“Beleza não é tudo”, disse meu pai quando tive minha primeira decepção amorosa. Ou ele estava realmente sendo sincero sobre a tal da beleza interior ou foi um modo de falar para seu filho que não seguisse a carreira de modelo porque não daria muito sustento. A mensagem dada a mim ainda é um mistério, mas para Season After Fall, o recado é reto e preciso: beleza não é tudo!
Produzido pelo estúdio francês Swing Swing Submarine e publicado pela Focus Home Interactive, mesma distribuidora de The Surge, Seasons After Fall é uma modelo Victoria’s Secret que só sabe falar sobre creme para as mãos (analogia usada apenas para manter o assunto beleza em tópico).
No jogo, você dá vida a um espírito na forma de uma pequena semente que, para realizar um importante ritual envolvendo os guardiões da floresta, que representam as quatro estações (primavera, verão, outono e inverno), passa a controlar uma pobre e inocente raposa. Como uma mistura de metroidvania com jogos de plataforma baseados em puzzles, em Seasons After Fall você deve utilizar o poder que lhe é dado – alterar as estações do ano – para superar os desafios impostos. Cada estação do ano produz algo de diferente no cenário a sua volta, como o acúmulo de neve durante o inverno, que permite alcançar locais mais altos, por exemplo.
Como o assunto é beleza, não dá para negar que ela é estonteante em Seasons After Fall. Com traços que mais parecem uma pintura em tela, as cores utilizadas para representar as estações do ano surgem de forma natural na tela, trazendo a tona a qualidade e esmero que a equipe da Swing Swing Submarine teve com o tratamento do ambiente em que o jogo se passa. O filtro de cor utilizado em cada estação é certeiro e consegue representar muito bem cada uma delas.
Casando com o visual, a trilha sonora também merece destaque. Embalada com instrumentos de corda como violinos e violoncelos, a música entra no momento certo na descoberta de novas áreas ou em situações de puzzles. Ela é tão boa que é daquelas que você precisa comprar ou baixar a parte para apreciar separadamente.
Porém, os pontos positivos de Seasons After Fall acabam por aqui. Em contrapartida ao belo visual e à música encantadora, o jogo peca naquilo que mais deveria fornecer ao jogador: o desafio. Os puzzles ambientais, apesar de criativos, são pouco desafiadores e não exigem muito raciocínio. Conforme avançamos na história, as soluções de cada quebra cabeças que nos é apresentado tornam-se intuitivas e simples. Essas palavras, em outro contexto, seriam de teor positivo, mas não combinam com a proposta para um jogo de puzzles, cujos melhores exemplares são aqueles que primam por fazer o jogador pensar além do jogo. Aqui, por não serem exigentes, os puzzles acabam, em uma determinada hora, deixando o jogo enjoativo e enfadonho.
Além da falta de desafio, Seasons After Fall também vacila em seu game design. Com diversas áreas a serem exploradas (e que são, em sua maioria, labirínticas) não é difícil o jogador se perder e não fazer a mínima ideia de onde deve ir após conseguir desbloquear algum caminho. Isso porque, como se não bastasse o grande número de áreas, elas são muito parecidas e pouco distinguíveis entre si. Acredite, a sensação de você desvendar um puzzle, ver surgir na sua tela uma cena que mostra algum caminho se abrindo e você não fazer a mínima ideia de onde ele é não é das mais legais e animadoras para um jogo que propõe muita exploração.
No fiel da balança, Seasons After Fall é um belo exemplar de como a cena indie é capaz de criar jogos com artes únicas, especiais e que provam que videogames não são apenas gráficos ultrarrealistas, mas também é um exemplo do porque jogos diferem-se do cinema. Aqui, há a interatividade, e para ela se sobrepor, é preciso uma dose a mais de resposta do outro agente, aquele que está sentado no sofá com o controle nas mãos.
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Seasons After Fall foi lançado em setembro de 2016 para PC e recebeu versões para PS4 e Xbox One em maio deste ano. Este review foi produzido com uma versão digital do jogo para Xbox One cedida pela assessoria de imprensa.
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