Algumas vezes, boas ideias acabam não obtendo o resultado esperado nos cinemas. Muitos filmes apresentam grandes histórias, com enorme potencial, mas o resultado fica muito abaixo do esperado, deixando a incômoda sensação de que muita coisa poderia ser melhor explorada. É o que acontece em O Círculo.
Baseado no livro homônimo de Dave Eggers, O Círculo apresenta uma visão sobre o impacto das novas tecnologias na sociedade. Lida com questões presentes no dia a dia, como por exemplo, a falta de privacidade e como as pessoas preferem viver suas vidas de faz de conta nas redes sociais ao invés de encararem a vida real. A história parece bem oportunista para os dias de hoje.
A premissa do filme – e do livro em que se baseou – é promissora. Imagine poder ajudar as pessoas a tornar a vida delas a melhor possível. Na trama, a jovem Mae (Emma Watson) consegue um emprego no Círculo, conglomerado da internet que parece uma mistura entre Google e Facebook. A princípio a jovem parece estar no emprego dos sonhos, vendo novas amizades surgirem e sua família sendo ajudada, mas aos poucos, percebe que os planos do Círculo vão muito além de interligar pessoas ao redor do mundo.
Infelizmente a adaptação para o cinema – escrita pelo próprio Eggers em colaboração com o diretor James Ponsoldt – se mostra uma obra perdida, confusa, incoerente e inexpressiva, que não sabe exatamente sobre o que quer falar ou que mensagem quer passar. A falta de visão e rumo acaba tirando o impacto e a relevância que o filme deveria apresentar.
As ideias são apresentadas, sem haver nenhum desenvolvimento sobre elas. A falta de originalidade em algumas situações deixam o filme arrastado e a conclusão é bem simplista. Algumas ideias que funcionaram em 2013 – época do lançamento do livro – agora, quatro anos depois, já parecem ultrapassadas.
O elenco escalado é outro grande problema, não porque sejam ruins, mas pelo fato de serem desperdiçados. John Boyega (Star Wars – O Despertar da Força), Karen Gillan (Guardiões da Galáxia Vol. 2), Ellar Coltrane (Boyhood – Da Infância à Juventude) e Bill Paxton – morto em fevereiro deste ano – são figuras apáticas dentro da história e o roteiro não permite um melhor desenvolvimento de seus personagens.
Tom Hanks é apresentado como um coadjuvante de luxo, com um personagem ambíguo que nunca revela sua real intenção. Mocinho ou vilão, isso não fica claro. Mas talvez o grande incômodo do filme seja a presença de Emma Watson. A atriz que depois de Harry Potter esteve em boas produções como Bling Ring: A Gangue de Hollywood e As Vantagens de Ser Invisível, demonstrando grande talento e versatilidade, agora parece estar numa espiral de antipatia. Se em A Bela e a Fera ela quase colocou tudo a perder, em O Círculo não existem motivos para defendê-la. A atriz não apresenta carisma e quase nunca consegue fazer expressões faciais diferentes. Não existem motivos para torcer por sua personagem.
O Círculo surge num momento adequado, mas joga fora a oportunidade de usar sua história para realmente discutir temas relevantes na sociedade contemporânea. David Fincher retratou com muito mais verdade a atual geração em A Rede Social, e a tecnologia como tema já foi mais bem representada em qualquer episódio da série Black Mirror.
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