Review | 1 Contra Todos (1ª temporada)

Eu poderia começar esse texto caindo no cliché de falar o quanto a produção brasileira televisiva tem sido refém do cliché por muito tempo, mas não vou fazer isso, pretendo começar meu texto de uma maneira mais inteligente e inovadora – mas na verdade, eu cai no cliché.

É assim que vejo que boa parte da produção audiovisual (em especial aquela mais comercial) tem se comportado nos últimos anos, exceto pela parte de se assumir refém de certas fórmulas. Houveram sim boas exceções à regra, mas parece que há toda uma onda de querer se passar por cult, ou apenas diferentão. Vejamos o caso mais recente da série da Globo, Supermax, que acabou sendo uma tragédia para os padrões globais de audiência – os críticos a atacaram por ser uma amálgama do que o terror/suspense maisntream norte-americano tem feito. Foi inegavelmente um passo adiante em uma nova direção – a do terror; mas ao mesmo tempo parece ter sido um passo atrás quanto à inventividade e ao roteiro.

Dito isso, lhes apresento esse seriado produzido pela Fox BR: 1 Contra Todos. A premissa é simples: o advogado Cadu está prestes a ser pai de seu segundo filho, e num dia de muito azar, perde o emprego, o respeito da mulher, a reforma do quarto do novo rebento e acaba preso, confundido com o maior traficante brasileiro, que atende pela alcunha de Doutor. Porém, como é dito no seriado, a justiça acabou prendendo o “último homem honesto” do país. Acredito que dizer mais do que isso é spoiler, e vale a pena acompanhar o desenrolar da história sem maiores detalhes.

A primeira imagem que deve ter vindo à sua cabeça é de algo como Carandiru, e existe sim certa semelhança com o filme de Hector Babenco – os personagens são bem característicos, de personalidades bem demarcadas, de certo ponto até bem maniqueístas: existem os bonzinhos, os malvados e corruptos, e aqueles que você sabe que vão ser os traidores. Mas o núcleo de atores e a direção deles não deixa que se tornem meras caricaturas – e vale destacar o trabalho do casal de protagonistas Cadu e sua esposa Malu, interpretados pelos ótimos Júlio Andrade e Júlia Ianina, que trazem a profundidade necessária para os dois personagens, que durante o decorrer do seriado vão do céu ao inferno em poucos momentos. Bom também citar o bom elenco de apoio, composto de personagens carismáticos, ainda que sejam “rostos conhecidos” como o prisioneiro grandalhão – mas amoroso – China, a figura materna do Mãe (sim, O Mãe), o mais velho conselheiro Professor, o diretor corrupto, e aquela figura dúbia que não merece confiança, que aqui é o Playboy.

O roteiro é muito correto, embora contenha alguns momentos onde você precisa dispor de uma certa “suspensão de descrença” para que continue tudo caminhando muito bem. Mas a construção do personagem Cadu, do Doutor, a forma como todo o ambiente e as circunstâncias vão trabalhando soam bem naturais – levando em consideração que o seriado é bem curto, com apenas oito episódios de pouco mais de meia hora de duração cada. Há bons diálogos na série, que transcorrem de maneira natural – o que ao meu ver é um dos grandes empecilhos nos seriados naturais, onde uma simples conversa de padaria soa algo sempre burocrático.

A trilha sonora é condizente com o que o visual pede – mais um ponto positivo. Veja por exemplo a trilha de abertura – que deixa bem claro, na voz de Criolo, que “não existe amor em SP” – muito embora a relação dentro do presídio se aproxime do familiar em quase todo o seriado. Mas fugiu do comum de jogar músicas conhecidas, só pelo hype que trazem consigo, e que às vezes faz da aura audiovisual algo desconexo.

Da esquerda para a direita: Cadu (Julio Andrade), Malu (Júlia Ianina), Diretor Demóstenes (Adriano Garib), China (Thogun Teixeira), Playboy (Sacha Bali), o filho de Cadu, Téo (Luis Felipe Melo) e o Mãe (Silvio Guindane)

A produção da Fox não consegue ser inovadora, embora busque apresentar caminhos diferentes para coisas já bem exploradas na dramaturgia nacional. Mas não há problema em ficar preso a velhas fórmulas desde que a execução do produto seja bem feita, e é esse o caso de 1 Contra Todos. A série é redondinha, divertida, te entretém e te mantém ansioso pelos próximos episódios, que caminham numa crescente bacana.

É uma pena que o seriado não teve um espaço maior na mídia, embora a boa audiência em sua exibição na Fox entre os meses de junho e agosto desse ano tenham garantido a produção da segunda temporada. Há um gancho para isso, e imagino, a possibilidade para a série seguir outros rumos.

Vi alguns locais apontando semelhanças entre 1 Contra Todos e Breaking Bad, mas além da mistura entre família, drogas e crime, e a exploração de um “anti-herói” no papel principal, não vejo mais quesitos em que as duas produções possam ser colocadas lado a lado – suas propostas, suas aspirações enquanto produtos televisivos são bem diferentes.

O seriado da Fox é tipicamente brasileiro, o que nem sempre é um problema – desde que esteja ciente disso. Há alguns problemas na série criada/dirigida por Breno Silveira (2 Filhos de Francisco), como certos furos e escorregadas no roteiro, quase caricaturização dos personagens, maniqueísmo inocente, mas inegavelmente foi feito bastante aqui – nota-se o esmero técnico com o que deve ter sido uma verba curta; as atuações são mais do que convincentes e a história é amarrada, ainda que com um gancho para a segunda temporada. Ficam as boas expectativas para que, após uma primeira experiência com um saldo positivo, haja mais coragem para a segunda temporada.

A primeira temporada de 1 Contra Todos está disponível para os assinantes do serviço FoxPlay, e o primeiro episódio você pode conferir completo logo abaixo – cortesia da própria Fox BR em seu canal do Youtube. Vale a pena conferir.

1 Contra Todos

Nacional – Fox

1º Temporada – 8 Episódios

Direção: Breno Silveira

Roteiros:  Thomas Stavros e Gustavo Lipsztein.

Elenco: Júlio Andrade,  Julia Ianina, Adriano Garib, Xando Graça, Roney Villela, Thogun Teixeira, Silvio Guindanae, Caio Junqueira, Gustavo Novaes, Roberto Birindelli, Stepan Nercessian, Sacha Bali, Luiz Felipe Melo.

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Alexandre Fernandes

Pai do Yuri Rafael, sou só um cara de meia idade que reclama bastante, mas não ao ponto de perder o bom humor. Nostalgia é meu sobrenome, e sim: gosto muito de cultura pop, filmes, séries, música, animes e mangás, videogames e tudo isso aí que faz um nerd. Mas não sou nerd, eu juro.

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