Quando estreou em 2012 na HBO, Girls apresentou um diálogo franco entre a personagem Hannah Horvath e seus pais. No desabafo, Hannah manifestou seu interesse em ser escritora declarando que poderia ser a voz de sua geração. Seis temporadas depois, Hannah e sua interprete Lena Dunham podem se orgulhar do que fizeram.
Apesar do desejo pretensioso de sua criadora, Girls jamais foi uma série que ficou presa nessa ideia. Lena Dunham – munida de muito talento – foi moldando sua personagem com os acontecimentos mais marcantes da vida, do amadurecimento e descobertas de qualquer pessoa.
Vista a princípio como uma tentativa de ser uma nova Sex and the City, Girls não precisou de muitos episódios para se distanciar das comparações com a icônica série de Sarah Jessica Parker. Girls deve sua singularidade totalmente a Lena – apadrinhada por Judd Apatow – até então pouco conhecida atriz e escritora, que ao se misturar com a personagem acabou obtendo um resultado sincero, atual e divertido.
Lena foi a alma de Girls. Sem ter medo de se ridicularizar e se desnudar em frente às câmeras, ela apresentou situações comuns do dia a dia envolvendo as personagens e suas escolhas em meio ao complicado processo de descoberta e amadurecimento. As personagens criadas erraram muito, repetiram exaustivamente o mesmo erro, mas foram percebendo que não existe uma fórmula para se seguir. Cada uma das personagens foi se encontrando e descobrindo o seu espaço e importância para o outro.
O roteiro de Girls não recorria a reviravoltas manjadas usadas com frequências em outras séries para justificar mudanças na história e em personagens. A originalidade de Girls também pode ter sido o seu grande obstáculo, já que a fuga da narrativa clássica provavelmente fez com que alguns expectadores se assustassem e desistissem prematuramente da série.
Um olhar mais apurado permitiu que a série exibisse um registro contemporâneo das relações interpessoais cada vez mais complicadas hoje em dia. Sem medo de errar, foram retratados os mais diferentes tipos de relações, em destaque os relacionamentos amorosos que levaram a protagonista a explorar todas as facetas possíveis.
A sexta e última temporada continuou fazendo aquilo que sabia. Explorou os personagens, e definiu brevemente seus desfechos. A maior novidade se deu com a gravidez da protagonista que agitou os primeiros episódios e abalou as amizades.
Enquanto Hannah peregrinava com sua barriga cada vez mais em evidência, ao seu redor os outros personagens buscavam entender de que forma ainda eram relevantes para a situação. Hannah desfez os nós da relação com Adam (Adam Driver), esclareceu alguns maus entendidos com as amigas Jessa (Jemima Kirke) e Shoshanna (Zosia Mamet) e viu em Marnie (Allison Williams) uma inesperada companheira. Destaques na temporada, Andrew Rannells e Becky Ann Baker tiveram momentos inspirados e elevaram o nível dos diálogos.
Ousada e sem pudores, Girls conseguiu ao longo das temporadas abordar os mais variados temas – acertando na maioria deles – sem se preocupar com a opinião alheia ou nos críticos mais conservadores. A série pode se orgulhar de ter representado tão bem a geração atual em especial no que diz respeito às mulheres. E Lena Dunham pode sim se considerar o corpo e a voz de sua geração.
[wp-review id=””]
+ Ainda não há comentários
Add yours