Desde os tempos áureos da MTV – onde se revelou – Tatá Werneck faz parte hoje do seleto primeiro time de atores comediantes mais populares do país. Ao lado de Paulo Gustavo, Ingrid Guimarães e Fabio Porchat, Tatá é uma estrela em ascensão, conseguindo destaque em tudo o que faz, sendo sucesso na televisão protagonizando novelas e apresentando programas. Tatá agora busca o reconhecimento nos cinemas ao protagonizar sua primeira produção, que usa a popularidade da atriz para tentar levar milhões de espectadores aos cinemas, coisa que seus colegas conseguem fazer muito bem.
Mas diferentemente dos reis das bilheterias nacionais citados acima, Tatá escolheu um projeto diferente, mais desafiador, algo que não recorresse facilmente aos artifícios mais conhecidos para arrancar risos fáceis. Tatá quer fazer sucesso com um material mais consistente, menos apelativo e pode encontrar justamente por isso uma plateia mais arredia.
Enquanto as maiorias das comédias nacionais conseguem sucesso pelo exagero e muitas vezes pela caricatura, TOC segue um caminho oposto. Mesmo sendo vendido como uma comédia, o filme está mais para uma dramédia do que para qualquer outra coisa. Os risos não vão aparecer facilmente, e os muitos temas abordados não dão margem para diversão.
O longa acompanha a vida da atriz Kika K. (Tatá Werneck), que está atingindo o auge de sua fama, sonha em conseguir o papel principal na próxima novela das 8 e acabou de lançar um livro escrito por um ghost writer, situação que a incomoda muito. Com uma agente gananciosa (Vera Holtz), um namorado galã de novelas (Bruno Gagliasso) e muitos fãs, incluindo um stalker, Kika parece ter uma vida perfeita, mas seus problemas pessoais tornam sua vida o completo oposto do que aparenta ser.
O filme surpreende na elaborada e absurda sequência de abertura. Recorrendo a uma paisagem apocalíptica, muitos espectadores podem achar que estão assistindo ao filme errado. Impressão essa que passa logo depois com Tatá protagonizando dentro de um avião uma sequência bem divertida. Mas não se engane, o longa logo assume uma característica mais séria na medida em que a trama avança.
O maior problema de TOC é a falta de ritmo. Tatá é uma metralhadora de palavras e expressão corporal e a edição do longa parece não acompanhar seu timing cômico. Talvez por não conseguir definir que rumo tomar, a produção peca ao não saber dosar o humor com o drama, a transição desses dois gêneros nem sempre funciona. Não vai demorar para que a plateia comece a perceber que o filme pode não ser aquilo que eles esperavam.
Se o filme não funciona como uma comédia, pelo menos aborda questões atuais. A ansiedade, a depressão e a falsa felicidade que acompanham a protagonista fazem sentido, mas é justamente o TOC – descrito no título do filme – que mais incomoda. A doença não é em momento algum abordada como algo importante para a história. Talvez pensando em não ofender ninguém, o tema fica quase esquecido.
O que se destaca mesmo é a tiração de sarro do próprio universo cinematográfico e da vida dos famosos. O filme consegue fazer uma crítica ao extremismo desses profissionais, onde muitas vezes vale mais a pena levar uma vida falsa em busca de fama e reconhecimento do que a felicidade em si. Em contraponto a todo este glamour e fingimento, surge a figura comum do atendente Vladimir (Daniel Furlan), que acompanha Kika em sua de crise de identidade.
A trilha sonora tem Claudinho e Buchecha, Banda Eva e uma incrível sequência ao som de Ouro de Tolo, de Raul Seixas. Todas as músicas encontram cenas adequadas, resumindo bem a proposta do longa.
Se Tatá Werneck consegue ser sempre simpática, mesmo lidando com temas pesados, o elenco também consegue se destacar – sem trocadilhos – a altura da estrela. Vera Holtz e Bruno Gagliasso são queridos pelo público e aproveitam para fazer algo bem diferente daquilo que apresentam nas novelas. Repare na desinibição de Bruno, um retrato bem comum dos homens de hoje em dia.
Citada várias vezes no filme, Ingrid Guimarães poderia ter um espaço maior, funcionando bem como antagonista, mas talvez por medo de camuflar a estrela do filme ela participa de poucas sequências, numa delas um embate direto muito divertido.
Num cenário onde muitas vezes as pessoas vão ao cinema buscar risos fáceis, TOC talvez realmente não agrade a todos. O filme tem uma proposta e a segue até o fim, passando uma importante mensagem. Sinal de que Tatá não se contenta com pouca coisa e sabe respeitar seu público mostrando que todos têm capacidade de compreender e apreciar uma trama mais elaborada e que dialogue com todos.
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