Review | Assassin’s Creed Origins

Quando os jogadores terminaram a saga de Ezio Auditore da Firenze, em Assassin’s Creed Revelations, a ideia de ter uma história como aquela ambientada no Egito antigo foi bastante incentivada e difundida entre os jogadores. No entanto, depois da Itália Renascentista, a série passou pela Revolução Americana, a Revolução Francesa, a época de ouro da pirataria e a Revolução Industrial, não necessariamente nessa mesma ordem. Eis que, depois de muita insistência da comunidade, a Ubisoft anunciou e trouxe para as mãos dos jogadores Assassin’s Creed Origins, ambientado no Egito antigo e que conta a história do início da Ordem dos Assassinos.

Origins é o primeiro da série que não é anual. Acertadamente, a Ubisoft optou por dar um fôlego a franquia e não publicar Assassin’s Creed em 2016 para conseguir trabalhar com calma e trazer uma nova abordagem para a franquia em 2017. Ela veio com Assassin’s Creed Origins.

Neste título da série toda a trama acontece no Reino Ptolomaico, com o Faraó Ptolomeu XIII expulsando sua irmã Cleópatra do trono. Em meio a tudo isso, Origins ainda nos ambienta sobre a relação do povo egípcio com gregos e romanos, que também ocupavam o Egito na época. Paralelamente a este cenário, você encarna Bayek, um medjai – espécie de protetor do Egito – e em algumas sequências Aya, uma guerreira poderosa e também mulher de Bayek, que possuem motivações próprias para ir atrás de vingar o assassinato de seu filho.

Muito da qualidade de Assassin’s Creed Origins é suportada pela presença, carisma e dinamismo que o casal de protagonistas proporciona para a narrativa. Desde os primeiros minutos fica impossível não se identificar com a história de vingança que impulsiona Bayek e Aya para seu objetivo em comum. Para eles, mesmo que o futuro e a liberdade do povo egípcio passe a entrar em jogo com o decorrer da narrativa, tudo que importa é vingar a morte de seu filho. Mesmo assim, o que poderia facilmente ser interpretado como egoísmo de Bayek e Aya, cede lugar a uma empatia com o sofrimento do povo egípcio nas mãos de tiranos romanos. É como se o sofrimento, tanto do casal, quanto do povo, fossem um só.

Mas além de Bayek e Aya, Assassin’s Creed Origins possui um terceiro personagem: o Egito. Após ser bastante criticada, principalmente nos dois últimos títulos da série (Unity e Syndicate), por deixar de lado a ambientação do mundo e priorizar a inclusão de inúmeras atividades (muitas delas consideradas insossas e sem propósito), que mais poluíram o mapa do jogo do que atraíram os jogadores, a Ubisoft entregou um Egito vivo e rico em humanidade. Ainda há ícones no mapa, mas em uma quantidade razoavelmente inferior aos títulos anteriores, mas além de ser um prato cheio para os olhos (o modo foto que o diga), a forma como cada pessoa, animal, tumbas e montanhas estão dispostos e convivem no mapa convida o jogador a explorá-lo, que não intimida, de forma alguma, com seu tamanho. E eu preciso te dizer: coloca tamanho nisso.

Em contrapartida, ao dar bastante espaço para os protagonistas, ao Egito e ao seu povo, a Ubisoft deixa os antagonistas de lado. Ao moldes de toda a franquia Assassin’s Creed, em Origins você precisa desmantelar um grupo de figuras poderosas, aqui chamado de Ordem dos Anciões, que estão para tomar o Egito de assalto. No entanto, ao contrário da trilogia Ezio, por exemplo, em que o grande vilão recebe o devido destaque desde o início da trama e suas ações e influência são visíveis dentro daquele mundo, mesmo que ele não esteja em cena, em Assassin’s Creed Origins a narrativa pula de vilão para vilão para somente no ato final do jogo deixar claro quem é a verdadeira mente por trás de tudo aquilo. Mesmo ancorado em fatos históricos (o que te ajuda a imaginar pra onde a história vai caminhar), a ausência da figura do vilão todo poderoso durante boa parte do jogo tira o peso devido em seu final.

Tiro, porrada e bomba!

Antes de Assassin’s Creed Origins, o título mais recente que havia jogado era o excelente Assassin’s Creed: Black Flag e se a minha memória não falha, o combate no jogo protagonizado pelo pirata Edward Kenway ainda herdava muitas características da trilogia Ezio com inimigos que mais pareciam uma porta ao entrar em combate com o protagonista. Em Origins a coisa muda de figura. Com muita cadência, as lutas travadas em terras egípcias vão exigir um pouco mais do jogador, que precisará pensar mais estrategicamente durante as lutas. Além disso, aqui, inimigos em grupos não se revezam para te atacar, eles descem a lenha em você todos ao mesmo tempo. É tiro, porrada e bomba. Então, se prepare, você vai fugir bastante de combate durante o jogo.

Outra boa adição é presença de Senu, a águia de Bayek – uma herança de outros jogos da Ubisoft, como Farcry Primal -, que é muito bem-vinda ao jogo. Senu é indispensável em praticamente tudo que você pretende fazer em Assassin’s Creed Origins. Desde encontrar tesouros e pergaminhos (que são bastante divertidos de serem desvendados) a identificar posicionamento dos inimigos e as rotas que eles fazem, Senu é o seu braço direito e esquerdo durante boa parte do jogo. Além disso, para aumentar a percepção da ave e fazer com que Senu encontre as coisas mais facilmente, o jogo incentiva o jogador a sincronizar os locais existentes em cada canto do mapa. É uma espécie de recompensa para aqueles que, assim como eu, não aguentam ver um ponto não sincronizado no mapa.

Por falar em recompensa, é ela que move o sistema de progressão em Assassin’s Creed Origins. Bayek é recompensado a cada mínima ação realizada no mundo, desde a descoberta de pequenos vilarejos até a conclusão de missões. Os pontos conquistados são somados para que o protagonista consiga subir de nível e, assim, desbloquear habilidades que são inerentes a vida do futuro assassino, incrementando ações tanto em furtividade, combate, entre outros aspectos. O nível do personagem também influencia no tipo de equipamento que pode ser utilizado.

Enfim, ao final das quase 40 horas em que estive ao lado de Bayek e Aya, o saldo que restou é que a Ubisof acertou ao dar um respiro a franquia e de assimilar dentro de Assassin’s Creed Origins mecânicas utilizadas em outros de seus jogos, aliando elas a uma história cativante e que facilita a identificação com o jogador.

 

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Este review foi produzido com uma cópia de Xbox gentilmente cedida pela assessoria de imprensa da Ubisoft.

Assassin’s Creed Origins está disponível para PC, PS4 e Xbox One.

Rodrigo Gatti http://www.nerdinterior.com.br

Jornalista que não faz mais jornal. Nem é tão nerd, já que sabe até dançar. Lembra com avidez da época em que alugava De Volta para o Futuro nas famigeradas locadoras. Filho da era 16 bits, tem saudade do tempo em que sua maior preocupação era saber se o combustível do carro vermelho em Top Gear iria durar até o final da corrida. Hoje, seu maior problema é pagar contas com o salário de jornalista.

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