Review | Resident Evil 7: Biohazard

Na E3 de 2016, um jogo de terror em primeira pessoa, que até então todos conheciam apenas pela alcunha de Kitchen, nome de uma demo que já havia sido mostrada na E3 do ano anterior, surpreendeu quando, ao final da apresentação, surgiu o número sete em algarismos romanos que, logo depois, uniu-se às palavras Resident Evil, anunciando o mais novo título numerado da franquia criada pela Capcom em 1996.

Desde então, as opiniões se dividiam, mas pendiam mais para o lado daqueles que não gostaram da novidade, acusando a franquia de tentar se apoiar no sucesso de jogos de terror mais contemporâneos, como Outlast e Amnesia, perdendo assim, a sua identidade. Entretanto, outros menos radicais abriram a cabeça e entraram no modo “vamos pagar pra ver”.  Em janeiro de 2017, quando a Capcom finalmente lançou Resident Evil 7: Biohazard, a fatia do público que se deu melhor foram estes últimos, que aceitaram receber uma nova experiência na série e foram presenteados com um título que, desde o jogo de gato e rato de Resident Evil 3: Nemesis, é o mais Resident Evil de todos.

Em Resident Evil 7: Biohazard você encarna o protagonista Ethan Winters. Após ter a sua companheira, Mia Winters, dada como desaparecida em uma viagem a trabalho, Ethan recebe um e-mail de Mia, três anos depois, pedindo para que ele a pegasse na casa da família Baker, em Dulvey, na Louisiana. Com a notícia de que Mia está viva, Ethan parte em busca dela e encontra um cenário, digamos, não muito favorável.

A principal mudança – e a que mais causou discórdia entre os fãs da série – é a perspectiva de câmera, agora em primeira pessoa. Mas antes, um exercício de reflexão: se formos resgatar os jogos numerados da franquia, conseguimos enxergar um padrão. Do primeiro ao terceiro jogo, a câmera fixa no cenário predominava, do quarto ao sexto título, a ação tomou conta e a câmera passou para o ombro do personagem. Talvez este sétimo episódio essa seja a tentativa da Capcom de revitalizar a franquia, desgastada pela qualidade questionável dos últimos dois jogos (o 4 é bom, esqueça)?

Dada essa circunstância, é seguro afirmar que Resident Evil 7: Biohazard foi, senão o mais ousado capítulo da série até o momento. Uma franquia muito longa, como é o caso, tende a criar uma armadilha para si própria. Se optar por não se renovar, desgasta a fórmula – já que é difícil criar coisas novas em cima do que já foi virado e revirado. Se arriscar, pode dar um tiro no próprio pé. Não foi esse o caso.

A câmera em primeira pessoa é o maior trunfo do novo jogo. Aliada a poderosa edição de som (você vai se amedrontar mais com os rangidos e barulhos ao longe do que com qualquer coisa, acredite), ela ambienta a situação e resgata a imersão, atmosfera e tensão que todos tanto queriam desde os três primeiros jogos da franquia. Se você fizer um exercício de interpretação e imaginar Resident Evil 7: Biohazard com a câmera fixa nos cenários, você terá um Resident Evil clássico.

Todas as saudosas características do início da franquia estão lá. Munição escassa, poucos inimigos por vez, adversários que não largam do seu pé (oi Nemesis) e até mesmo a suspirante sala que eu sempre gostei de chamar de “sala do alívio”, com o baú mágico que transporta seus itens para os demais baús espalhados pelo jogo, um gravador em que você pode salvar seu progresso, uma música acalentadora e o principal de tudo, segurança.

Em contrapartida, Resident Evil 7: Biohazard não é um jogo perfeito e possui seus problemas. O primeiro deles é de ritmo. Enquanto os dois primeiros atos da história – principalmente as três primeiras horas – são carregados de tensão e te deixam na ponta da cadeira, o ato final é menos desesperador e opta por uma correria a fim de resolver as questões que o jogo pontuou até ali. Dosar a tensão no decorrer do jogo poderia ser uma aposta mais certeira, cadenciando a narrativa e impedindo muita gente de desistir nas primeiras horas, tamanho o temor depositado nos jogadores (sim, eu ouvi relatos de muita gente que não conseguiu passar das primeiras horas).

Além disso, apesar de ser o maior ponto positivo, a escolha da câmera em primeira pessoa ainda pode ser aprimorada para uma possível sequência ou novo título. Principalmente nas batalhas contra os chefes, a dinâmica atrapalha em algumas ocasiões (eu sempre mudava a sensibilidade da câmera tentando tornar alguns destes confrontos menos frustrantes).

No entanto, quando os créditos finais começam, a certeza é que a Capcom acertou ao se inspirar nos jogos de terror atuais mas mantendo a identidade da franquia preservada e conseguindo não ser um título genérico no gênero.

 

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Este review de Resident Evil 7: Biohazard foi feito por meio de uma cópia de review cedida pela Capcom ao Nerd Interior.

Rodrigo Gatti http://www.nerdinterior.com.br

Jornalista que não faz mais jornal. Nem é tão nerd, já que sabe até dançar. Lembra com avidez da época em que alugava De Volta para o Futuro nas famigeradas locadoras. Filho da era 16 bits, tem saudade do tempo em que sua maior preocupação era saber se o combustível do carro vermelho em Top Gear iria durar até o final da corrida. Hoje, seu maior problema é pagar contas com o salário de jornalista.

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