Review | Pantera Negra

O cinema de hoje pede mais. Com um público cada vez mais exigente, nossa sociedade tem enaltecido filmes importantes para os nossos tempos. Se a Warner/DC acertou em cheio com Mulher-Maravilha, ao dar força e representatividade às mulheres, é a vez da Marvel também acertar com Pantera Negra, o herói negro da geração atual.

Muito se fala sobre o padrão Marvel. Desde 2008, com Homem de Ferro, o estilo Marvel de se fazer blockbuster tem sido tão explorado que parece estar se desgastando (apesar de a crítica ainda comprar alguns deslizes do estúdio). Esse estilo, basicamente, consiste em um tom cômico exagerado, vilões mal explorados e uma estética esquecível – Doutor Estranho é o último trabalho do estúdio que traz algo diferente neste quesito.

Além disso, alguns dos filmes do estúdio – principalmente os do Thor – também sofreram por não se conectarem aos demais filmes do universo, parecendo apenas uma história genérica feita para encher os cofres dos produtores e não entregar nada relevante ao público. Não que seja errado contar as histórias de seus heróis – os leitores das HQs amam isso – mas é justamente isso que faz o tal padrão Marvel ser tão irritante, contar histórias desencorajadas durante duas horas que, posteriormente, serão esquecidas pela maioria do público, além de não saber dar identidade aos seus heróis, já que estes fazem piadas a todo instante e enfrentam vilões fracos com motivações pífias (apesar de sempre se mostrarem extremamente poderosos).

Pantera Negra vem para dar um fôlego ao universo e entregar um filme de super-herói tão original quanto Homem de Ferro.

Origem

Pantera Negra pode ser visto como um filme de origem. Apesar de termos sido apresentados a T’Challa (Chadwick Boseman, de Deuses do Egito) em Capitão América: Guerra Civil, é neste filme que conhecemos as origens de Wakanda e das tribos que a povoam, com um belo prólogo animado fazendo este serviço.

Depois de uma breve passagem por 1992, somos levados aos tempos atuais, onde nos situamos logo após a morte do rei de Wakanda, T’Chaka (John Kani). T’Challa é coroado novo rei de seu povo e deverá enfrentar diversos desafios para defender sua terra e a tecnologia que ela possui.

Com uma mensagem extremamente atual, Pantera Negra se diferencia dos demais filmes de super-heróis justamente por isso. Sabe utilizar o estilo Marvel a seu favor e também consegue ser atual e importante para uma geração e para um povo.

O primeiro ponto a se destacar de Pantera Negra é o seu elenco repleto de atores negros, algo que vem sendo discutido desde as primeiras notícias acerca do filme. Lupita Nyong’o (12 Anos de Escravidão), Forest Whitaker (Rogue One: Uma História Star Wars), Daniel Kaluuya (Corra!), Letitia Wright (Black Mirror: Black Museum) e Danai Gurira (The Walking Dead) são coadjuvantes que não servem apenas para alçar T’Challa ainda mais ao papel de herói e rei de Wakanda, todos têm sua importância e isso dá ainda mais força à trama.

O diretor Ryan Coogler (Creed: Nascido para Lutar) atinge outro ponto crucial ao criar um belíssimo visual e dar identidade a Wakanda, mostrando as diversas tradições daquele povo, desde a coroação de um rei até as saudações, batalhas e músicas, aliados de um design de produção colorido.

Se os filmes da Marvel costumam entregar vilões rasos e com motivações bobas, o vilão de Michael B. Jordan (Quarteto Fantástico) nada totalmente contra essa maré. Se a princípio ele parece apenas mais um bandido durão, com o desenrolar da história evolui com um discurso que convence. Seu ódio é natural e humano e, a certa altura, podemos nos questionar: peraí, ele não tem razão?

São justamente os questionamentos de Killmonger (B. Jordan) que trazem algo a mais para a trama de Pantera Negra. Toda a crise dos refugiados no mundo, o povo negro explorado durante séculos e a construção do muro de Donald Trump, são alguns dos breves discursos presentes em Pantera Negra e que, por serem atuais, fazem o filme não ser mero escapismo.

Mas Pantera Negra também serve ao gênero e não é apenas panfletário. Se o filme demora a engrenar, é após uma excelente sequência de ação na Coreia do Sul – onde o trabalho de câmera de Coogler cria um incrível plano sequência dentro de um bar – que a história engrena.

O roteiro esperto e ágil do próprio Coogler, em parceria com Joe Robert Cole, também acerta ao mostrar que o herói Pantera Negra é muito mais que um uniforme. Parafraseando o que Tony Stark disse a um jovem Peter Parker em Homem-Aranha: De Volta ao Lar, se ele não fosse nada sem o uniforme, não o mereceria. E T’Challa faz por merecer seu traje e poderes.

Os únicos problemas de Pantera Negra são algumas resoluções fáceis, onde os personagens mudam rapidamente de opinião. O terceiro ato também é rápido demais e as duas cenas pós-créditos são uma ramificação deste. Talvez a decepção – que não tira os méritos do filme – venha por Pantera Negra não servir como introdução a Vingadores: Guerra Infinita. Mesmo assim, é efetivo em nos mostrar mais desse herói africano e, agora, mundial.

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Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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