A audição é importante. Muitos filósofos da vida dizem que o ser humano foi feito para ouvir, por isso “temos dois ouvidos e apenas uma boca”. E pode parecer estranho começar uma análise de um jogo falando sobre a importância e a capacidade de se ouvir. Mas acredite, isso nunca foi tão importante no mundo dos jogos como em The Evil Within 2, continuação do jogo de terror psicológico da Tango Gameworks que continua sob a tutela de produção de Shinki Mikami, o criador da série Resident Evil.
Novamente na pele de Sebastian Castellanos, você vive as agonias do ex detetive, três anos após os acontecimentos do Hospital Beacon, em The Evil Within. Afogado na bebida e na decepção por ter falhado em sua missão no primeiro jogo, Castellanos é confrontado com uma verdade que o faz voltar ao STEM (a simulação bizarramente controlada pela MOBIUS) a fim de consertar os erros do passado.
Passados dois parágrafos você pode estar se perguntando: “Mas que raios a audição tem a ver com The Evil Within 2?”. É que neste jogo, a diferença entre o seu sucesso e fracasso consiste em estar atento ao ser redor e ao o que acontece nele. O primeiro sinal de que as coisas não estão boas chega por meio do som. Todo o clima de tensão e terror psicológico a que o jogo expõe seu jogador vem por meio da ótima ambientação sonora provocada por tudo que está a sua volta e, mais ainda, pelas criaturas que estão procurando por você. O som de um gemido lento e gutural ao longe é o sinal para que Sebastian desacelere e comece a pensar em como abordar a situação que está por vir.
Desta vez, ao contrário do primeiro título, The Evil Within 2 incentiva o jogador a explorar o cenário de Union, cidade onde se passa o jogo e criada pelo STEM como um experimento de controle mental. Aqui, a narrativa linear do primeiro título dá lugar a um looping de gameplay que alterna entre locais abertos (mas contidos) e corredores mais guiados, onde a história tem mais chances de ser desenvolvida.
Mas é nas sessões abertas que The Evil Within 2 mostra a que veio. Nelas, o jogador pode sim, caso prefira, correr até o destino marcado no mapa, evitando os monstros e criaturas – que são algumas das poucas dicas de que aquele título possui alguma influência de Shinji Mikami, dada o design exótico e assustador de alguns deles. Porém, ao fazer isso, estamos optando por tornar a nossa jornada ainda mais difícil que o normal a cada corredor cheio de monstros enfrentados. Isso porque, como um jogo de sobrevivência que é, The Evil Within 2 não entrega pentes e mais pentes de balas e para que você tenha o mínimo necessário (bem mínimo mesmo), somos obrigados a explorar, principalmente estes seguimentos de Union que são nada mais do que ruas de um bairro com casas, estabelecimentos, hotéis e alguns refúgios em que o jogador pode tomar uma xícara de café (que regenera sua via automaticamente), evoluir armas – com os itens que você coletou em sua exploração – e adquirir novas habilidades para Sebastian, compradas com Gel Verde, item que os inimigos deixam no chão ao serem derrotados.
É aí que The Evil Within 2 quer que seu jogador tome uma decisão. Ao mesmo tempo em que ele incentiva a exploração, ele dá a devida importância também para o combate. Afinal, o Gel Verde é o único recurso existente no jogo que possibilita que Sebastian evolua como personagem. São diversas habilidades que incrementam atributos em âmbitos como a furtividade (como fazer menos barulho ao andar), combate (reduzindo a oscilação da mira), entre outros. Aliado ao sistema de progresso das armas, a árvore de habilidades é o fiel da balança que guia o jogador a explorar e combater no mesmo teor. Com isso, The Evil Within 2 ganha, e muito, em ritmo de jogo.
O que também ajuda o ritmo em que tudo acontece em sua tela é que Sebastian é um bom protagonista. Rabugento e sarcástico, ele personifica a incredulidade de tudo aquilo que o jogador vê em tela e, ao mesmo tempo, é indiferente a muitas das outras coisas que acontecem. Sebastian deixa claro que, a todo momento, ele está no STEM em razão de somente uma coisa muito importante em sua vida e segue firme neste propósito até o final.
Ao lado de Sebastian está outro bom personagem, Stefano. O fotógrafo lunático é um dos vilões da história e seus devaneios em forma de “obras de arte” (ele mata pessoas e as coloca em uma espécie de looping temporal, fazendo-as reviver a todo instante o momento da morte) dão o toque artístico à história e ao cenário. Pena que a luta contra ele é anticlímax e com um pico de dificuldade elevado. Stéfano é rápido e se teletransporta, o que destoa um pouco de todo o cuidado exigido do jogador até ali. A mecânica imprecisa de tiro contribui para deixar tudo mais difícil também.
Mas, por sorte, The Evil Within 2 não é um jogo sobre tiros.
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Este review foi produzido com uma cópia de Xbox One cedida pela assessoria de imprensa da Bethesda no Brasil.
The Evil Within 2 está disponível para PC, PS4 e Xbox One.
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