Biografias existem aos montes no cinema e já se tornaram praticamente um gênero. Algumas retratam apenas parte de uma vida, outras contam do início ao fim, outras dão uma visão intimista e pessoal, outras oferecem uma visão mais ampla, enfim, as biografias ainda são fortes e geralmente inspiradas em grandes nomes da história.
En Rodin, acompanhamos parte da vida de Auguste Rodin, escultor francês conhecido pelas obras O Pensador, Porta do Inferno, Balzac, entre outras, que viveu entre os séculos 19 e 20. O longa se inicia em meados de 1880, quando Rodin (Vincent Lindon, de O Valor de Um Homem) está no início da criação da obra Porta do Inferno e aceita a ajuda de sua aluna Camille Claudel (Izïa Higelin, de Samba), que mais tarde viria a se tornar sua amante.
Escrito e dirigido por Jacques Doillon (Ponette), o filme sofre de muitos problemas e se torna difícil, mas não por sua linguagem, e sim pelas mãos do diretor, mesmo talentosíssimo por detrás das câmeras. Retratando Rodin como um homem cercado por trabalho e mulheres, Doillon peca na passagem de tempo, cria um roteiro sem coesão e não dá a merecida importância às obras de Rodin – com destaque apenas para Balzac.
Já que mostra apenas parte da vida de Rodin, algo mais intimista seria inevitável, porém nunca nos tornamos parte da história e ela parece não sair do lugar. Seu grande problema é ser extremamente episódico, com saltos no tempo que deixam o espectador confuso. Não são dadas referências de quando certos fatos ocorrem, um estilo biográfico que foge do comercial, mas que dificulta o envolvimento com a trama.
Existe ainda um excesso no texto do filme, observado durante as cenas em que Rodin vaga por lugares inspiradores ou enquanto está a mexer na argila para esculpir suas obras. São diálogos demasiadamente poéticos e nada naturais, algo desnecessário e que torna o filme maçante. Belas cenas, mas cujo textos incomodam.
De positivo, a dupla de atores principais. Lindon consegue manter uma atuação imponente e eficaz, enquanto a ótima Izïa Higelin consegue mostrar seu talento ao encarnar Camille Claudel, a amante, ajudante, aluna e parceira de Rodin, tratada de maneira subalterna por seu mestre, e também por Doillon a certa altura. Vale a pena conhece-la mais assistindo ao filme Camille Claudel, de 1988, com Gérard Depardieu no elenco.
Algo que também incomoda um bocado é o foco exagerado no romance entre os dois. Claro, seria impossível falar de Rodin sem falar de Camille, e vice-versa, porém o filme abusa em mostrar o relacionamento de ambos enquanto deixa outros eventos de lado. Um claro exemplo são outros grandes artistas que conviveram na mesma época de Rodin – como Claude Monet e Paul Cézanne – e que são mostrados de forma passageira no filme, sem chamar muito a atenção.
Existe ainda outro ponto a ser destacado que é sobre o que o filme trata. Vemos Rodin em sua casa com sua esposa em pouquíssimos momentos. Com isso, o filme se torna mais um material de estudo para quem já conhece parte da vida de Rodin, pois o espectador pouco conhecerá do homem ao final do filme. A genialidade de Rodin ao criar suas esculturas foi deixada de lado e o longa acaba se tornando mais uma sucessão de fatos e eventos de sua vida, que são pouco desenvolvidos.
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