Review | Metallica – 72 Seasons

Quem não conhece o Metallica? A banda, considerada a mais bem sucedida dentro do escopo mais pesado do rock, vem fazendo sucesso há cerca de 3 décadas, quando explodiu nos charts com o lançamento do Black Album.

Desde então, também se tornou notório o hate que o grupo sofre a cada lançamento. As críticas vão de encontro ao fato da banda ter se tornado comercial, a se arriscar por novas musicalidades, a se estagnar dentro de uma fórmula que a própria banda criou. Soa contraditório, não? Mas é exatamente isso: faça o que fizer, nada mais parece agradar o tiozão que curte a banda.

Eu não me incluo no grupo dos que acompanham com afinco o trabalho da banda – nem mesmo seus primórdios, quando ajudou a cunhar o thrash metal da bay area com os clássicos Kill’Em All e Master Of Puppets). Mas como fã de música pesada (rock pesado, meo!), não posso negar o quanto a contribuição do quarteto é fundamental para a história de seus diversos subgêneros.

Inclusive, é aí mesmo que reside o grande “problema”: os senhores de meia idade e coletinho cheio de patchs vivem esperando que a banda, gorda e rica, tenha a mesma voracidade de outrora e lance as bases para novos gêneros musicais em todo lançamento. E isso não vai acontecer, por uma série de motivos.

Prova disso é o mais recente trabalho do grupo, 72 Seasons. Com um mínimo de conhecimento da banda, você vai ouvir diversas ideias que já permearam trabalhos anteriores. Agora, vai de cada um entender isso como um ponto positivo ou negativo.

 

Vergonha de se copiar ou orgulho de reafirmar uma criação?

Metallica - 72 Seasons

Depois de buscar se arriscar por caminhos diferentes, dando uma refinada no som mais intrincado e veloz no álbum preto, procurando um lado meio country, hard rock, e com umas pitadinhas grunges na dobradinha Load/Reload, e daquela desventura pelo new metal com afinações mais baixas, ausência de solos e uma bateria de lata suvinil no St. Anger, o Metallica se mostrou bem arisco à mudanças.

Os últimos LPs da banda têm se caracterizado por alguns pontos pacíficos: duração mais longa, produção polida com timbres que buscam relembrar o trabalho dos anos 80/90, passagens que flertam com algo progressivo… tudo que já foi praticado, com mais ênfase, nos full lenghts citados há pouco.

É uma fórmula que a banda criou, desenvolveu e não tem vergonha alguma de usar. Agora, que não traz novidade alguma para o jogo – sequer para o próprio jogo da banda – isso também é fato.

Por mais que seja um direito adquirido esbanjar esse molde estabelecido por eles próprios, compreender a obra anterior da banda sempre nos leva a esperar algo a mais. E embora em muitos momentos durante as 12 longas faixas (apenas duas têm menos de 5 minutos de duração) os músicos tentem, fica só na tentativa. É um conceito semelhante ao de correr com o freio de mão puxado, como dizemos aqui no interior.

Num geral, o trabalho soa coeso, e mais do que isso: falta variedade. Com exceção da excelente “Inamorata“, das melhores aqui, há faixas excessivamente longas, riffs repetidos à exaustão, aquelas mesmas viradas de bateria que o Lars Ulrich (baterista) faz há algumas décadas… É quase como ouvir uma enorme faixa única, que em um ponto ou outro, muda na cadência, acelerando ou diminuindo um pouco a velocidade, que no geral, é mid paced.

 

Cansados. Como deveriam estar.

Tudo isso são sinais de uma banda cansada, que já atingiu o que queria e foi além. O que mais desejar na casa dos 50, 60 anos de idade, e com mais de 40 anos de banda?

Ainda há sim muito o que se aproveitar. Afinal, por mais formulaicos que soem, ainda são excelentes músicos – não à toa, uma das maiores bandas da história.

Embora a produção não seja das melhores (mais uma vez a cargo de Greg Fidelman, que não consegue capturar o espírito do melhor Hardwired…), e carregue os mesmos cacoetes das produções imediatamente anteriores, satisfaz.

As performances individuais seguem o bom padrão de sempre, valendo ressaltar alguns bons momentos das 6 cordas de Kirk Hammet e James Hetfield (também vocalista), em especial nas faixas mais pé no acelerador, como “Too Far Gone” e “Lux Æterna”.

Quem também aparece um pouco mais do que o comum é o visitante de luxo da banda, o baixista Robert Trujillo. Escondido em boa parte de sua passagem pela banda, tem alguns momentos mais nítidos em faixas como a abertura, que dá nome ao disco, e “Sleepwalk My Life Away”. Até de duas composições ele participou, vejam só!

Por fim, destaco a boa performance vocal de Hetfield, embora ele brilhe mesmo com o conteúdo lírico, que parte do interessante princípio das 72 estações do título, que equivalem a 18 anos de idade. Para James, que lidou recentemente com um divórcio e problemas constantes com o álcool, esse é o momento que nos molda para o resto de nossas vidas.

O lançamento de um álbum do Metallica é um evento, inegavelmente. E devemos apreciar, afinal, a banda não deve durar mais do que 10 anos, segundo os próprios integrantes. E, de fato, talvez seja a decisão mais acertada, pois até mesmo sentar-se em seu trono cansa. E isso já parece bem evidente. Até para um cara que acha todo o hate e as críticas que o Metallica recebe dos fãs bem desnecessários, como eu.

 

Metallica – 72 Seasons (14 de abril de 2023, Blackened Recordings)

  1. “72 Seasons”
  2. “Shadows Follow”
  3. “Screaming Suicide”
  4. “Sleepwalk My Life Away”
  5. “You Must Burn!”
  6. “Lux Æterna”
  7. “Crown of Barbed Wire”
  8. “Chasing Light”
  9. “If Darkness Had a Son”
  10. “Too Far Gone?”
  11. “Room of Mirrors”
  12. “Inamorata”
Alexandre Fernandes

Pai do Yuri Rafael, sou só um cara de meia idade que reclama bastante, mas não ao ponto de perder o bom humor. Nostalgia é meu sobrenome, e sim: gosto muito de cultura pop, filmes, séries, música, animes e mangás, videogames e tudo isso aí que faz um nerd. Mas não sou nerd, eu juro.

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