Em seu terceiro longa-metragem, Selton Mello conseguiu o que muito veterano nem chegou perto: alcançar a excelência. O Filme da Minha Vida é perfeito em sua execução, uma epifania rara no cinema brasileiro dos dias atuais e, arrisco dizer, já é um dos melhores do ano.
A história é baseada no livro Um Pai de Filme, do chileno Antonio Skármeta (autor do romance que deu origem a O Carteiro e o Poeta), e que faz uma participação especial como o velho que conta o sonho no bordel. Selton e seu co-roteirista Marcelo Vindicato transferiram a ação para a Serra Gaúcha, na fictícia cidadezinha de Remanso, por volta de 1963, cuja principal ligação com o mundo é a ferrovia, inclusive para ir à cidade maiorzinha mais próxima, Fronteira, que tem cinema e bordel.
O jovem Tony Terranova (Johnny Massaro, da novela A Regra do Jogo) retorna a Remanso após se formar professor, no mesmo dia em que seu pai, Nicolas (Vincent Cassel,de Doze homens e Outro Segredo, em seu terceiro trabalho no Brasil) resolve voltar para sua França natal, deixando o filho e sua mãe Sofia (Ondina Clais Castilho, de Meu Amigo Hindu). Tony assume uma cadeira na escola local, começa a se envolver com a bela Luna (Bruna Linzmeyer, da novela A Força do Querer) e passa o tempo conversando com o amigo da família Paco (Selton Mello, em grande atuação), um criador de porcos que tem opinião sobre tudo e todos.
Tudo se encaixa perfeitamente, da fotografia (belíssima) de Walter Carvalho, a escalação e direção de atores, diálogos (coisa rara no Brasil), direção de arte e principalmente, o ritmo. Sem a pressa do cinema de “déficit de atenção” que caracteriza a produção contemporânea, também não cai no “iranianismo” contemplativo. E isso faz uma diferença enorme.
O Filme da Minha Vida” evoca o Amarcord de Fellini, com a diferença de Selton nunca ter vivido aquela época, ao contrário do Mestre de Rimini, que revisita sua própria biografia naquela obra. A relação do cineasta brasileiro com o período é por meio das canções que compõem a bela trilha sonora e o cinema, quase um personagem. O western Rio Vermelho, de 1948, aqui tem uma função similar à de Os Brutos Também Amam, de 1953, em Logan.
Além de Skármeta, quem faz uma participação afetiva é Rolando Boldrin, mais conhecido pelo programa Bem Brasil, ausente do cinema durante todo este século e que no papel de maquinista remete a seu maior trabalho na telona, Doramundo (1978), de João Batista de Andrade.
No elenco também se destacam Bia Arantes – linda! – como Petra, irmã de Luna, e João Prates, como Augusto, irmão caçula das duas, um adolescente obcecado com a “zona”.
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