Review | Armadilha

Cheguei ao cinema para ver Armadilha com um pé atrás, não apenas pelas decepções anteriores com M. Night ShyamalanTempo (2021) e Batem à Porta (2023) – mas por críticas negativas. E acabei me surpreendendo positivamente, acho até que é o melhor trabalho do diretor desde Vidro (2019). Mas, a exemplo do fechamento da trilogia Corpo Fechado, tem seus problemas.

O galã Josh Hartmett (Pearl Harbor, Xeque-Mate) é Cooper, um pai que está levando sua filha de 12 anos, Riley (Ariel Donaghue), para o show de sua cantora favorita, Lady Raven (Saleka Shyamalan, filha do cineasta). Ele começa a reparar o forte policiamento dentro e fora do ginásio, e acaba descobrindo que o espetáculo é uma armadilha para capturar o serial killer Açougueiro, que vem a ser ele mesmo (nem é spoiler, porque está no trailer).

Temos então um criminoso tentando escapar de uma cilada do FBI, tendo como complicador a filha, que não tem ideia das atividades ‘extracurriculares’ do pai. Não há como fugir e deixar a garota no vácuo. A ideia inicial de Shyamalan é, como quase sempre, ótima e, ao contrário de tantas vezes, se desenvolve bem, com algumas coincidências convenientes, mas de modo geral nos envolvemos com a peripécias de Cooper em busca de uma saída, mesmo ele sendo um sujeito mau.

É claro que não se trata de um Hannibal Lecter, cujas vítimas são piores que ele. Cooper não se importa com ninguém. Mas ficamos curiosos em saber como ele vai se safar, apesar da psicanálise de boteco – a que seu ídolo Hitchcock também recorria – tudo é narrado com o que o cineasta faz de melhor, que é filmar.

Nepotismo

O problema com Shyamalan aqui é saber onde parar. Ao contrário de Tempo e Batem à Porta, cujas resoluções parecem ser insatisfatórias até para ele, aqui o diretor e roteirista se entusiasma consigo mesmo e estica a narrativa até o final que… WTF (e com direito a uma cena pós-crédito que vale conferir).

Ariel Donaghue faz aquilo para o qual foi escalada, que é ser uma adolescente comum, mas o nepotismo do diretor-paizão funciona até que a filha Saleka tem que atuar de verdade. Mesmo com a cinematografia de Shymalan a favor, a garota não convence. Por outro lado, a escalação de Alison Pill, atriz com currículo de destaque (Scott Pilgrim, série Newsroom), como esposa de Cooper, dá uma dica que ela não será uma mera coadjuvante.

Saí satisfeito com a sensação de que M. Night Shyamalan, mesmo não sendo mais a atração de bilheteria que já foi, se mantém fiel a si mesmo e, mais importante, conseguiu entregar um entretenimento divertido. Confira Armadilha e surpreenda-se!

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

Leia também...

Mais deste Autor!

+ Ainda não há comentários

Add yours