Review | Sugar (Apple TV+)

Ao terminar a série Sugar, da Apple TV+, fiquei alguns minutos em dúvida se eu gostei ou não. É que o plot twist é tão surpreendente e sem noção que a pergunta se impõe: é besta ou bestial?

Em todo o caso, é uma das melhores coisas que Colin Farrell fez nos últimos tempos. Ele é John Sugar, um profissional especializado em encontrar pessoas, especialmente as que foram sequestradas ou coisa do gênero.

O prólogo no Japão – sensacional – já nos dá noção de suas capacidades e personalidade. Ele é chamado de volta aos Estados Unidos por um cliente poderoso, um ex-produtor de filmes, que ele como cinéfilo não consegue recusar.

As citações cinematográficas, aliás, são grande parte do charme da produção, com trechos de clássicos pontuando a narrativa, que segue o estilo film noir. Mas Sugar não é nenhum daddy (não resisti), não apenas se mantendo casto como Philip Marllowe (dos livros, porque no cinema ele foi vivido por Humphrey Bogart, que não viveu um minuto de castidade na vida), mas também avesso à violência (porque se ele apelar…), às armas de fogo e com um senso de retidão tão forte que até adota um cachorro que fica sem dono. Praticamente um fofo.

Em Los Angeles, ele encontra Ruby (Kirby Howell-Baptiste, de The Good Place), que além de prove-lo do que precisa para o trabalho, ainda é o contato com um misterioso grupo.

O tal produtor lendário é Jonathan Siegel (o veterano James Cromwell, de L.A. Cidade Proibida e Babe, O Porquinho Atrapalhado), cuja neta Olivia (Sydney Chandler, de Não Se Preocupe, Querida) desapareceu, para zero preocupação do pai, Bernie (Dennis Boutsikaris, de Better Call Saul e longa filmografia), e do irmão David (Nate Corddry, outra cara manjada por A Verdade Nua e Crua e tantos outros), ambos vivendo à sombra do patriarca.

A investigação o leva a encontrar Melanie Mathews (Amy Ryan, de participação memorável na segunda temporada de Only Murders in The Buiding), ex rockstar e de Bernie, uma das últimas pessoas a ver Olivia. A partir daí, a trama inclui feminicídio, tráfico de mulheres, mortes suspeitas no passado, assédio sexual, serial killer, mas nada nos prepara para a revelação envolvendo o próprio protagonista.

Como tudo o que a Apple TV+ tem feito, não há economia em elenco – que ainda inclui Miguel Sandoval (Medium) e Anna Gunn (Breaking Bad) em papéis menores – e valor de produção, tudo de primeira.

E há que se destacar a atuação de Farrell, um astro que andou em baixa e vem recuperando prestígio recentemente como Pinguim do último Batman (e de uma futura série própria) e Os Banshees de Inisherin, que lhe rendeu a única e merecida indicação ao Oscar.

Marcos Kimura http://www.nerdinterior.com.br

Marcos Kimura é jornalista cultural há 25 anos, mas aficionado de filmes e quadrinhos há muito mais tempo. Foi programador do Cineclube Oscarito, em São Paulo, e técnico de Cinema e Histórias em Quadrinhos na Oficina Cultural Oswald de Andrade, da Secretaria de Estado da Cultura.

Programa o Cineclube Indaiatuba, que funciona no Topázio Cinemas do Shopping Jaraguá duas vezes por mês.

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