No final dos anos 80, a Disney passava por uma crise de criatividade no âmbito das animações. Para a felicidade da companhia, eles nunca dependeram apenas delas, os parques temáticos, as produções televisivas e os live-actions também receberam investimentos nessa época, mas era desconfortável ver o estúdio perdendo espaço em um daqueles que mais fizeram a magia da Disney ser reconhecida mundialmente.
Pouquíssimos filmes dos anos 70 e 80 ainda são lembrados hoje com alguma nostalgia, nem mesmo as canções daquela época ficaram marcadas. Foi apenas no início dos anos 90, com A Pequena Sereia e A Bela e a Fera, que as animações do estúdio voltaram a reascender aliando músicas apresentadas no estilo da Broadway, fortes aspectos culturais e um grande investimento na publicidade dessas produções. A fórmula estava pronta.
Foi justamente em 1992 que a dupla de diretores Ron Clements e John Musker (ambos de A Pequena Sereia) lançou Aladdin, uma animação baseada em um conto de As Mil e Uma Noites. Na época, o longa firmou a tendência de utilizar atores famosos para a dublagem – como não se lembrar de Robin Williams como o Gênio? – e foi um grande sucesso de bilheteria, sendo a primeira animação a arrecadar mais de meio milhão de dólares nas bilheterias mundiais.
Precisava de live-action?
Tal sucesso talvez não justifique o fato da existência de um live-action. Entretanto, a Disney parece querer surfar em mais uma onda que ela mesma lançou, repaginando estes clássicos de forma que eles funcionem tanto para os adultos quanto para as crianças. Basta olhar o calendário dos próximos dois anos e perceber que quase dez datas estão reservadas para produções do tipo.
O escolhido para dirigir a nova aventura de Aladdin, Gênio e Jasmine (Naomi Scott de Power Rangers – O Filme) foi Guy Ritchie, diretor conhecido por seus filmes de ação frenéticos e contemporâneos que recontam histórias clássicas como a de Sherlock Holmes e Rei Arthur. Além dele, houve um cuidado da produção em trazer um ator de ascendência egípcia para o papel principal. Mena Massoud manda muito bem como Aladdin, ele é carismático, ágil e se sai bem tanto nas cenas de ação – dignas dos filmes de Ritchie – quanto nas cenas de dança, uma delas hilária, quando ele é comandado pelo Gênio de Will Smith.
Aliás, Smith talvez seja a melhor coisa daqui. Se a tarefa de encarnar o Gênio emblemático do saudoso Robin Williams parecia ingrata – já que na animação era bem mais fácil utilizá-lo para piadas visuais – Smith parece não encontrar nenhuma dificuldade em fazer do Gênio um personagem seu, sem perder a essência do personagem da animação. É uma boa sacada também colocar o personagem em sua forma humana por boa parte da projeção, assim, ele funciona como um fiel aliado de Aladdin e os momentos em que ele convenientemente vai além da relação amo/criado se justificam.
Mudando o destino
Neste novo roteiro, assinado por John August (A Fantástica Fábrica de Chocolate) e Ritchie, a mensagem fica ainda mais clara. Aladdin fala sobre até onde você é capaz de ir para mudar seu próprio destino. Aqui, os personagens encaram a todo instante aquilo que já parece pré-estabelecido a eles.
Aladdin, constantemente, é insultado por ser um ladrão das ruas – aliás, é esse o mote principal de seu conflito, ele pede ao Gênio que o transforme em um príncipe para que possa se aproximar de Jasmine. O Gênio, assim como na animação, tem o sonho de ser livre, mas depende que seu amo reserve um dos três desejos para tal. Jafar (Marwan Kenzari de Assassinato no Expresso do Oriente) vê com avareza as possibilidades de se tornar o mais poderoso de Agrabah, tendo ainda a arara Iago a todo instante gritando em seu ouvido “segundo, segundo”. E por fim, Jasmine ganha um belíssimo tratamento nesta versão.
Se na animação sua personagem já demonstrava uma rebeldia acerca daquela sociedade patriarcal onde as princesas servem apenas de moeda de troca para alianças com outros reinos, neste live-action ela é ainda mais empoderada, tendo uma canção toda para si em um dos momentos mais marcantes quando o assunto é o protagonismo feminino no cinema atual.
Por mais que seja um remake em live-action que praticamente não desfaz nada da estrutura da animação, há algumas novidades pontuais aqui, desde novas músicas – tanto para Jasmine quanto para Aladdin – além da presença ainda mais forte de Jasmine. Com isso, este novo Aladdin é a Disney mais uma vez aplicando uma fórmula que ainda não é garantia de sucesso – basta ver os números de bilheteria de Dumbo – mas eles parecem dispostos a apostarem as fichas nesta nova empreitada.
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