A A24 ficou conhecida nos últimos anos por trazer ótimos filmes de terror ao circuito, fazendo com que até um novo gênero fosse criado por aí, o tal “pós-horror”, nome que não faz o menor sentido. A Bruxa, Sombras da Vida, Ao Cair da Noite, February, Sala Verde e Sob a Pele são alguns desses exemplos. Ótimos filmes, geralmente com pegada existencialista, que nunca apelam para sustos fáceis, personagens com atitudes bobas ou alívios cômicos desnecessários.
Hereditário é mais um terror dessa safra que não apela para jump scares, a tensão que paira soturna naquela família e que, às vezes, explode, dá o tom deste show de horrores pouco expositivo nas duas primeiras partes do longa. E isso é um trunfo do diretor estreante em longas, Ari Aster. Apesar de algumas convenções (uma certa caixa, um certo livro), ele mostra apenas o necessário e leva sua trama com cuidado, deixando para colocar os pingos nos is apenas no terceiro ato.
Nas primeiras cenas somos apresentados aos Graham e à notícia de que a avó da família falecera, uma mulher reclusa, com suas convicções, as quais você entenderá e descobrirá com o desenrolar da história. Quando vamos conhecendo a família sentimos o peso de alguns, enquanto outros são decepcionantes.
A jovem Charlie (Milly Shapiro) se mostra uma personagem tão instigante quanto Regan (Millicent Simmonds) de Um Lugar Silencioso, porém uma cena chocante muda praticamente tudo que se esperava dela. Toni Collette (O Sexto Sentido) é a mãe dessa família e rouba o filme para si, os traumas de sua personagem transbordam nas cenas em que Collette dá o máximo de si, atuação grandiosa e visceral.
Quando vamos para o lado masculino o peso já não é o mesmo, as cenas com o pai (Gabriel Byrne de Os Suspeitos) e o filho Peter (Alex Wolff de Jumanji – Bem-Vindo à Selva) são decepcionantes. Wolff não possui a mesma entrega de Collette e é muito exigido, infelizmente não funciona como uma das peças centrais da história e o pai, de quem esperamos algo a todo instante, é irritante de tão apático.
A história toma rumos previsíveis, Aster não faz esforço para esconder o mistério, e isso nem acaba sendo o problema, o grande problema é que essa guinada do psicológico para algo mais “real” (para não entregar mais detalhes) deixa de lado o terror e apela para o gore e as risadas em momentos inoportunos.
Além disso, há muitas pegadinhas inseridas nas cenas de morte. Enquanto o terror psicológico sempre se deu bem com essas sugestões, Hereditário apela para elas de uma forma banal, mostra-se, mas volta atrás. No entanto, há de se destacar a direção de Aster, que se mostra competente com a câmera na mão e na utilização de simbolismos. Acaba que Hereditário funciona enquanto um exercício de estilo, há o lance com as casas e ambientes em miniatura que é interessante quando visto pela ótica de que há algo ou alguém que os observa. A câmera que viaja lentamente pelos corredores, como se fosse alguém desfilando, também é um elemento que tende a aumentar a tensão, mas é pouco quando os personagens são tão mal utilizados. A cena do jantar é fantástica, mas isolada no meio de tudo.
É uma pena que Aster não quis ir pelos mesmos caminhos de Ao Cair da Noite, mas é louvável quando Hollywood consegue trazer um ar de originalidade a um gênero que ela própria tanto machucou nas últimas décadas.
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