Review | Bad Boys Para Sempre

De uns anos pra cá, o cinema de ação meio que se limitou aos carros tunados de Velozes & Furiosos e suas inúmeras sequências. Muitos dos astros dos anos 80 e 90, época em que o gênero teve seu auge, retomaram seus papéis de outrora nos últimos anos – alguns até continuam apostando em voltas, como a dupla de Máquina Mortífera, Mel Gibson e Danny Glover, que anunciaram o quinto filme da franquia – mas a maioria parece não compreender o que o público de hoje quer ver.

Keanu Reeves foi um dos poucos, senão o único, que trouxe um fôlego ao gênero com John Wick. Do lado das mulheres, até Charlize Theron, em Atômica, soube inovar, mas astros como Arnold Schwarzenegger e Sylvester Stallone, em filmes como O Exterminador do Futuro: Destino Sombrio e Rambo: Até o Fim, não tiveram a mesma sorte.

Com isso, Will Smith e Martin Lawrence devem ter se entreolhado e se indagado em meio a tantos retornos: por que não retornar com Bad Boys? Eu realmente consigo vislumbrar a cena de um indignado Lawrence e um sonso Smith imaginando a possibilidade. O primeiro filme fora lançado em 1995 e dirigido por Michael Bay, um anos antes do sucesso Independence Day, que catapultou Will Smith em Hollywood, e o segundo viria apenas em 2003, praticamente enterrando quaisquer chances de uma trilogia – quatro anos depois, Bay iniciaria sua jornada no mundo dos Autobots e Decepticons.

Deixando Martin Lawrence de lado – o ator andava afastado dos filmes -, Will Smith e Michael Bay até tentaram alguma coisa esse ano. Smith naufragou com Projeto Gemini, que trouxe uma nova técnica que prometia revolucionar as sequências de ação, enquanto Bay, em parceria com a Netflix, lançou Esquadrão 6, protagonizado por Ryan Reynolds e Mélanie Laurent, estrelas da nova geração, entregando um filme típico de sua estirpe: muitas explosões, edição picotada, fiapo de trama e “piadas” que hoje em dia pouco funcionam.

Reconfortante

Diretores Adil El Arbi e Bilall Fallah

Por um lado, é até estranho não ver o nome de Michael Bay entre os produtores de Bad Boys Para Sempre. Por outro, é reconfortante saber que ele não está lá. A dupla de diretores, Adil El Arbi e Bilall Fallah, emulam bem o estilo megalomaníaco de Bay, entregando talvez o melhor filme de Michael Bay, sem Michael Bay, dos últimos anos.

Muitas das características dos filmes de Bay estão aqui – algumas em doses homeopáticas, é verdade – mas isso nunca soa como uma alteração na personalidade de Marcus Burnett (Lawrence) e Mike (Smith). Existe no longa uma consciência de que, em pleno 2020, é preciso se adaptar, embora o roteiro não consiga de livrar de alguns preconceitos étnicos que parecem impregnados no cinemão norte-americano.

Então, para os mais saudosistas e entusiastas do estilo Bay de se fazer cinema, ainda está tudo ali: da fotografia saturada aos estereótipos dos vilões. Aqui, mais uma vez, mexicanos – tal qual em Rambo: Até o Fim – e ainda ligando a Santa Muerte à bruxaria, o que com certeza poderá ser visto com maus olhos por alguns.

A história é rasa – e alguém esperava algo diferente disso? – com uma premissa de mocinhos contra vilões, bem novelão mexicano – os próprios personagens fazem piada disso. Dezessete anos após o segundo filme, os bad boys Mike Lowrey (Will Smith) e Marcus Burnett (Martin Lawrence) não tem mais o vigor físico dos velhos tempos, mesmo assim, devem se unir novamente, dessa vez ao lado de um grupo de jovens da nova geração e suas parafernálias eletrônicas, para uma última missão contra mercenários mexicanos liderados por uma bruxa (Kate del Castillo) com motivações bem pessoais.

Paola Núñez, Vanessa Hudgens, Alexander Ludwig e Charles Melton

Um dos maiores acertos deste Bad Boys Para Sempre é trazer sangue novo em diversos aspectos, da direção aos personagens. Não seria exagero ver os diretores El Arbi e Fallah ganhando mais oportunidades em Hollywood, ainda mais na era dos super-heróis, enquanto o grupo de operações especiais liderados por Rita (Paola Nuñez) – ainda que não seja nada inovador para o gênero: já vimos coisa parecida em 007 Contra GoldenEye – diverte por reunir facetas da geração atual, do nerd (Alexander Ludwig, de Vikings), ao piadista (Charles Melton), e até Vanessa Hudgens. Melhor ainda: eles nunca chegam a tomar atenção dos protagonistas, proporcionando um embate entre o novo – bem mais organizado e munido de tecnologia – contra o antigo – tudo feito às pressas, sem planejamento.

No geral, Bad Boys Para Sempre é o que o público quer ver: Lawrence e Smith correndo, atirando, apanhando e batendo em sequências de ação empolgantes e um humor que, finalmente, funciona sem ofender ninguém – ok, só um pouquinho -, emulando o estilo exagerado de Michael Bay com a consciência de que os tempos são outros. Ao final, o resultado é bem agradável.

Angelo Cordeiro

Paulistano do bairro de Interlagos e fanático por Fórmula 1. Cinéfilo com obsessão por listas e tops, já viram Alta Fidelidade? Exatamente, estilo Rob Gordon. Tem três cães: Johnny, Dee Dee e Joey, qualquer semelhança com os Ramones não é mera coincidência, afinal é amante do bom e velho rock'n'roll. Adora viajar, mas nunca viaja. Adora futebol, mas não joga. Adora Scarlett Johansson, mas ainda não se conhecem. Ainda.

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