Review – Vice Principals (1ª Temporada – Episódios 1 a 3)

Dois vice diretores, há alguns anos nessa posição hierárquica, veem sua chance de ascensão ao cargo máximo da escola quando o diretor se aposenta. Anos sonhando com essa oportunidade, que vai por água abaixo quando é enviada para lá uma nova diretora. A partir de então, os dois – que nunca foram muito próximos – terão que unir forças para tentar derrubar sua nova inimiga do cargo, e então voltarem a sonhar. E esse é o plot básico de Vice Principals, nova série cômica da HBO.

Não espere dessa aqui uma série que vai te arrancar gargalhadas fáceis e bobas, como talvez a sinopse possa te levar a crer. Esse trabalho de Danny McBride (que também atua na série) e Jody Hill (que são a dupla por trás de outra comédia, Eastbound & Down) é incômodo: vai te tirar risadas, mas a maioria são causadas por situações que causariam vergonha, que demonstram e deixam bem claro o quão patéticos são aqueles personagens. Não entenda isso como uma crítica, muito pelo contrário: são personagens que beiram o caricato, que em outras mãos poderiam ser apenas um pastelão, mas que graças ao próprio McBride (Neil Gamby) e ao afetadíssimo Walton Goggins (Lee Russell) conseguem se tornar quase heróis e nos vemos torcendo por eles, mesmo sendo figuras tão erradas.

vice-principals-pic
Novos episódios de 30 minutos todo domingo, na HBO

Gamby é o perdedor em essência: alguém que tenta impor o respeito por meio de uma falsa pose de homem duro, severo, daquele diretor que grita com os alunos e que sonha ser temido por eles – mas que na verdade é motivo constante de chacota. Russell é uma figura ambígua, praticamente uma “cobra”: faz de tudo para agradar as pessoas, tem um jeito sereno de falar, gentil, mas que pode fazer coisas bem horríveis pelas costas dessas mesmas pessoas em busca de seus objetivos – vemos isso um pouco mais claramente no segundo episódio.

No quesito personagens, a série se segura muito bem. Quanto ao roteiro, tenho visto uma melhora nele – que tem se aprofundado mais em Gamby e seus dilemas, por enquanto. Ele tem uma filha, sob a qual tenta impor respeito por meio de seu jeito rústico de ver o mundo – e tal qual acontece com os alunos, o resultado nunca dá certo. Tem também sua ex-esposa e o marido dela, do qual surgem algumas situações e diálogos dos mais engraçados.

O primeiro episódio da série tratou de apresentar a situação toda, os personagens e tudo mais – contando inclusive com a participação de Bill Murray como o diretor aposentado.

No segundo capítulo, pudemos perceber o que se esconde por trás daquela serenidade toda no olhar e jeito de falar do personagem Lee Russell – alguém que [SPOILER] pode cuspir no chá que aparenta levar com tanto carinho para sua sogra coreana, bem como sugerir uma visitinha à casa da nova diretora, incitar uma depredação do local (em uma cena hilária), e iniciar até mesmo um incêndio criminoso, que pasmem, destruiu a casa dela [SPOILER].

E no mais atual episódio, nos aprofundamos mais na vida pessoal de Gamby e sua tentativa fracassada de se impor perante os professores de sua escola que, para não soarem diferente do restante, também o escarnecem. Além de uma tentativa não muito sucedida de engatar um romance. Um episódio muito bom, que vai demonstrando uma crescente de qualidade constante na série.

Neil Gamby e Lee Russel: aliados por motivos em comum
Neil Gamby e Lee Russel: aliados por um motivo em comum

Vice Principals tem sido uma grata surpresa. Uma comédia que foge um pouco do comum, mas que ainda assim parece que pode apresentar mais – o humor negro da série, o mais satírico e ácido parece estar sempre resguardado. Dá sinais de que vai engrenar, mas volta um passo atrás.

A série está apenas no começo, mas já tem prazo de vida determinado – serão duas temporadas com oito episódios cada. Que não se torne delimitado também até onde a série pode ir, e que busque ultrapassar os limites que parece ter imposto para si própria, pois potencial há – e bastante.

Alexandre Fernandes

Pai do Yuri Rafael, sou só um cara de meia idade que reclama bastante, mas não ao ponto de perder o bom humor. Nostalgia é meu sobrenome, e sim: gosto muito de cultura pop, filmes, séries, música, animes e mangás, videogames e tudo isso aí que faz um nerd. Mas não sou nerd, eu juro.

Leia também...

Mais deste Autor!

+ Ainda não há comentários

Add yours