Review | No Ritmo da Vida

Na Autoimposição à Sociedade

Russel (Thomas Duplessie) é um jovem que encarna, toda noite numa boate, a drag queen Fishy Falters (codinome que explica bem a sua personalidade: Hesitante). No entanto, tal atividade não é bem vista pelo namorado advogado, levando ao término da relação.

Assim, o jovem performista resolve mudar de Toronto (Canadá) para a casa de sua avó Margaret (Cloris Leachman, vencedora do Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante em 1972 por A Última Sessão de Cinema), numa cidadezinha do interior, enquanto reflete sobre os rumos de sua vida. Assim começa No Ritmo da Vida, dirigido por Phil Connell, que também escreve o roteiro com Genevieve Scott.

Nesta pequena cidade do interior, Russel encontra uma senhora de idade bastante avançada, solitária e debilitada, e seu planejado período sabático acaba se estendendo, obrigando o jovem a se estabelecer no local e cuidar da casa.

Para tanto, encontra um emprego de drag queen em um bar LGBT, onde tenta desenvolver um relacionamento com outro rapaz. A situação parece finalmente fluir bem, até que a inesperada visita de sua mãe desencadeia novas contemplações sobre sua personalidade e seus objetivos de vida.

Jump, Darling

O título metafórico original do filme, Jump, Darling (Pule, Querido), entrega bem o direcionamento da jornada de autoaceitação do protagonista, cujo ciclo vicioso de erros cometidos precisa ser rompido, para que ele evolua.

As metáforas, aliás, encontram-se também na cena de abertura, com sua avó riscando um fósforo e, assim, levando luz à vida enevoada do neto (cena que faz um poético paralelo com a de encerramento) e na trilha sonora de músicas pop, com Scissor Sisters, Robyn, Years & Years, entre outros artistas do gênero, cujas letras narram o que personagens pensam e sentem.

O primeiro longa-metragem do diretor e roteirista Phil Connell é bastante competente, ainda que comedido, em todo sentido. Com planos intimistas nos rostos dos atores e uma fotografia de cores pálidas em tons pastel durante o dia – que dão lugar a cores mais vibrantes à noite, ainda que carregadas de muitas sombras – os recursos audiovisuais corroboram para uma narrativa que se aproxima mais de um público que visa conhecer e compreender melhor o universo drag, do que dessa comunidade já bem solidificada de artistas, que já lida muito bem consigo própria.

Ainda assim, é confortante assistir à conexão do neto com a avó (mesmo que de modo não tão emotivo e sim mais racional), gerações tão distantes, mas que se completam em um apoio mútuo, para firmarem seus lugares no mundo e suas vontades perante a sociedade, seja pela profissão do jovem, como pelos direitos da idosa.

Aliás, esse drama leve é dedicado a Cloris Leachman, que rouba a cena em muitos momentos. Falecida em 2021, aos 94 anos de idade, a atriz deixa um vasto legado a ser explorado, como a comédia Espanglês, com Adam Sandler, entre outros. Que muitas Fishy Falters se inspirem nela e também trilhem seus caminhos de sucesso!

* Com distribuição da A2 Filmes, o filme chegará aos cinemas de São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília, Vitória, Porto Alegre e Florianópolis.

 

Bruno Tiozo http://www.nerdinterior.com.br

Designer e acadêmico do Instituto de Artes de Campinas, propõe reflexão crítica no apreço às expressões poéticas das artes audiovisuais. Foca no Cinema ficcional, cujos filmes em mídias físicas coleciona como souvenir de universos visitados, de modo que as memórias na estante sirvam para inspirações constantes.

Leia também...

Mais deste Autor!

+ Ainda não há comentários

Add yours