Review | Fragmentado

Quando M. Night Shyamalan surgiu para o mundo em Sexto Sentido (1999, ainda no século passado), chegou a ser enunciado como novo Spielberg. Seus filmes seguintes comprovaram sua assinatura mas tornaram o plot twist engenhoso numa obrigação.  Houve a chamada decadência com A Dama na Água e Fim dos Tempos, assumiu pela primeira vez um projeto que não era de sua autoria, O último Mestre do Ar (que não era ruim, apenas não era bom como o desenho animado original) e finalmente o desastre de Depois da Terra, cuja responsabilidade Shyamalan assumiu, embora grande parte do problema fosse Will Smith.

Com A Visita ele volta a se encarregar de roteiro, direção e produção, agora num orçamento muito menor, como um retorno aos tempos em que ele não era um dos nomes indianos mais conhecidos do planeta. Deu certo, o filme é o seu melhor em muito tempo, e animou a nova produtora Blum House a investir num projeto maior e mais ambicioso, que é Fragmentado. E já vou dizendo que é um dos imperdíveis da temporada.

James McAvoy (de X-Men: Primeira Classe, na atuação mais exuberante de sua carreira) sofre de transtorno dissociativo de personalidades (ou múltiplas personalidades), sequestra duas garotas mimadas de classe média dos subúrbios, Claire e Marcia (Haley Lu Richardson e Jessica Sula, ambas do seriado Recovery Road) e leva de troco a perturbada Casey (Anya Taylor-Joy, revelação de A Bruxa). Ao mesmo tempo, a terapeuta Karen Fletcher (Betty Buckley, que trabalhou com Shyamalan em Fim dos Tempos) recebe sinais preocupantes de seu paciente com múltiplas identidades e começa a desconfiar que tem algo muito errado com ele. Até aqui, nada de spoiler para quem viu os trailers.

Shyamalan exibe todos seu virtuosismo com a câmera, mas agora sobre um roteiro sólido e um elenco bem escalado, como há muito não acontecia em seus filmes. Ao final da trama, embora tenha ficado satisfeito, me incomodaram as pontas soltas. Mas aí vem o verdadeiro desfecho que explode na sua cara. Espero que não seja apenas um engana-trouxa e confirme o que sugere. Lembrando que os ambiciosos O Último Mestre do Ar e Depois da Terra foram tentativas frustradas de estabelecer franquias. Com o sucesso de público e crítica de Fragmentado e a confirmação de ao menos uma continuação, M. Night Shyamalan está perto de estabelecer um universo compartilhado com usa assinatura e nos seus termos. Aguardamos ansiosamente.

 

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Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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