Mesmo com ótimos cineastas como Glauber Rocha, Fernando Meirelles, Cacá Diegues e outros que fizeram – e fazem – nosso cinema ser muito conhecido, volta e meia ouvimos aquela frase preconceituosa “filme nacional não presta” ou aquela dúvida “ih, é brasileiro?”. É natural que nosso cinema ainda engatinhe em gêneros como ficção científica, ação e terror, gêneros que precisam do investimento de grandes estúdios, coisa que não temos por aqui.
A animação é um gênero pouquíssimo explorado em terras tupiniquins, mesmo com o diretor Carlos Saldanha (A Era do Gelo 2 e Rio) tão conhecido lá fora, e com o recente sucesso de O Menino e o Mundo, ainda não existem grandes filmes do gênero que atraiam as pessoas ao cinema ou que façam muito dinheiro para que seja um mercado a ser investido.
Se a Pixar é o estúdio líder nesse segmento, com grandes produções ano a ano, que arrebatam prêmios e levam centenas de milhares aos cinemas, é até natural que certos elementos de suas animações sejam copiados em outros países, ainda mais no Brasil que tem tanta influência da cultura norte-americana, porém, será que isso é bom para uma animação brasileira?
Lino: o Filme, do diretor Rafael Ribas (codiretor em O Grilo Feliz e os Insetos Gigantes), conta a história do animador de festas infantis Lino (Selton Mello), que se veste com uma fantasia de gato e nunca teve muito sucesso na vida amorosa tampouco na carreira profissional. Ele odeia seu trabalho e o lugar onde mora, até que um dia resolve apelar e pede a ajuda de um guia espiritual para sair dessa situação. Claro, tudo dá errado e Lino se transforma em um gato gigante. Aparentemente tudo vai bem, as crianças o adoram, sua fantasia é elogiada por todos, mas quando ele percebe o que se tornou, tudo volta a ser como antes – ou pior – e uma perseguição da polícia, liderada pela policial Janine (Dira Paes), fará de sua vida um caos.
No início, toda a dificuldade de Lino com seu trabalho de animador de festas infantis, enquanto nem ele vê motivações para sorrir, é interessante devido à semelhança com O Palhaço, também com Selton Mello, mas obviamente aqui não havia espaço para algo tão dramático.
Os personagens são todos estereotipados, até mesmo Lino tem um desenvolvimento raso e um final que não condiz com seu próprio pensamento no início do filme, algo que as crianças não conseguirão ‘pegar’, dada sua pouca malícia ou experiência de vida, mas que qualquer adulto sabe que não funciona de maneira tão simples como retratado na animação.
Apesar do desenho gráfico, das feições dos personagens e do trabalho de animação serem ótimos, Lino peca em ‘americanizar’ demais o produto. Existem palavras em inglês a todo instante, desde o nome do jornal – Start News – até o emblema do carro da polícia – Police – acabam tirando um pouco da originalidade da obra e da identificação que uma criança poderia ter com esses elementos.
O humor é outro ponto extremamente fraco, talvez nem mesmo as crianças achem graça das piadas contadas – talvez só as de pum, no típico estilo Trapalhões. Poucas funcionam, na verdade, e vários momentos de humor parecem ter sido tirados de esquetes, pois surgem logo após alguma cena mais séria e estão lá só para fazer rir gratuitamente.
No mais, fica a impressão de que Lino: O Filme dificilmente irá agradar aos adultos, mas será que irá encantar as crianças? Talvez sim, mas por causa de Lino e sua fantasia de gato – e algumas piadas sonoras. Ainda é pouco.
[wp-review id=”6327″]
+ Ainda não há comentários
Add yours