O filme russo Sem Amor, indicado ao Oscar de filme estrangeiro, trata de um assunto bastante delicado: a falta de amor de dois pais para com um filho – mas não só isso, sua crítica a uma sociedade, característica do diretor Andrey Zvyagintsev.
Boris (Aleksey Rozin, de Leviatã) e Zhenya (Maryana Spivak) possuem casos extraconjugais e estão em processo de divórcio, o ódio entre eles é declarado. Suas conversas deixam bem claro o fardo que carregam, o que faz com que o filho fuja de casa depois de uma briga, e a partir daí o filme se desenvolve sorrateiramente, exigindo paciência do espectador.
O cinema russo – nesse caso especificamente o cinema de Andrey Zvyagintsev – não é fácil. A sociedade russa é fria por natureza e o diretor reflete isso em Sem Amor (da próxima vez vou chamar de Loveless). Em Leviatã, seu filme anterior, que também concorrera ao Oscar estrangeiro, Zvyagintsev traz uma trama sobre corrupção e a usa de alegoria para criticar seu país e seu povo. E em Loveless isso não é diferente.
Zvyagintsev não facilita para o espectador, ao usar um ritmo arrastado, uma fotografia escura e fria (não só nas cores, mas também na paisagem) e personagens levados como detestáveis desde o início – sim, é maniqueísta.
Lembra um bocado o iraniano A Separação, de Asghar Farhadi, em alguns pontos. Enquanto aquele casal é forçado a se separar por divergência de ideias, mesmo que ainda se gostem, neste aqui o casal encara o divórcio como um alívio, já que não se suportam mais. Ambos casais possuem um filho, e se em A Separação a filha funciona como ponto chave para os instantes finais, neste aqui o filho funciona como ponto chave nos minutos iniciais. Dois filmes desenvolvidos de maneiras diferentes, mas com algumas semelhanças, principalmente nas críticas feitas às culturas e sociedades em que se situam, algo que o Oscar adora.
Zvyagintsev é cuidadoso e alegórico ao mostrar paisagens – desde um galho seco à neve – que remetem a toda frieza dos pais de Alyosha (Matvey Novikov) e também em takes mais sofisticados, ora em um reflexo de espelho, ora em uma mesa de depilação, sempre mostrando como eles próprios são pessoas sem amor, sozinhas e vazias.
Não é um filme fácil de ser assistido, não só pelo ritmo, mas também por seus personagens, se Zvyagintsev abusasse menos do maniqueísmo na construção deles seria perfeito. Ainda assim, Loveless é um ótimo filme e forte candidato ao Oscar de melhor filme estrangeiro.
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