Depois de uma ansiosa espera, a quarta temporada de Black Mirror, série que estava desgraçando a cabeça das pessoas na Netflix, chegou! Até a terceira temporada, a produção contava com episódios que traziam debates sobre a influência da tecnologia no mundo em que vivemos e extrapolava as consequências dela dentro dos capítulos, causando reflexão sobre o impacto deste avanço tecnológico na sociedade. Se você espera o mesmo nível de episódios nesta nova temporada, sinto te decepcionar, mas eles não estão ali, mesmo que ainda sejam escritos pela criativa mente de Charlie Brooker.
Novamente com seis episódios, o quarto ano da série incentiva menos a reflexão, com capítulos mais formulaicos, que mais parecem um filme, e que utilizam a tecnologia apenas como um mero plano de fundo para as ações que acontecem em cada um deles. Por se tratar de uma série antológica (em que cada capítulo é uma história fechada) é justo analisarmos brevemente cada um deles:
USS Callister
A temporada começa com o medíocre USS Callister, episódio que, de certa forma, satiriza e homenageia Star Trek. Nele, o engenheiro Robert Daly é um dos sócios da empresa de tecnologia Callister, mas se vê preso em um mundo em que seu talento é execrado e pouco reconhecido pelos colegas de empresa. Para isso, com a ajuda da tecnologia desenvolvida por ele mesmo, cria um mundo virtual em que encarna o capitão de uma nave interestelar e também desconta suas frustrações nos seus colegas, recriados digitalmente por meio de amostras de DNA.
Com potencial para explorar o comportamento humano quando se tem poder, USS Callister foca mais em uma narrativa de um filme escapista, com os personagens que estão presos a “realidade” criada por Daly tentando fugir dela à todo custo. Até temas como a gamificação ficam em segundo plano para que a história transcorra desta forma.
Arkangel
Dirigido pelo nome mais conhecido desta quarta temporada, Jodie Foster, Arkangel é uma boa história sobre uma mãe que, após quase perder sua filha em um parque, procura a empresa Arkangel e implanta um chip na cabeça da menina, que torna real o sonho de 101 em 100 pais e mães do mundo: saber de tudo o que acontece na vida dos filhos. Por meio de um tablet, a mãe consegue localizar onde a filha está, ver tudo o que ela vê e ainda por cima colocar filtros para imagens que sejam consideradas “mais fortes”.
Não demora muito para notarmos que o episódio explora de forma competente diversos temas como a privacidade, a alienação e o livre-arbítrio, levantando a questão do quão benéfico ou não é a super proteção parental, valorizada por muitos hoje em dia.
Crocodile
Talvez o pior episódio da quarta temporada, em Crocodile acompanhamos a saga de Mia Nolan, uma consagrada arquiteta que luta para esconder os erros do seu passado. Para isso, ela não mede escrúpulos para encobrir todos os rastros, mas uma investigação paralela da agente de seguros Shazia Akhand, que utiliza uma tecnologia que reproduz as memórias das pessoas, pode colocar tudo em risco.
Crocodile, em suma, não passa de um thriller de suspense. O episódio fica muito aquém do que Black Mirror pode entregar e desperdiça potencial explorando apenas o egoísmo da protagonista, que passa por cima de tudo e todos para não ter seu segredo revelado. Nada muito diferente de qualquer filme de orçamento médio que podemos ver por aí.
Hang the DJ
Se você assistiu a terceira temporada de Black Mirror, certamente se lembra de San Junipero, episódio que tinha como seu ponto forte o carisma da narrativa e suas personagens. Em Hang the DJ, a impressão que fica é de uma tentativa de reprodução. Nele, o relacionamento afetivo entre as pessoas é ditado por um aplicativo que cria encontros amorosos (cada um com uma duração específica). Logo no início um casal se identifica mutuamente, mas o encontro de apenas 12 horas não dá chance para algo a mais e eles são obrigados a passarem por vários outros relacionamentos para que o perfil do par ideal consiga ser traçado.
Quase como uma comédia romântica, Hang the DJ explora o mundo dos aplicativos de encontros e como a sociedade atual se molda a este tipo de comportamento. Com cenas leves e de bom humor, todas as nuances de um relacionamento e como nós nos adaptamos ou sobrevivemos neles são abordadas de forma competente o que faz de Hang the DJ estar entre os três melhores episódios da temporada.
Metalhead
Metalhead é lindo, isso não temos como negar. Todo em preto e branco, o episódio é um deleite para os olhos e tem uma das melhores fotografias da série toda. Pena que toda essa beleza não sustenta a história, que não difere muito de um filme de terror slash, aqueles típicos dos anos 80.
Ele se passa em um mundo pós-apocalíptico em que máquinas estão a caça da humanidade e acompanha a história de Bella, uma mulher que durante uma missão, acaba sendo emboscada por uma espécie de cachorro mecânico assassino e agora luta pela sua sobrevivência.
Black Museum
Felizmente, por fim, a quarta temporada de Black Mirror se encerra com seu melhor episódio. Em Black Museum, uma viajante para na estrada e visita o famoso museu que dá nome ao episódio. Lá dentro, guiada pelo proprietário do estabelecimento, ela conhece artefatos tecnológicos e as macabras histórias envolvendo cada um deles. Até conhecer a tão famosa atração principal que pode despertar o pior dos sentimentos humanos.
Black Museum é um antro de referências à própria série. Com muitos easter eggs, o episódio funciona como um tributo ao o que Black Mirror pode e deve ser. Nele, a cada artefato visitado, a protagonista conhece uma história e isso é bastante positivo para dar ritmo ao episódio. Cada um dos casos relatados pelo dono do museu possui sua importância para instigar o debate e contribui para um final aterrador que todo fã de Black Mirror sempre espera.
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