Review | Wells

É notório que a indústria de desenvolvimento de jogos no Brasil vem crescendo nos últimos anos. São inúmeros os exemplos de estúdios nacionais e também de profissionais brasileiros desta indústria tentando angariar o seu espaço. Jogos como Knights of Pen and Paper, Horizon Chase e Chroma Squad são alguns dos exemplares de títulos brasileiros que conquistaram este lugarzinho na indústria e servem também como incentivo para que novas produções aconteçam. Wells, da Tower Up Studios é uma delas.

Wells nasceu de um trabalho de conclusão de curso da PUC-Minas e, com o feedback positivo, foi ganhando terreno no mercado, chegando a conquistar um terceiro lugar na Imagine Cup de 2014, competição mundial de criatividade e tecnologia da Microsoft. Dali para seu lançamento para PC e Xbox One foi um pulo. Inspirado em jogos como Contra e Metal Slug, Wells é um Run and Gun 3D com temática steampunk que te coloca na pele de George Wells, um renomado contrabandista da grande cidade de Percepolis no princípio do novo século que usará todas as suas habilidades para acertar as contas com os clientes que tentaram matá-lo.

Com a premissa de relembrar os frenéticos e já citados jogos acima, que fizeram muito sucesso nas décadas de 80 e 90, Wells acerta logo na simplicidade da sua jogabilidade e mecânica. Aqui não há segredo. Você atira com um gatilho do controle, troca de arma com outro e mira com o analógico direito, sem a necessidade de segurar outro gatilho para mirar, o que já ajuda um bocado em situações mais tensas (não é Rise & Shine?). Além disso, o recarregamento automático de munição faz com que você tenha uma coisa a menos para se preocupar.

Com ambientação e arte steampunk, Wells possui muitos cenários industriais e que abusam da altura (um das fases é notoriamente inspirada na Columbia de Bioshock Infinite) e toma proveito disso verticalizando o uso dos cenários durante as fases. Se pendurando em cordas, o personagem transita entre o primeiro e segundo plano da tela frequentemente (principalmente após a primeira metade do jogo) e essa dinâmica traz longevidade às fases, evitando que o jogador fique cansado de somente andar para a direita (apesar de que você continue fazendo isso, invariavelmente).

Mas se você leu Contra e Metal Slug lá em cima e pensou “Ah não! De frustração já basta a minha vida!”, pode repensar essa sua vida aí. Wells não é difícil. Mas também não é mamata. A curva de dificuldade do jogo é decente e te desafia na medida certa. Você nota, conforme o título avança (e vai ficando mais difícil) o quão perto do final dele você está. Os obstáculos aparecem gradualmente e caminham juntos com o surgimento de novas armas, que são disponibilizadas na altura correta do jogo, não deixando um determinado trecho maçante demais. Ah, uma característica muito legal de uma das armas é que os tiros ricocheteiam, te ajudando a alcançar inimigos que parecem inalcançáveis.

Por falar em maçante, essa é uma característica que, infelizmente, a trilha sonora do jogo não consegue fugir. Pouco inspirada, a música é repetitiva e bastante genérica, o que a torna cansativa e irrelevante durante seu progresso na história. Além disso, não possui personalidade e identificação com a arte steampunk do título.

Além disso, sendo um Run and Gun já se esperava que Wells não se importasse tanto em contar uma história para o jogador, mas não precisava se importar tão pouco assim. Com exceção de uma animação no início do jogo, que pouco explica a trama, Wells não te dá mais nada. A sinopse que você leu no início deste review só foi possível de ser feita copiando do site oficial. No jogo, você sai atirando em tudo e todos, mas só não sabe direito os motivos de fazer isso.

Wells peca em algumas coisas básicas para um jogo puramente baseado em mecânica. Por exemplo, apesar de parecer óbvio, só fui descobrir que seu personagem pode atirar agachado quando estava morrendo para o segundo chefe do jogo, que me obrigava a ficar agachado para não sofrer dano. Até ali, as fases não me obrigaram a realizar tal ação para eu saber que o personagem tinha essa possibilidade durante o combate. E a mais frustrante de todas: o jogo não pausa automaticamente quando as pilhas de seu controle acabam (no caso do Xbox One). Em um jogo que possui sistema de ranqueamento de desempenho (quanto mais mortes, pior a sua nota ao final da fase), isso é uma falha grande.

 

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Este review foi produzido com uma cópia de Xbox One cedida pela Tower Up Studios. Wells está disponível para PC e Xbox One.

 

Rodrigo Gatti http://www.nerdinterior.com.br

Jornalista que não faz mais jornal. Nem é tão nerd, já que sabe até dançar. Lembra com avidez da época em que alugava De Volta para o Futuro nas famigeradas locadoras. Filho da era 16 bits, tem saudade do tempo em que sua maior preocupação era saber se o combustível do carro vermelho em Top Gear iria durar até o final da corrida. Hoje, seu maior problema é pagar contas com o salário de jornalista.

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