Review | Elementos (Pixar)

O que está acontecendo com a Pixar, perguntam-se os fãs de Toy Story, Procurando Nemo, Rattatouille, Wall-E e DivertidaMente? O contraste entre essas obras-primas com a produção recente fica mais evidenciada pela exibição do curta O Encontro de Carl, com personagens de Up – Altas Aventuras, antes de Elementos. A história do velhinho que decide fazer a jornada da vida após a morte da amada é muito melhor que qualquer produção recente do estúdio, incluindo a mais recente. Mas isso não torna o novo filme totalmente ruim.

Um dos problemas é de expectativa: ficamos mal acostumados. O segundo é o ponto de partida, uma cidade formada por seres de ar, terra, água e fogo, como uma metáfora de uma comunidade formada por gente de origens diferentes. Bom, por mais diversos que possamos ser, no final compartilhamos o mesmo DNA humano, e não é assim com esses quatro formadores do mundo segundo os gregos, aos quais Aristóteles acrescentaria a Quintessência. Zootopia, da Disney, usa uma metáfora semelhante, mas sem a comédia romântica que é o cerne de Elementos (e, de quebra, muito melhor executada enquanto roteiro).

A protagonista Faísca é filha de imigrantes que vieram de uma Terra do Fogo (não da Patagônia), com evidentes traços asiáticos, para se estabelecer nessa cidade inspirada em Nova York. É uma história baseada na família do próprio diretor Peter Sohn (que assina também O Bom Dinossauro, talvez o maior fracasso da Pixar), descendente de coreanos.

Assim, dentro do estereótipo nova-iorquino, o pai abre uma loja de bairro, que pretende passar para a filha quando de aposentar. É quando aparece o desajeitado Gota, um fiscal da prefeitura que é sugado pelo encanamento e que descobre diversas violações que vão leva ao fechamento do estabelecimento familiar. Aí começa aquela dinâmica clássica das comédias românticas, que é até bem desenvolvida.

Nesse mundo dividido, o foco é em Fogo e Água dos protagonistas, que parecem reproduzir mais características zodiacais (os seres aquosos são “manteiga derretidas” como cancerianos e Faisca é esquentada como uma ariana) que conceitos aristotélicos. A chefe de Gota, Névoa, tem algum destaque, mas os de Terra são praticamente cenário para piadas.

A animação é um caso à parte. São 151 mil cores contra 923 em Procurando Nemo, o que implica em uso muito maior de computação. A fluidez dos personagens, a textura e beleza da cidade é de cair o queixo, tudo valorizada pela música de Thomas Newman (Wall-E e Procurando Nemo).

Dá para se divertir? Sem dúvida, e é uma ótima pedida para crianças nas férias que já acabaram. Mas não chega perto das lágrimas vertidas em Viva – A Vida é uma Festa.

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