Clichês não são necessariamente ruins, mas podem ser reciclados, alcançando um resultado agradável – e rentável. Infelizmente, diversas produções nacionais não compartilham desta visão e apostam em fórmulas batidas, temas que estão em alta e estrelas que, muitas vezes, não brilham o suficiente para carregar seu próprio filme. Gosto Se Discute, que estreia no Topázio Cinemas, comprova esta teoria.
Na trama, para conseguir desfrutar os prazeres da mesa do restaurante Gusto era necessário fazer reserva com muita antecedência, mas o refinado bistrô do chef Augusto (Cassio Gabus Mendes, de Confissões de Adolescente), antigamente frequentado por celebridades e apreciadores da alta gastronomia, parou no tempo e viu sua clientela desaparecer.
Quem chega para tirar Augusto do sossego e da estagnação é Cristina (Kéfera Buchmann, de É Fada), auditora enviada por um banco, investidor do restaurante, para resolver o assunto. A jovem chega dando ordens e promove uma revolução não só no negócio, mas também na vida do chef de cozinha, que também precisa lidar com outra novidade – o food truck de um chef rival, Patrick (Gabriel Godoy), que resolve se instalar bem na frente do Gusto.
Augusto, pressionado e no limite do estresse, perde o paladar justamente no momento de criar um novo cardápio, ponto crucial para virar o jogo. Para ajudá-lo, um médico (Paulo Miklos) muito peculiar surge com uma solução nada convencional.
Mesmo com problemas de enquadramento, as cenas que envolvem os preparos dos pratos devem agradar aos novos fãs de gastronomia e Cassio Gabus Mendes até convence como chef do Gusto. No entanto, é no roteiro que Gosto Se Discute acaba se perdendo. Escrito e dirigido por André Pellenz, das adaptações de Minha Mãe é uma Peça e Detetives do Prédio Azul para as telonas, o filme começa como comédia, passa para o romance e quando tudo parece voltado ao público adolescente, apresenta uma cena quente, ao estilo da franquia Cinquenta Tons, que parece “deslocada” dentro do projeto.
Kéfera faz o que se espera dela. Caras e bocas que compõem uma personagem que, de início, parece segura do que pretende fazer, mas que é surpreendida pelo destino e vê sua vida mudar. Enfim, seus fãs devem gostar. Mas é pouco para destacar mais uma entre tantas comédias do cinema nacional.
No salão do restaurante, o maitre é interpretado por Ronaldo Reis (o porteiro Severino de Detetives do Prédio Azul), enquanto Robson Nunes e Rodrigo Lopez dão vida aos garçons do restaurante, que garantem algumas risadas durante a projeção. No material de divulgação do filme, o diretor afirma que “a química perfeita entre os dois – uma atriz descoberta no YouTube e um ator consagrado – reflete o roteiro do filme, onde o que pode parecer um conflito de gerações na verdade se converte em força motriz”.
O filme perde a chance de explorar a disputa entre restaurantes e food trucks e se aprofundar no drama de um chef que perde o paladar para apostar em um romance pouco convincente e num ato final que envolve algum tipo de calmante com traços de alucinógeno para chegar a um final feliz. É exatamente uma força motriz que falta a Gosto Se Discute.
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