persona non grata em todas as agências de inteligência arrumando brigar em bar. Economos (Steve Agee), o único que manteve o emprego, também está infeliz na A.R.G.U.S., especialmente por ter que espionar seu amigo Chris Smith, ou Pacificador (John Cena), Seu novo chefe é Rick Flag Sr. (Frank Grillo, que conseguiu ser vilão tanto no MCU quanto na DC), pai do Rick Flagg (Joel Kinnaman) morto por Smith em O Esquadrão Suicida; e seus novos colegas são Sasha Bordeaux (a argentina Sol Rodriguez) e Langston Fleury (o comediante Tim Meadows), com quem ele definitivamente não se dá bem.
Já o nosso protagonista vai a uma hilária entrevista de emprego na Gang da Justiça, em que estão o Lanterna Verde Guy Gardner (Nathan Fillion, bestie de James Gunn), a Mulher-Gavião (Isabella Merced, de The Lat of Us) e Maxwell Lord (Sean Gunn, irmão de James), que não dá certo. Frustrado, ele acaba numa orgia de sexo – para ciúme de seu amigo Vigilante (Freddie Stroma) – e drogas, e acaba descobrindo que o portal dimensional de sua casa dá acesso à uma Terra alternativa em que seu irmão Keith (David Denman) e seu pai Auggie (Robert Patrick) estão vivos. Lá, os três são os maiores heróis do mundo e ele tem uma relação com a Hartcort desse universo.
É claro que isso vai deflagrar um dilema entre as tristezas em seu próprio mundo e o que parece ser um paraíso, que na verdade não é tão lindo assim, como será revelado mais tarde. Enquanto isso, seus amigos tentam salvá-lo da perseguição de Flag pai, que usa todos os recursos ao seu dispor em busca de vingança por seu filho, inclusive com ajuda de um dos maiores supervilões do universo DC.
Há um desenvolvimento de personagens da gang da 11th Street Kids (nome de uma música do Hanoi Rocks, banda querida pelo Pacificador e, provavelmente como Gunn). Adebayo, que na temporada anterior fazia da A.R.G.U.S. uma forma de fazer dinheiro para realizar o sonho da esposa, Keeya (Elisabeth Faith Ludlow, que atuou em uardiões da Galáxoa), de montar um petshop. Nesta temporada, ela conclui que o trabalho de inteligência e segurança é o que ela ama fazer, e de forma adulta, comunica isso à Keeya, que detesta que a companheira viva em perigo. Hartcourt reluta em compartilhar os sentimentos de Chris, numa toada até meio cansativa, que acaba tendo um contraste com sua versão afetiva do universo paralelo. Economos é o elemento infiltrado no inimigo, que só permanece lá para efeito de comédia, porque não é possível que continuem confiando nele. Finalmente, conhecemos a casa e a mãe do Vigilante, e descobrimos que ele guarda uma fortuna em dinheiro e drogas dos traficantes que ele matou. E a interação com sua versão do universo paralelo é ótima.
Em relação a Cena, parece que Gunn quer desenvolvê-lo como ator com o fez com outro astro do WME, Dave Bautista em Guardiões da Galáxia. O problema é que Dax não era o protagonista, que é o caso do Pacificador, que tem que levar a narrativa nas costas e criar nuances de atuação acima do que o intérprete é capaz.
Mas os novos personagens são ainda piores. O Fleury de Meadows é irritante e não teme nehuma função, além do alívio cômico duvidoso. A Bordeaux da hermana Sol Rodriguez, começa como puxa saco e pegue-te do chefe, e acaba entrando para a galera após perceber a obsessão de Flag pai em caçar os metahumanos (curioso, porque não é o caso de nenhum dos 11th Street Kids). E ainda tem o caçador de águia encaregado de abatger Eagly, o pet do Pacificador, interpretado por Michael Rooker, outro egresso de Guardiões da Galáxia que não diz muito a que veio. E o principal antagonista, que entra na história movido pela vingança, quando descobre o portal dimensional, volata a gastar recursos materiais e humanos com uma finalidade no mínimo injustificável, que vai dar num desfecho de temporada muito decepcionante. A não ser que o cliffhanger seja resolvido em algum filme ou outra série do Gunnverso, vamos ter que esperar mais três anos – ou mais, considerando a agência de James Gunn – para assistir à solução do problema. Por ser um projeto queridinho do big boss, o final dessa temporada é um furo na água.